JORNADA REDUZIDA

Os trabalhadores brasileiros sempre comemoram bastante quando um feriado cai na sexta-feira, como hoje. Mas imagina se toda semana fosse assim? Na Efí, empresa de contas digitais com sede em Ouro Preto (MG), é exatamente o que ocorre. 

Desde julho do ano passado, a Efí (antiga Gerencianet) implementou a jornada de 4 dias semanais para os 450 funcionários, se tornando uma das poucas companhias no Brasil e uma das maiores do mundo a adotarem a medida. Dez meses depois, os resultados são surpreendentes.

Uma amostra feita com 50 líderes da empresa apontou que 94% viram impacto positivo na qualidade do trabalho das equipes; 86% consideraram que houve manutenção ou aumento da produtividade; e 88% consideraram que os colaboradores se ausentaram menos do trabalho durante o expediente para resolver questões pessoais.

E após a implantação da jornada diferenciada, a Efí notou ainda uma queda nos pedidos de demissão. A redução

nos desligamentos voluntários foi de 87% no segundo semestre de 2022, em comparação ao mesmo período de 2021.

Mas implantar uma jornada reduzida não foi nada fácil. Para isso, foi necessário muito comprometimento dos funcionários.

“Chamamos os colaboradores, perguntamos se eles estavam dispostos a encarar o desafio porque a produção precisa continuar. Não pode ser menor. E a preocupação nossa era essa. Será que a empresa vai diminuir o ritmo? Nós vamos perder qualidade de produto e atendimento? E aí o que a gente propôs todo mundo topou e comprou a ideia", explica Leôncio Nogueira, diretor de Negócios da Efí. 

E a partir daí, o ambiente ficou ainda mais profissional, mas com mais alegria. 

“Nós não sentimos perda de produtividade. Nós percebemos que as pessoas, durante a reunião, ficaram mais objetivas. Elas já chegam perguntando o que precisam resolver. Não tem mais aquele tempo para bater papo, contar caso, que é o que acaba acontecendo nessas reuniões presenciais”, afirma. 

O cumprimento de horários também melhorou.

“O pessoal também ficou mais objetivo em começar e terminar na hora porque o tempo está mais contado. E nos fins de semana os funcionários estão aproveitando bastante. As pessoas estão aproveitando a sexta-feira para ficar com a família, cuidar da saúde, passear com os pets, cuidar de assuntos pessoais em horário comercial. Quem não precisa ir ao médico, ao dentista, ao banco? E muitas vezes as coisas estão abertas no mesmo horário em que a pessoa está trabalhando. Para resolver algum problema, ela precisava faltar ao trabalho”, justifica. 


Na sexta-feira, apenas alguns funcionários da parte técnica vão à empresa.

“Na parte de infraestrutura, por exemplo, precisamos ter alguns colaboradores na empresa porque pode dar problema em algum equipamento. Mas eles têm uma escala de revezamento. Quem trabalha na sexta folga na segunda. Então sempre tem alguém disponível e todos trabalham 4 dias na semana”, explica Nogueira.

“As pessoas estão mais focadas e felizes. Chegam ao trabalho na segunda-feira com sorriso no rosto. Quinta-feira pra gente sextou!”, conclui. 

Benefício reflete nos resultados da empresa

A Efí encerrou 2022 com um volume de R$ 21 bilhões em transações, um crescimento de 40% em relação ao mesmo período do ano passado.

A carteira de clientes também aumentou: de 290 mil clientes em 2021, a empresa fechou 2022 com 370 mil – uma alta de 27%. Para 2023, a marca projeta um crescimento de 47% no faturamento.

A Efí é ainda a quinta marca homologada pelo Banco Central a atuar como instituição de pagamento no ambiente Open Finance e participante direta no Pix.

“Implementamos a jornada reduzida como uma recompensa aos resultados incríveis que o nosso time entregou ao longo dos anos. E os números apurados não poderiam ser diferentes, pois entendemos que a mudança proporciona múltiplos benefícios aos nossos colaboradores, que retornam ao trabalho mais motivados e descansados, o que faz total diferença para o dia a dia de trabalho”, afirma o CEO da Efí, Evanil Paula.

Jornada reduzida no exterior

No Reino Unido, a semana de 4 dias de trabalho também foi testada e aprovada por 92% das empresas que participaram do projeto-piloto “The 4-Day Week Global”, que vão manter a jornada reduzida. 

O teste foi feito entre junho e dezembro de 2022, envolvendo 2.900 funcionários de 61 empresas locais. Neste projeto, os profissionais receberam 100% do salário, trabalhando 80% do tempo, em troca de um compromisso de manter 100% de produtividade.

Empresas de diversos segmentos participaram de forma voluntária dos testes, como educação, bancos, tecnologia, recursos humanos e varejo.

No Chile, o congresso aprovou, nesta semana, a redução da jornada de trabalho no país. Nos próximos cinco anos, empregadores terão de diminuir o expediente de 45 para 40 horas, que é o recomendado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). 

O processo será implantado aos poucos: depois do primeiro ano, a jornada passará a ser de 44 horas semanais. Após três anos, cai para 42 horas; e, em cinco anos, passa para 40 horas. 

A jornada só poderá ser mais longa em alguns setores específicos, como mineração e transportes, de até 52 horas. No entanto, as empresas precisam garantir mais dias de descanso depois como forma de compensação.