BH E REGIÃO
Se antes taxistas eram principais vítimas, agora, novos condutores estão na mira dos bandidos
Em 2016, os taxistas de Belo Horizonte eram vítimas de oito crimes por dia, em média, segundo o sindicato da categoria em Minas Gerais (Sincavir). Neste ano, o número caiu para duas ocorrências. Na contramão disso, motoristas de aplicativos de transporte, como Uber, 99Pop e Cabify, têm sido alvo frequente de criminosos, que utilizam as plataformas como iscas para atrair as vítimas. Apesar de não haver dados oficiais, os condutores afirmam que os roubos e assaltos têm crescido em Belo Horizonte e na região metropolitana e reclamam de falta de rigor no cadastro de passageiros.
O motorista Lucas Mateus dos Santos, 22, foi vítima de um “cliente” e um comparsa no último dia 22, no bairro Rio Branco, em Venda Nova, durante uma corrida do 99Pop, que seria paga em dinheiro. Um dos homens estava armado. “Assim que eles entraram, anunciaram o assalto. Ficaram rodando comigo, me ameaçando e levaram celular e dinheiro”, contou. Desde então, Santos passou a aceitar apenas corridas pagas com cartão. “No dinheiro, qualquer pessoa pode se cadastrar e usar dados falsos, é muito fácil. Estou trabalhando apreensivo”, contou.
Na noite do dia 13 de fevereiro, terça-feira de Carnaval, o motorista Antônio Ramos Martins, 54, foi rendido por dois homens armados que levaram carro, celulares e dinheiro dele, no bairro Nova York, em Venda Nova. A corrida foi solicitada pelo Uber. “O passageiro que fez o chamado estava com boa pontuação. Quando parei o carro, ele e outro homem que estava escondido entraram. Em um local ermo, me deram uma ‘gravata’ e levaram tudo, fizeram ameaças de morte”, lembrou. Depois do assalto, Martins ficou quase 20 dias sem rodar e, agora, só trabalha pela manhã.
Percepção. Martins, que é vice-presidente da Frente de Apoio Nacional ao Motorista de Aplicativo, afirma que a violência contra condutores tem crescido. “Todos os dias parceiros me procuram para comunicar que foram assaltados. A gente quer mais rigor no cadastro do cliente”, contou.
A Polícia Militar não informou se a ocorrência de crimes contra motoristas de aplicativos tem crescido, mas pontuou que as blitze e as bases de segurança comunitária auxiliam no combate ao crime. “A PM sugere que os motoristas utilizem os grandes corredores, locais com maior movimentação de pessoas, e passem por locais em que haja bases de segurança comunitária”, disse a major Fabíola Gonçalves, do Comando de Policiamento da Capital.
CADASTRO
Cabify. Para se cadastrar, o usuário deve informar nome completo, telefone e e-mail. A plataforma aceita pagamento via cartão de crédito e PayPal.
Uber. O usuário que paga só com dinheiro deve informar CPF e data de nascimento – os dados são conferidos com a base de dados do governo federal.
99. O passageiro deve inserir telefone, nome completo e e-mail. O cartão de crédito é opcional. Se necessário, o sistema pede validações adicionais, como CPF e cartão bancário.
Plataformas afirmam investir em segurança e em assistência
Para diminuir os riscos para seus motoristas parceiros, os aplicativos de transporte afirmam investir em segurança. A Cabify informou que desenvolve continuamente tecnologias para reduzir riscos e oferece atendimento 24 horas por dia para motoristas. A empresa solicita que passageiros e condutores reportem situações atípicas para tomar as medidas cabíveis.
A 99Pop afirmou que, em julho passado, foi criada uma equipe dedicada à segurança que trabalha 24 horas por dia. Desde então, segundo a empresa, o número de incidentes caiu 80%. A orientação da plataforma é para que os motoristas vítimas de violência acionem a central de segurança. O aplicativo ainda disse notificar os condutores sobre zonas de risco e monitorar o perfil de passageiros e as corridas em tempo real.
A Uber informou que as corridas são registradas por GPS, o que permite identificar o trajeto e os históricos dos motorista e usuários, em caso de incidentes. Além disso, motoristas podem solicitar apoio à empresa em um telefone 0800.
Ação da PM ajudou a reduzir crimes
Para o vice-presidente do sindicato dos taxistas de Minas Gerais (Sincavir), João Paulo de Castro, o trabalho da Polícia Militar (PM) é a principal razão para a redução de 75% nos números de roubos e assaltos contra taxistas em Belo Horizonte. As ocorrências contra a categoria na capital caíram de oito, em 2016, para duas por dia, neste ano.
“Nós tivemos uma diminuição considerável de crimes devido ao trabalho muito efetivo da Polícia Militar, que tem feito constantes blitze e abordagens aos taxistas”, afirmou João Paulo de Castro.
Sobre uma possível transferência de crimes dos táxis para os aplicativos, Castro disse apenas que os táxis são mais seguros. “No aplicativo não tem identificação nenhuma, e, muitas vezes, os vidros são escuros, o que facilita a violência. Táxi não pode ter vidro escuro e tem identificação, então a segurança é maior”, pontuou o vice-presidente do Sincavir.