UM ANO DEPOIS

“Gratidão por estarmos vivos, e tristeza pelos que perderam suas vidas. Foi um ano de aprendizado”. A declaração é do jornalista Alexandre Campello, de 54 anos. Ele, a mulher e os dois filhos estavam em uma das lanchas atingidas pelo desmoronamento das rochas de um cânion em Capitólio, no Sul de Minas, em janeiro de 2022. A família está entre os 27 feridos pela tragédia, que deixou dez mortos.

Ele conta que aquele 8 de janeiro de um ano atrás começou como mais um dia qualquer. As crianças animadas com o passeio, todos aguardando ansiosos pela chegada do sol. Tudo corria bem, até que o inesperado aconteceu.

Em uma carta, divulgada por Ana Martins da Costa, esposa dele, logo após os acontecimentos em Capitólio, ela narra como tudo ocorreu.

“Observamos algumas pedrinhas caindo, mas achamos “normal”. Enquanto nos divertíamos e contemplávamos tamanha beleza, outras pedras caíram, dessa vez um pouco maiores que as primeiras. Minutos depois, outras pedras se desprenderam. Trocamos olhares e pedimos ao piloto para sair dali. Ele prontamente manobrou a lancha. Olhei para cima e vi aquela enorme pedra caindo. Em questão de segundos, veio uma onda gigantesca, parecendo um tsunami, com uma água preta, que cobriu tudo”, escreveu.

Passada a onda provocada pelo desmoronamento, as vítimas voltaram à superfície. Alexandre e um de seus filhos tiveram apenas ferimentos leves. O outro menino quebrou o braço em dois lugares e a mulher fraturou o punho. Também estava com eles a cunhada, que teve um corte grave na face e precisou tomar 200 pontos.

“As crianças tinham pesadelos, ficavam assustadas com qualquer barulho, mas a terapia e a volta à rotina ajudaram”, conta. Apesar de tudo que passou com a família, Alexandre não vê culpados. Para ele, foi uma “fatalidade”, que não tinha como ser evitada. 

“A gente estava na hora errada e no lugar errado. Choveu muito naqueles dias e não tinha como ser previsto. Felizmente, nós saímos todos vivos. Tristes por aqueles que morreram e estavam em uma lancha próxima”.

Aprendizado

Alexandre e os familiares não voltaram a Capitólio desde o acidente, mas ele não rejeita a possibilidade de um dia retornar. “É um local muito bonito e eu poderia voltar. Mas eu não faria o passeio nos cânions novamente”, diz.
Ele conta que o acidente fez mudar a rotina de viagens e que hoje é muito mais atento aos passeios que faz com sua família. Alexandre lembra, por exemplo, que no dia do acidente foi exigido na lancha coletes salva-vidas apenas para as crianças e, por isso, os adultos não utilizaram.

“A gente está em férias, passeando, não imagina que algo de ruim pode acontecer. Hoje eu vejo que alguns cuidados são necessários”, afirma.