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Sem as ações da quarentena, quando considerada a velocidade que tomaram os números da doença respiratória no Brasil e em BH até 28 de março, em vez de 23 mortos até aquele momento a capital teria, ao ritmo no qual os números da doença crescem no país, 317% a mais de óbitos, ou seja, 96. O balanço de ontem da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais traz 31 mortes verificadas na cidade desde o início da pandemia. Se os números municipais tivessem crescido na mesma proporção dos nacionais, teria havido agora 209% de óbitos a mais.
Os dados foram avaliados com as respectivas estimativas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), baseados no chamado fator de crescimento da epidemia. Ainda na comparação dos números de pessoas contaminadas pelo novo coronavírus verificados até 28 de março, o estudo mostra que o universo de 487 pessoas doentes no período teria pulado 305% (para 1.973). Tomando -se como referência o último dia 15 de maio, esse número teria chegado a 1.088 infectados, aumento de 81%.
Estudo da Fiocruz comparando a progressão da doença pelo país ajuda na definição de medidas contra o vírus
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
O estudo da Fiocruz mostra, portanto, que pelo menos 73 pessoas foram poupadas da morte em BH pelo avanço do novo coronavírus até 28 de março, uma vez que a capital não apresentou uma progressão de casos como a média nacional. Autora do estudo a Fundação Oswaldo Cruz explica que o fator de crescimento da doença é um método que permite comparar os dados do Brasil e dos estados também com o cenário de outros países, analisando a propagação dos casos diariamente.
Esse fator é construído considerando-se como o número de casos aumenta ao longo do tempo, informa a fundação. Para o comparativo levou-se em conta o fator de progressão após os diagnósticos de dentro do período de isolamento, que no Brasil, por exemplo, seria no dia 28 de março, e na China, em 29 de fevereiro. Utilizando-se essa metodologia comparativa, a noção clara que se tem é a de que tanto BH quanto Minas Gerais vivem uma realidade de controle da COVID-19 melhor do que outros estados, capitais e países.
O destaque é a capital mineira, que se tivesse um ritmo de propagação do novo coronavírus semelhante ao de Minas, estaria com 360% a mais óbitos, registrando 106 vítimas em vez de 23 no período analisado. Ante as capitais mais supercontaminadas, a diferença mostra a situação alarmante que essas comunidades vivem. Se a infecção afetasse a BH como em Manaus, seriam 521 mortos (alta de 2.165%) e 477 vítimas (aumento de 1.973%) se acompanhasse a evolução de Fortaleza. Ao se comparar a situação de BH diante da progressão da doença na China no período semelhante de epidemia, os mortos poderiam chegar a 1.038, número 4.443% maior.
Modelagens como essa são importantes para auxiliar no planejamento de estratégias de combate à disseminação do vírus e para avaliar o trabalho que vem sendo feito, segundo o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano Silva. “Modelos sofrem com muitas variáveis. Por exemplo, há quem diga que a curva de Minas já passou e outros que nem está perto. A grande vantagem é antecipar um problema”, afirma.
Investigação
A comparação de realidades, no entanto, seria mais complexa. “A investigação das causas é que nos trazem um bom modelo de combate. Sabemos que BH está melhor que São Luís e que São Paulo, mas o que levou um local a ficar pior ou melhor? Por exemplo, BH teve um timming mais adequado de distanciamento, mas será que foi só isso que justificou? Precisamos identificar quais os outros fatores”, diz Estevão Urbano Silva.
Ainda que com mortes mais aceleradas que BH, Minas Gerais tem uma realidade extremamente confortável se comparada à de outras unidades da federação, como mostra o estudo da Fundação Oswaldo Cruz. Os 97 mortos dentro do período comparado até o fim de março poderiam ter se elevado a 133 (+37%) se a doença se propagasse como no Rio de Janeiro, a 135 ( 39%) se o comparativo fosse com São Paulo, e a 153 ( 57%) no ritmo nacional. A quantidade de doentes poderia ser ainda mais elevada em Minas se o contágio fosse semelhante ao ritmo no Brasil, pois seriam 1.755 infectados, uma alta de 98,5% se comparada aos 884 doentes contabilizados no período.
