Artista celebra sete décadas com disco que retoma passado de glórias
Todas as músicas de sucesso do repertório de Odair José foram lançadas por ele na década de 70. Algumas resistiram ao tempo, como “Pare de Tomar a Pílula”, “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar”, “A Noite Mais Linda do Mundo” e “Cadê Você”, entre outras, e são cantadas a plenos pulmões por jovens de uma geração que mudou o status do ídolo: ele passou de brega a cult.
Prestes a completar 70 anos – o aniversário é nesta quinta, dia 16 –, o intérprete, que até hoje é conhecido como “o cantor da pílula”, quer voltar ao passado de glórias. “Eu voltei a ser o que era, sou o Odair dos 70, mas é da década de 70”, brinca. A mudança, segundo ele, tem a ver com uma tomada de consciência que interferiu diretamente em seu processo de composição.
“O ano de 1973 foi o ‘ano Odair José’. Todas as músicas daquele disco fizeram sucesso e tocaram no rádio, o que é uma coisa muito rara. Mas isso aconteceu porque eram músicas verdadeiras, úteis, com conteúdo. Dos anos 80 a 2000, meus álbuns foram irrelevantes, em cima do muro”, pondera. A nova atitude norteia o álbum “Hibernar na Casa das Moças Ouvindo Rádio”.
O primeiro trabalho de inéditas desde “Gatos e Ratos” (2016) está previsto para chegar à praça em novembro, e traz 11 faixas autorais, entre elas as três que o batizam: “Hibernar”, “Na Casa das Moças” e “Ouvindo Rádio”. “O conceito do disco é que eu estou hibernando na casa das moças, ou seja, um prostíbulo, onde todos os fetiches são liberados: sexuais e no uso de drogas e bebidas. E tudo chega pelo rádio, as conversas sobre política e o que acontece no mundo”, diz o músico.
Rótulos. Apesar do êxito comercial, Odair se acostumou a conviver, ao longo de sua trajetória, com uma série de polêmicas. Convidado por Caetano Veloso para se apresentar com o baiano no Phono 73 (festival de música realizado no Anhembi, em São Paulo), foi vaiado pelo público. A ópera-rock “O Filho de José e Maria”, de 1977, o levou a ser excomungado pela Igreja Católica, porque o protagonista usava drogas e tinha dúvidas a respeito da própria orientação sexual.
Como se não bastasse, Odair foi o segundo artista com mais músicas censuradas pela ditadura militar, atrás apenas de Chico Buarque. Nada disso, porém, o incomodou tanto quanto o rótulo de “brega”. “Acho de mau gosto chamar a música dos outros de brega, o olhar preconceituoso é horrível”, critica. Em 2018, porém, a luta de Odair contra a discriminação foi compensada. Ele recebeu o Prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade, organizado pelo movimento LGBT de São Paulo, cidade que o goiano escolheu há três décadas para viver.
“Sempre defendi a prostituta, a empregada, o homossexual, o cara que fuma maconha. A pior censura é a dos hipócritas. Eu gosto de falar de coisas atrevidas, porque estamos num momento de muita intolerância e hipocrisia”, finaliza Odair.
Cantor fala do início e da política atual
Embora não seja um conhecedor de numerologia, fato é que Odair José tinha 7 anos quando ganhou o seu primeiro instrumento musical. Foi com essa idade que ele recebeu de presente de aniversário o cavaquinho que guarda até hoje. Em seguida, passou para o violão. “Nunca tive nenhum ídolo cantor, sempre admirei o guitarrista ou o compositor. Achava o Tom Jobim o máximo. Eu não fazia aquele tipo de música porque não sabia”, conta Odair.
Beatles, Luiz Gonzaga, Led Zeppelin, Emilinha Borba, Frank Sinatra, Tonico & Tinoco e Roberto Carlos chegavam na casa do garoto por meio do rádio, em Morretes, no interior de Goiás. Atualmente, ele têm preferido a internet. “O melhor do momento são os alternativos, que estão fora da mídia”, afirma. Atração do Festival Lula Livre, no Rio, ele se diz “preocupado com o futuro”. “Sou povo e tenho minha opinião, acho que o Lula está sendo injustiçado”, conclui.
Discos célebres
“Assim Sou Eu...”, de 1972, trazia o sucesso “Esta Noite Você Vai Ter que Ser Minha”.
“Odair José”, lançado em 1973, colocou as 12 faixas no rádio, como “Pare de Tomar a Pílula”.
“Lembranças”, de 1974, emplacou a romântica “A Noite Mais Linda do Mundo”.
“Odair”, de 1975, tem arranjos de Luiz Cláudio Ramos, músico que acompanhaChico Buarque.
“O Filho de José e Maria”, de 1977, foi a ópera-rock que lhe rendeu uma excomungação.