Brincadeira que se tornou febre no Instagram nos últimos dias, o #10YearsChallenge (desafio dos dez anos, na tradução) também serve para mostrar que uma década não foi suficiente para desatar o nó da mobilidade urbana em BH. Na lista das principais demandas da população para garantir fluidez e segurança nos deslocamentos, muitos desafios ainda precisam ser superados.
De 2009 a 2019, o metrô da capital ficou praticamente estagnado. São quase 50 mil usuários a mais, porém, o número de viagens é exatamente o mesmo. Já o Anel Rodoviário registrou queda nos acidentes, mas segue como palco de tragédias e sem a aguardada revitalização.
Só o transporte público de passageiros por ônibus apresentou melhorias nesse intervalo, com a chegada do Move e criação de pistas exclusivas. Mas especialistas garantem que o sistema também demanda novos investimentos para atrair mais pessoas.
Anel Rodoviário
Apesar da redução de colisões, capotamentos e atropelamentos, a proporção de vidas perdidas no Anel Rodoviário está cada vez maior. Em 2008 foram 2.501 acidentes e um saldo de 28 mortes – média de um óbito para cada 89 ocorrências. Já no ano passado, foram 53 batidas para cada morte, conforme dados da Polícia Militar Rodoviária.
A presença de radares mais que triplicou, mas ainda é insuficiente para barrar as imprudências. “Áreas às margens foram ocupadas e isso aumentou a presença de pedestres. Tivemos também um crescimento de veículos circulando nesse período, passando de 51 mil para 161 mil”, explicou o comandante de policiamento da via, tenente Geraldo Donizete. “Falta um projeto de engenharia para melhorar as condições, mas o motorista tem responsabilidade na prevenção de acidentes”, acrescenta.
Professor do departamento de engenharia de transportes do Cefet, Guilherme Leiva diz que a gestão compartilhada do Anel Rodoviário, entre governos federal, estadual e municipal, é uma opção. “É uma rodovia com característica de trânsito urbano. Temos moradias, pedestres e transporte público em meio aos caminhões”.
Em nota, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) informou que, desde 2017, conta com um grupo de trabalho para discutir a melhor solução. “O assunto é complexo, uma vez que envolve o compartilhamento de responsabilidades dos diversos órgãos da administração pública”.
Já a prefeitura de BH, que pretende municipalizar a rodovia, aguarda que o caso seja analisado na Justiça. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) não se pronunciou.
Ultrapassado
Com 19 estações ao longo de 28,1 quilômetros, o metrô de BH realiza 279 viagens por dia. Os números de 2009 e 2019 são iguais, deixando o sistema, segundo usuários e especialistas, ultrapassado.
“Utilizo esse meio de transporte há mais de dez anos e ele é praticamente o mesmo. Trocaram o vagão, mas não implantaram um único metro de trilhos novos, continua saindo da Vilarinho e chegando só até o Eldorado (Contagem)”, afirma a recepcionista Adriana de Carvalho, de 38 anos. A mulher mora em Santa Luzia, na Grande BH, e trabalha na capital. Diariamente, ela utiliza o metrô nos deslocamentos.
Mestre em engenharia de transportes e ex-professor da UFMG, o consultor em trânsito Paulo Rogério Monteiro acredita que o modal da metrópole é um dos mais atrasados do país. “Os investimentos praticamente não existiram. O metrô não se atualizou e ficou no meio de discussões políticas”.
Em uma década, dez novos trens foram adquiridos. Em nota, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) informou que, em 2009, foi finalização o Terminal de Integração Vilarinho, maior obra do sistema. Cerca de R$ 170 milhões foram investidos, aumentando o número de trens de 25 para 35.
Ônibus
Apesar da redução de seis milhões de passageiros por mês, o sistema de ônibus em Belo Horizonte passou por mudanças importantes, como a implantação do Move.
Para o consultor em trânsito e transporte Osias Baptista Neto, o modelo com estações de embarque em avenidas e pistas exclusivas deve ser ampliado. O especialista credita a queda no número de usuários às oportunidades de financiamento de carros neste período e à insatisfação com o sistema. “Não adianta só ônibus com ar-condicionado garantindo conforto. O que vai fazer a pessoa trocar o ônibus pelo carro é a velocidade operacional”, opinou.
Este é um dos desafios da BHTrans para os próximos anos. Na pauta da autarquia, fundamentada no plano de mobilidade do município, está o fomento aos meios de transporte compartilhados e a implantação de ônibus elétricos.
Elizabeth Gomes, diretora de Planejamento e Informação da BHTrans, diz que as mudanças ocorrem a longo prazo, até 2030. “O nosso maior desafio é construir uma cidade em que o transporte público promova o deslocamento do cidadão, mas que seja ambientalmente sustentável”, frisou.
(*Colaborou Lucas Eduardo Soares)