Pelos próximos três anos, as ações de mitigação socioambiental do desastre de Mariana, na região Central do Estado, contarão com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Seu escritório de Representação no Brasil vai apoiar os projetos na recuperação social, ambiental e econômica dos 39 municípios atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão. A assinatura do acordo com a Fundação Renova, entidade responsável pela reparação e compensação dos danos do desastre, aconteceu em julho deste ano.

O foco de atuação da UNESCO no Brasil será em ações de fomento ao desenvolvimento sustentável da região com base no respeito aos direitos humanos, no monitoramento da água do rio Doce seguindo padrões internacionais de medição e nas ações para viabilizar a gestão integrada dos recursos hídricos e dos ecossistemas, ao longo dos 670 km da bacia atingidos pelo desastre.

“É com grande satisfação que a UNESCO no Brasil firma esse acordo de cooperação técnica internacional com a Fundação Renova. Entendemos que os desafios relacionados à reparação da tragédia de Mariana envolvem um arranjo no qual a UNESCO, com seu quadro técnico multidisciplinar, pode aportar experiências e buscar soluções relevantes e inovadoras. Por nosso mandato transversal em assuntos ligados ao patrimônio cultural, à gestão de recursos hídricos e aos direitos humanos, buscaremos contribuir com as ações já em curso promovidas pela Fundação Renova”, destaca a diretora e representante da UNESCO no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto.

A entrada da organização, que conta com uma credibilidade reconhecida internacionalmente, é um reforço no projeto participativo que envolve as ações de reparação e compensação do desastre de Mariana. Um complexo sistema de governança com participação de mais de 70 entidades.


Por meio da parceria serão realizadas ações voltadas para o respeito aos direitos humanos, monitoramento da água do rio Doce e gestão integrada dos recursos hídricos e dos ecossistemas.

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Foto: Rafael Hildebrand/Divulgação

 

Para o diretor-presidente da Fundação Renova, Roberto Waack, a parceria com a UNESCO representa o fortalecimento de uma rede voltada para a reparação e contribuição para o desenvolvimento futuro da bacia do rio Doce. “A Fundação Renova tem o papel de mobilizar diversas organizações e a comunidade para esse desafio, trabalhando em conjunto para que as soluções e resultados sejam muito mais potentes. Nesse sentido, a UNESCO representa um manancial de conhecimento imenso, que vai além do componente científico e material, mas que também traz para a agenda da reparação uma abordagem do lado humano, da cultura, da história e das memórias”.

A parceria terá uma duração de três anos. Com a experiência que tem em atuação em outras ações realizadas praticamente no mundo todo, a organização irá auxiliar no complexo trabalho de reparação que envolve diversos eixos de atuação, que vão desde a recuperação ambiental das áreas e reassentamento das famílias atingidas, até a busca por soluções para dinamizar a economia dos municípios envolvidos e criar uma cultura de desenvolvimento sustentável. A Organização das Nações Unidas vai auxiliar no desenvolvimento de ações que gerem crescimento econômico com preservação ambiental, disseminando esse conhecimento para a população ao longo da bacia do rio Doce.

Também será um objetivo da UNESCO ajudar no fortalecimento institucional da Fundação Renova nos programas que já estão em andamento com foco na construção da cultura de paz e do diálogo, por meio da educação, das ciências e da cultura. Isso vai demandar a participação de três de suas áreas técnicas: ciências humanas e sociais, cultura e ciências naturais.

Painel Independente

Essa não será a primeira organização internacional a participar dos esforços para recuperação da bacia do rio Doce. Desde o segundo semestre de 2017, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês) participa monitorando ações dos 42 programas implantados pela Fundação Renova e apresentando recomendações para ampliar a eficiência.

A IUCN é uma das mais relevantes organizações internacionais que atuam na área ambiental e na busca de um desenvolvimento sustentável. Ela é formada por membros de organizações governamentais e da sociedade civil e reúne 16 mil especialistas espalhados pelo mundo. A organização já coordenou painéis independentes que forneceram recomendações para a remediação de derramamento de óleo no Delta do Níger, para minimizar os impactos da exploração de gás para as baleias cinzentas na Rússia e agora atua no rio Doce.

 

 

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Coordenada pela ambientalista e ex-ministra do Meio Ambiente do Equador, Yolando Kakabadse, painel independente vai formular recomendações que vão auxiliar nas soluções voltadas à recuperação do Doce. /Foto: IUCN-Stephens Edwards

 

Um grupo de sete especialistas da IUCN formam o Painel do Rio Doce. Eles já foram a campo acompanhar o trabalho de reparação e compensação do desastre de Mariana e agora fazem recomendações a partir da análise do que viram e suas experiências já vividas na área. Essa contribuição ajuda a melhorar a atuação dos 42 programas desenvolvidos pela Fundação Renova.

A presidente do Painel do Rio Doce é a equatoriana Yolanda Kakabadse. Ela foi ministra do Meio Ambiente do Equador, já presidiu o conselho da WWF International e é vencedora de diversos prêmios de sustentabilidade. “Embora as questões sejam complexas, há uma oportunidade incrível de se criar um modelo internacional de reparação de paisagens semelhantes. Estou confiante de que o Painel – com membros de vasta experiência em biologia, engenharia, geoquímica, economia, governança, questões sociais e manejo- pode contribuir para a recuperação do rio”, afirma Kakabadse.

Ela destaca que um dos maiores desafios desse trabalho é envolver a comunidade nas tomadas de decisões. “É necessário sacrificar o tempo e assegurar que o resultado final seja parte de uma comunidade. Nossa tendência natural é chegar com receitas, com respostas rápidas Acreditamos que quanto mais rápido, mais eficiente e melhor é o resultado. E não é assim. Se não há uma apropriação dos atores, os resultados não servirão em médio e longo prazo. Vamos criar muita frustração. Quando digo que é necessário sacrificar o tempo, quer dizer que em vez de entregar um resultado em seis meses, aceitar que vamos entregar em um ou dois anos, mas no final a comunidade se sentirá mais orgulhosa”, conclui Kakabadse.
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