INSEGURANÇA


Na capital dos bares, a tradicional vida boêmia precisou parar por um tempo por conta da pandemia do novo coronavírus e dos riscos de transmissão da doença. Porém, enquanto outras cidades como São Paulo e Rio de Janeiro retomam gradualmente o funcionamento do setor, Belo Horizonte segue há quase cinco meses sem atendimento presencial aos clientes. A justificativa da prefeitura é o alto risco sanitário da atividade.


E uma pesquisa do instituto Intertek realizada no Reino Unido sintetiza o sentimento de muitas pessoas que são fãs dos botecos, mas que temem pela facilidade da disseminação da Covid-19. A cada dez entrevistados, só duas se sentem seguras a frequentarem os bares e restaurantes – o setor de hotéis também é altamente impactado pela pandemia e os dados revelaram que 27% das pessoas estão confiantes em visitar os locais. Outro levantamento realizado pela entidade brasileira Hibou revelou que 58% dos brasileiros só irão os estabelecimentos sem aglomeração.

Diante dos resultados, a Intertek, que também tem atuação no Brasil, lançou o selo Protek, que estabelece dez protocolos sanitários para garantir a segurança no setor. Entre as normas recomendadas, estão o distanciamento de dois metros entre as mesas, avaliação dos riscos da atividade, além da limpeza dos sistemas de ventilação, gestão do retorno ao trabalho e uso correto dos equipamentos de proteção, como as máscaras.

Alto risco sanitário

Para o infectologista e membro do comitê de enfrentamento à Covid-19 em Belo Horizonte Carlos Starling, os resultados do levantamento mostram que o posicionamento da prefeitura em relação ao setor é adequado. O especialista lembra que só quando a pandemia estiver sob controle na cidade, os bares e restaurantes poderão voltar a atender presencialmente os frequentadores.

"Geralmente são locais em que as pessoas ficam sem máscara, porque não tem como beber e comer com o equipamento. E muitas perdem o controle após beberem, o que significa falar alto, se aproximar dos outros. Isso é tudo que precisamos evitar neste momento", declarou.

Starling enfatiza ainda que muitos países no mundo que permitiram a volta do setor tiveram que retroceder ao longo da pandemia. "Então às vezes abre, outras vezes fecha. É o que estamos vendo na Nova Zelândia, Espanha, França, onde essas aberturas não duraram muito. As pessoas acabam não tendo limite quando bebem, e esse é um dos principais problemas", resume.

Apesar de ser "apaixonado" pelos bares de BH, o infectologista diz que se inclui na faixa dessas oito pessoas que não se sentem seguras em frequentar os locais. "A literatura científica vem mostrando isso, que esses estabelecimentos podem ter um aumento brutal na incidência da doença", completa.

Retomada segura

Quando os índices da doença estiverem estáveis na capital, o membro do comitê criado pela prefeitura garante que há uma série de protocolos que serão determinados para reduzir a possibilidade de transmissão. Além das tradicionais medidas, como o distanciamento entre as mesas e a disponibilização do álcool em gel, a prefeitura pretende fechar algumas ruas da capital que possuem grande concentração de estabelecimentos. 

Um levantamento inicial aponta que pelo menos 70 vias podem ser interditadas nos horários de funcionamento dos bares. O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) em Minas Gerais, Ricardo Rodrigues, diz que a medida será positiva para o setor. "Essa é inclusive uma proposta feita pela associação ainda em março. É uma coisa importante, mas temos que lembrar que ela só contempla os polos gastronômicos mais conhecidos", enfatizou.

Setor está preparado

O dirigente alegou que o setor está preparado para voltar às atividades e, apesar da pesquisa, há muitas pessoas que já se sentem seguras para frequentar os estabelecimentos. "Já fizemos vários treinamentos para que o público tenha condições de ir aos bares e restaurantes. O segmento está na maior quarentena do mundo, não tem histórico de cidades que obrigaram o fechamento de 150 dias. Então o que temos feito é uma orientação, cursos, busca de parcerias", argumentou.

Apesar da restrição das atividades, os estabelecimentos seguem com permissão para trabalhar com o delivery e a retirada no local. "Não somos o bicho papão que a própria prefeitura tem colocado e nem um foco de contaminação em um patamar tão elevado que provocou o fechamento por tanto tempo", finalizou.