Para além de ser um referência em conferir uma identidade brasileira a diferentes vertentes do metal, a Sepultura também possui uma grande força dentro da música nacional por estar em constante atividade, com uma média de aproximadamente quatro discos por década desde os anos 1980. O último álbum do grupo,  Quadra, foi lançado ainda no começo de 2020 e o início de sua divulgação estava preparado, com uma turnê pelos Estados Unidos e Europa. Porém veio a pandemia para derrubar os planos. 

Mas a história mostra que dificilmente a banda consegue ficar muito tempo parada, prova disso é o projeto SepulQuarta, realizado entre abril e dezembro do ano passado, que trouxe vídeos com  bate-papos e um passeio por grandes canções de sua história, contando com a presença de renomados músicos internacionais e brasileiros como convidados para as tocarem juntos à banda. Das 28 músicas gravadas, 15 foram selecionadas para fazer parte do disco de mesmo nome do projeto, lançado nesta quarta-feira nas principais plataformas digitais e em versões físicas, em CD e vinil. 


O álbum reúne clássicos ainda da época dos irmãos Cavalera na banda, como Ratamahatta, Territory e Slave New World, mas também suas produções mais recentes, incluindo o disco que teve sua turnê cancelada, que teve sua Fear, Pain, Chaos, Suffering entrando nessa curadoria. Mas o que de fato chama atenção no SepulQuarta é a variedade de músicos que se juntam à banda e como seus estilos se encaixam tão bem às propostas do Sepultura, demonstrando o caráter único de versatilidade e identidade da banda.  


“Isso faz parte do DNA da Sepultura, de conseguir unir e sempre trazer vários convidados diferentes. Não podemos ser classificados como uma banda de trash ou death metal, somos uma coisa única, um estilo único. E com isso a gente deixa explícito quanto é importante quebrar essas barreiras de estilo, a gente unir o meio. A música é uma só e ela precisa ser celebrada”, elabora o baterista Eloy Casagrande, o caçula do grupo, mas que também completa 10 anos de Sepultura neste ano.
 

Dentro do repertório, cabem nomes como Phil Campbell, guitarrista da lendária Motörhead - banda que, por sinal, teve em uma de suas músicas a inspiração para o nome Sepultura -, ou um Scott Ian da Antrhax, mas também comporta o ex-Titãs Charles Gavin e o Paralamas do Sucesso João Barone, assim como novas vozes, como Emmily Barreto, da potiguar Far From Alaska. Eles se somam à tradição de trabalhos em parceira que a Sepultura acumula em suas décadas de existência, como já se foi feito com outros artistas do porte de Zé Ramalho, Nação Zumbi e Steve Vai. 


Mesmo com essa longa trajetória, o SepulQuarta é um álbum único na história da banda justamente pelo seu modo de produção imposto pela pandemia. Cada um gravando em sua casa, incluindo os convidados, foi o verdadeiro desafio do projeto, entre a conciliação de agendas e conseguir uma sonoridade de qualidade.

 
“Durante o processo, a gente não estava pensando em fazer um álbum, então tivemos gravações bem caseiras. Eu utilizei apenas um microfone para gravar a bateria, o Derick (Green, vocalista) teve de cantar baixo algumas músicas para não atrapalhar ou incomodar os vizinhos. Mas não foi um peso gravar, foi muito tranquilo e todos os artistas toparam”, explica Casagrande. 


Foi tão tranquilo que acabou gerando 28 registros, demais para um álbum. Os membros da banda precisaram se reunir e votar no que entraria e no que ficaria de fora. Um versão de Biotech is Godzilla e Polícia, dos Titãs, gravada com Tony Belloto e Shavo Odadijan, baixista do System of a Down é uma dessas que acabaram não fazendo parte do álbum, mas a banda garante que há um projeto futuro reservado para esse material. Agora, os planos da Sepultura, ao vislumbrar um horizonte de volta a normalidade, é de retomar a interrompida apresentação ao vivo do Quadra. 


“É um disco que foi muito bem aceito pela crítica e pelos fãs, então a gente quer muito retomar esse projeto, voltar a ensaiar e apresentar esse álbum da forma que ele merece”, afirma Eloy. Essa retomada já tem data para acontecer, com um show em Copenhagen, capital da Dinamarca, em novembro. Aos fãs brasileiros, cabe esperar mais um pouco, mas pelo menos estão bem acompanhados pelo novo disco.