Estrutura e rigor na luta contra o vírus
Para o subsecretário municipal de Promoção e Vigilância à Saúde de BH, Fabiano Pimenta, o somatório de ações e características físicas, populacionais e de gestão permitiram a BH um controle maior da infecção. “Normalmente, doenças de transmissão respiratória acabam muito ligadas à densidade populacional. Mas há municípios como Fortaleza, que tem densidade maior que BH, de 8.300 habitantes por quilômetro quadrado (km2), para 7.500 por km2. Já o Rio de Janeiro tem uma densidade um pouco menor, de 5.600 habitantes por km2. Por outro lado, somos a terceira região metropolitana do país. Isso é um parâmetro que mostra que as medidas tomadas aqui têm alguma influência até o presente momento. Temos municípios com proximidade demográfica, mas estamos numa situação menos grave”, afirma.
A precariedade de municípios onde há uma extrema contaminação também é um fator que pode ajudar a explicar os números melhores de BH no enfrentamento da epidemia, segundo Pimenta. “Na situação de Manaus, por exemplo, entra a questão de categorias econômicas, tipos de habitação, disponibilidade de água para a lavagem das mãos, mas tudo precisaria de um estudo aprofundado para determinar exatamente o que influi mais. BH tem uma cobertura de abastecimento de água abrangente e isso corre aliado a medidas preventivas. Não adianta ter consciência do que fazer e não tem condição de aplicar”, disse.
O subsecretário elenca as medidas e condições que considera terem conferido a BH um maior controle sobre a infecção. “Começou com a orientação da etiqueta da tosse, de se evitar aglomerações, lavar as mãos. Uma opção clara da prefeitura e do prefeito pela preservação da vida com a suspensão dos alvarás de comércios não essenciais. A obrigatoriedade das máscaras, tudo antes de se ter um crescimento exponencial de casos”, cita.
Pimenta destaca também a abrangência da rede assistencial de BH, do SUS e o sucesso da campanha de vacinação contra a gripe. “BH está com cobertura excepcional e isso auxilia o profissional médico no diagnóstico preferencial da COVID-19, pois os sintomas da gripe são muito parecidos. A primeira fase foi a das pessoas de maior risco com 100% de adesão, sem a aglomeração de pessoas pela capilaridade da rede de saúde e as parcerias com farmácias e outros postos extras para evitar contato com pessoas sintomáticas nas unidades de saúde”. (MP)
Posição longe de ser 'confortável'
No início de maio, o secretário estadual de Saúde de Minas Gerais, Carlos Eduardo Amaral, declarou que o nível de contágio pelo novo coronavírus no estado seria semelhante ao da Coreia do Sul. Contudo, levando-se em conta os mesmos períodos de propagação, se Minas tivesse uma proliferação como o país asiático, registraria 80 mortes em vez de 97, número 18% inferior, nas estimativas da Fundação Oswaldo Cruz. Não se trata de nehnhuma posição confortável. A progressão de Belo Horizonte se assemelha mais a um patamar próximo da Nova Zelândia, e, se assim fosse, teria registrado 21 vítimas no período, em vez de 23 (-9%).
Se o Brasil tivesse uma progressão semelhante à da Argentina, que é o segundo maior país da América do Sul, o número de mortos no período seria 10% menor, contabilizando 2971 em vez de 3.313. Por outro lado, se Minas Gerais e BH tivessem o mesmo ritmo dos vizinhos do Mercosul, os índices de letalidade seriam piores, com MG chegando a 112 ( 15%) e BH a 69 ( 200%). (MP)
OS CENÁRIOS
Como subiriam as mortes por COVID-19 na capital mineira, se ocorresse na cidade o mesmo ritmo da velocidade da doença no Brasil e em outros estados*
» 96 ao ritmo de crescimento no Brasil
» 521 na velocidade de crescimento de Manaus
» 477 na evolução dos óbitos em Fortaleza
» 106 na proporção em que têm crescido os óbitos em Minas
Número atual de mortes em BH ** 31
Casos confirmados de contaminação em BH** 1.129
Fonte: (*) Fundação Oswaldo Cruz
(**) Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais
PONTOS A FAVOR
O que contribuiu para os números melhores de BH, segundo os infectologistas
» Adoção rápida do isolamento social
» Densidade populacional menor que as de outras capitais, medida na razão de habitantes por quilômetro quadrado
» Cobertura abrangente sistema de água
» Medidas de isolamento social adotadas
» Precariedade de alguns serviços em outras capitais, o que favoreceu BH na comparação
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Sem as ações da quarentena, quando considerada a velocidade que tomaram os números da doença respiratória no Brasil e em BH até 28 de março, em vez de 23 mortos até aquele momento a capital teria, ao ritmo no qual os números da doença crescem no país, 317% a mais de óbitos, ou seja, 96. O balanço de ontem da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais traz 31 mortes verificadas na cidade desde o início da pandemia. Se os números municipais tivessem crescido na mesma proporção dos nacionais, teria havido agora 209% de óbitos a mais.
