Os meses de dezembro, janeiro e fevereiro são tradicionalmente no Brasil ligados às festividades. Por isso, é nesse período de verão e de atmosfera carnavalesca que surgem os hits, ou seja, as músicas que tocam exaustivamente em eventos, nas rádios e são as mais acessadas e ouvidas nas plataformas digitais. Entretanto, a pandemia de covid-19 representou uma mudança no cenário. Sem as aglomerações, e com o carnaval cancelado, as faixas de sucesso da época virão da internet.

É o caso de Bum bum tam tam, canção do funkeiro MC Fioti, de 2017, que voltou a aparecer no mundo da música. O retorno do hit, que foi tocado repetidamente há três anos, aconteceu devido à semelhança do título com o nome do Instituto Butantan, responsável pelo desenvolvimento da vacina CoronaVac. Quase como "piada pronta", a canção bombou novamente registrando um aumento de 284% no consumo no Spotify na semana em que o instituto anunciou a eficácia do imunizante.

A faixa começou a ganhar paródias e memes na internet. Entre elas, a música Bu Tan Tan de autoria das gaúchas Martina Fröhlich e Amanda Gabana com produção de Kevin Brezolin, em que incentivam a vacinação e celebram o trabalho dos profissionais da saúde e dos cientistas, ao cantarem "a vacina envolvente, que mexe com a mente de quem tava descrente". "A gente quis ressaltar o mérito dos profissionais de saúde e dos cientistas", destaca Martina.

Variações

A dupla acredita que as versões de Bum bum tam tam ainda devem agitar o cenário musical. "A expectativa é de que bombem as variações dessa música", avalia Amanda Gabana, que está acompanhando a movimentação nas redes. O próprio autor da canção ajudará para que a faixa continue em alta. Isso porque Leandro Aparecido Ferreira, o MC Fioti, gravou um remix da música, com direito a clipe filmado com participação dos profissionais do Instituto Butantan. O vídeo de Vacina Butantan foi lançado em 23 de janeiro no YouTube e conta com mais de cinco milhões de visualizações.

"Está sendo uma sensação única. A primeira, é de gratidão, de poder ajudar a população. Bum bum tam tam já tinha feito história, quando se tornou o vídeo de música brasileira mais assistido do YouTube em 2018. Essa é uma outra história, que me faz sentir muito realizado. Porque estou conseguindo comunicar a força e a luta da ciência pela vacina, pela volta da normalidade", comenta MC Fioti.

Ele diz que decidiu criar o remix após ver os memes na web. Assim nasceu a nova letra: "É a vacina envolvente, que mexe com a mente de quem tá presente/ é a vacina saliente, que vai curar 'nois' do vírus e salvar muita gente". No clipe, Fioti aparece fazendo um pedido, a cura da covid-19, e é logo transferido para a sede do Butantan. A ideia agora é lançar versões em outros ritmos, como brega funk e funk de favela.

Força do ritmo

Não será apenas o funk Bum bum tam tam que terá que espaço nas playlists, outras canções do gênero devem figurar na lista de hits. Entre as candidatas estão Rainha da favela (Ludmilla), Bandida (Pabllo Vittar e Pocah), Loco (Anitta), Modo turbo (Luísa Sonza, Anitta e Pabllo Vittar), Nervosinha (MC Kekel e Niack) e Bota o colete (Hitmaker e Lexa). A última é a primeira investida do trio de produtores hitmakers, formado por André Vieira, Pedro Breder e Wallace Vianna, como intérpretes.

Apesar de serem novos como artistas, os três sabem fazer hits: Só depois do carnaval, Sapequinha e Combatchy são produção deles. Por isso, a expectativa é alta para Bota o colete. "Se tem cara de hit ou não, quem decide é o público. Mas achamos que pode ser que as pessoas curtam. Não vamos ter carnaval, mas isso não impede que a galera busque energia positiva, que possa dançar em casa", avalia Pedro.

