Exatos 10 anos da tragédia em Mariana, na região Central de Minas, são completados nesta quarta-feira (5). Uma década depois do rompimento da barragem de Fundão - que deixou 19 mortos, destruiu comunidades inteiras e impactou dezenas de municípios ao longo da bacia do rio Doce -, a revolta e a impotência seguem sem fim entre os sobreviventes.
“Não precisava de ninguém ter morrido, porque a Samarco sabia do problema, e você continua vendo a empresa mandando e desmandando, ditando as regras para quem vai pagar indenização, de quem é atingido ou não”, afirma Mônica Santos, liderança comunitária de Bento Rodrigues.
Segundo o gerente-geral de Projetos da Samarco, Eduardo Moreira, o rompimento trouxe mudanças profundas no rumo e nos negócios da empresa. “A gente tinha uma dívida com a sociedade de que nós não poderíamos voltar da mesma maneira. A gente precisava voltar de maneira diferente”, diz.
O Brasil tem mais de 900 barragens, com 74 delas apresentando alto risco de colapso, segundo dados do Sistema Integrado de Gestão de Barragens de Mineração (SIGBM).
Minas conta com 31 barragens das 91 que estão em situação de alerta ou emergência declarada. Moradores dos distritos de Engenheiro Correia e São Gonçalo do Bação, que fazem parte do município de Itabirito, em Minas Gerais, relatam que se sentem inseguros com a proximidade de barragens de minério.
Um muro de contenção foi construído em junho de 2021 depois de determinação do Ministério Público de Minas Gerais. A estrutura foi erguida pela Vale, outra mineradora, para prevenir danos em caso de rompimento das barragens da mina de Fábrica.
“O muro dá uma falsa tranquilidade, porque a gente não sabe se ele vai funcionar, nunca foi testado”, afirma Thiago Damaceno, auxiliar administrativo.
O geógrafo Ícaro Brito, que também vive na região, concorda. “Não é um evento natural, a gente não está falando de uma área de avalanche que está acontecendo ali porque a configuração geológica ou uma condição natural está forçando. Isso foi colocado em cima da nossa cabeça”.
Gilvander Luís Moreira, assessor da Comissão Pastoral da Terra em Minas Gerais, denuncia o que ficou conhecido como “terrorismo de barragem”, quando empresas retiram as pessoas dos locais onde elas vivem alegando falta de segurança nas barragens.
“Já tem tese de doutorado em Minas Gerais que demonstra que foi criado o terrorismo de barragem de propósito, como estratagema para ampliar os territórios a serem minerados, burlando, passando por cima de direitos assegurados aos povos e comunidades tradicionais”, denuncia.
Para o jornalista e cientista ambiental Maurício Ângelo, é preciso repensar o modelo de mineração em Minas Gerais e no Brasil, para que novas Marianas e novos Brumadinhos não aconteçam mais.
* Informações da Agência Brasil







