“Absurdo, ridículo, né?!”, lamenta Túlio Mourão, ao criticar a si próprio por uma ausência de cinco décadas em discos, só agora reparada. Amigo e “professor” dos tempos do Clube da Esquina, Toninho Horta é o convidado de gala de “Barraco Barroco”, álbum que o compositor e pianista lançará hoje, às 20h, na plataforma do festival Tudo é Jazz.

 
“Não tinha o Toninho em minha discografia e precisava resolver este caso com urgência”, registra Mourão, que escolheu “Céu de Cacos de Vidro” para homenagear o amigo e a capital mineira. Ele lembra que tinha uma dívida de gratidão com Horta, que era o mais preparado musicalmente entre os garotos do Clube da Esquina.


“Toninho dava teoria de música, na casa dele, para mim, para o Lô (Borges) e para o Beto (Guedes). A gente ia lá de tarde e o Toninho fazia um pentagrama no quadro. Ele é de uma generosidade incrível”, lembra Mourão, que iniciou na música após se encontrar com aqueles garotos num festival em Belo Horizonte, ocorrido em 1969.

No ano seguinte, já havia começado uma atividade ligada à música junto com o pessoal”, recorda. Mourão veio de Divinópolis para BH fazer o curso científico e se preparar para o vestibular. Passou em arquitetura, mas abandonou a faculdade após dois períodos. “O encontro foi tão forte que tranquei o curso e fui para o Rio estudar música”.

Além do Clube da Esquina, “Barraco Barroco” faz referências a outras fases do compositor, que está completando 50 anos de carreira. “Com uma data dessas, é inevitável olhar para trás e fazer a contabilidade de acertos, tentativas, recuos, experiências e aprendizados. Para este disco, busquei coisas que tiveram força de motivação na minha vida”, assinala.

A parte compositor de trilha sonora também está presente. O namoro com as músicas de filmes começou na infância, ainda em Divinópolis. A música “A Lenda da Montanha de Cristal”, escrita por Nino Rota para o filme homônimo de 1960. “É uma música instrumental maravilhosa que servia, na época, de prefixo para o cinema Divinópolis”.

O disco do filme, aliás, foi o primeiro que o então garoto ganhou. “Era de cera e quebrou com uma semana”, diverte-se. A música instrumental, lembra Mourão, era muito popular na década de 1960, tocada em rádios e festas. “Não era uma coisa elitista, difícil ou erudita. Era simples, com melodias cativantes”, conta.

O compositor explica que escolheu o termo “barraco” para o título como forma de mostrar o momento do país, recheado de muito antagonismo. “Isso casa com o barroco, que tem entre suas características a oposição entre claro e escuro, a dramaticidade e o movimento. Os fatos que estamos vivendo têm tudo de barroco, a partir do exagero e do inacreditável”.