Para ele, o funk será um dos ritmos de ordem do verão, mas também ao lado do brega-funk, do trap e do forró. Wallace acrescenta que é possível perceber que o público voltou a ouvir os estilos mais dançantes: "No início da pandemia, teve essa inversão das playlists. Queda na música festiva e mais músicas de se ouvir em casa. Com o passar do tempo e a chegada do verão, vemos novamente as músicas animadas tomarem conta. Aposto muito em pisadinha e no funk".

Outra canção que deve bombar é Nervosinha, que envolve Niack, um dos maiores nomes de 2020 com Oh Juliana, e MC Kekel com produção de Ruxell, produtor por trás de grandes hits do país. "A música é chiclete, dançante, tem potencial para estourar porque a gente fez justamente pensando na galera que gosta de curtir um som mais pra cima", comenta Niack. "Essa temporada é de renovação, depois de um 2020 afetado pela pandemia. Nervosinha já vem com essa energia total. Tem tudo pra ser sucesso", complementa Kekel.

Ritmos nordestinos

No ano passado, a pisadinha, vertente do forró, e o brega-funk, estilo pernambucano, ultrapassaram as fronteiras e saíram do Nordeste para o restante do Brasil. Os dois gêneros ficaram entre os mais ouvidos no ano passado nas plataformas e continuam nos holofotes no verão. "Este clima solar costuma pedir um ritmo dançante, popular e democrático, com linguagem jovem e divertida. Hoje, cada vez mais acompanhamos o sucesso das misturas de ritmos entre diferentes artistas, então gêneros como forró, funk, pop, sertanejo, pagode e suas vertentes estão em condições de competirem igualmente por este título", analisa Tatiana Cantinho, da área artística e de repertório da Som Livre.

Wesley Safadão (Ele é ele, eu sou eu), Os Barões da Pisadinha e Xand Avião (Basta você me ligar), Raí Saia Rodada (Tapão na raba), Tierry (Rita), Jeff Costa e MC Danny (Xerecard), Petter Ferraz e Menor Nico (Amor ou litrão), Zé Vaqueiro (Letícia) e Japinha do Conde (Romance desapegado) representarão o forró com a batida do piseiro no verão.

Japinha, que é a revelação do estilo, aparecerá com Romance desapegado. "Acredito que muita gente se identifica com a letra, caiu no gosto do público e só tenho a agradecer por todo este sucesso. Essa música foi um divisor de águas em minha carreira", diz. Sobre o ritmo, ela decreta: "O piseiro caiu no gosto popular por ser muito dançante. Está ganhando cada vez mais espaço, acredito que a tendência é crescer cada vez mais".

Do lado do brega-funk, a tendência é a transmutação do ritmo para o chamado breggaeton, uma mistura do estilo pernambucano com o reggaeton, de origem latina. "Os elementos do reggaeton têm muita semelhança com os do brega-funk. O reggaeton, por exemplo, tem muita 'batida reta'. Já no caso do brega, temos mais 'kicks', 'latinhas', 'viradas' e melodia", explica JS O Mão de Ouro. O artista é um dos responsáveis pelo novo estilo lançado com a música Breggaeton em parceria com Igor Sales e ideia de Thiaguinho MT. Vale lembrar que a dupla JS e Thiaguinho emplacou, em 2020, o hit Tudo ok com Milla.

Candidatas a hit de 2021

» Vacina Butantan e Bum bum tam tam (MC Fioti)
» Bota o colete (Hitmaker e Lexa)
» Nervosinha (MC Kekel e Niack)
» Bandida (Pabllo Vittar e Pocah)
» Loco (Anitta)
» Rainha da favela (Ludmilla)
» Modo turbo (Luísa Sonza, Pabllo Vittar e Anitta)
» Romance desapegado (Conde do Forró e Japinha Conde)
» Basta você me ligar (Os Barões da Pisadinha e Xand Avião)
» Tapão na raba (Raí Saia Rodada)
» Ele é ele, eu sou eu (Wesley Safadão e Os Barões da Pisadinha)
» Xerecard (Jeff Costa e MC Danny)
» Amor ou litrão (Petter Ferraz e Menor Nico)
» Letícia (Zé Vaqueiro)
» Rita (Tierry)
» Breggaeton (JS Mão de Ouro e Igor Sales)