Os dados foram avaliados com as respectivas estimativas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), baseados no chamado fator de crescimento da epidemia. Ainda na comparação dos números de pessoas contaminadas pelo novo coronavírus verificados até 28 de março, o estudo mostra que o universo de 487 pessoas doentes no período teria pulado 305% (para 1.973). Tomando -se como referência o último dia 15 de maio, esse número teria chegado a 1.088 infectados, aumento de 81%.
Estudo da Fiocruz comparando a progressão da doença pelo país ajuda na definição de medidas contra o vírus
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
O estudo da Fiocruz mostra, portanto, que pelo menos 73 pessoas foram poupadas da morte em BH pelo avanço do novo coronavírus até 28 de março, uma vez que a capital não apresentou uma progressão de casos como a média nacional. Autora do estudo a Fundação Oswaldo Cruz explica que o fator de crescimento da doença é um método que permite comparar os dados do Brasil e dos estados também com o cenário de outros países, analisando a propagação dos casos diariamente.
Esse fator é construído considerando-se como o número de casos aumenta ao longo do tempo, informa a fundação. Para o comparativo levou-se em conta o fator de progressão após os diagnósticos de dentro do período de isolamento, que no Brasil, por exemplo, seria no dia 28 de março, e na China, em 29 de fevereiro. Utilizando-se essa metodologia comparativa, a noção clara que se tem é a de que tanto BH quanto Minas Gerais vivem uma realidade de controle da COVID-19 melhor do que outros estados, capitais e países.
O destaque é a capital mineira, que se tivesse um ritmo de propagação do novo coronavírus semelhante ao de Minas, estaria com 360% a mais óbitos, registrando 106 vítimas em vez de 23 no período analisado. Ante as capitais mais supercontaminadas, a diferença mostra a situação alarmante que essas comunidades vivem. Se a infecção afetasse a BH como em Manaus, seriam 521 mortos (alta de 2.165%) e 477 vítimas (aumento de 1.973%) se acompanhasse a evolução de Fortaleza. Ao se comparar a situação de BH diante da progressão da doença na China no período semelhante de epidemia, os mortos poderiam chegar a 1.038, número 4.443% maior.
Modelagens como essa são importantes para auxiliar no planejamento de estratégias de combate à disseminação do vírus e para avaliar o trabalho que vem sendo feito, segundo o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano Silva. “Modelos sofrem com muitas variáveis. Por exemplo, há quem diga que a curva de Minas já passou e outros que nem está perto. A grande vantagem é antecipar um problema”, afirma.
Investigação
A comparação de realidades, no entanto, seria mais complexa. “A investigação das causas é que nos trazem um bom modelo de combate. Sabemos que BH está melhor que São Luís e que São Paulo, mas o que levou um local a ficar pior ou melhor? Por exemplo, BH teve um timming mais adequado de distanciamento, mas será que foi só isso que justificou? Precisamos identificar quais os outros fatores”, diz Estevão Urbano Silva.
Ainda que com mortes mais aceleradas que BH, Minas Gerais tem uma realidade extremamente confortável se comparada à de outras unidades da federação, como mostra o estudo da Fundação Oswaldo Cruz. Os 97 mortos dentro do período comparado até o fim de março poderiam ter se elevado a 133 (+37%) se a doença se propagasse como no Rio de Janeiro, a 135 ( 39%) se o comparativo fosse com São Paulo, e a 153 ( 57%) no ritmo nacional. A quantidade de doentes poderia ser ainda mais elevada em Minas se o contágio fosse semelhante ao ritmo no Brasil, pois seriam 1.755 infectados, uma alta de 98,5% se comparada aos 884 doentes contabilizados no período.
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Para o subsecretário municipal de Promoção e Vigilância à Saúde de BH, Fabiano Pimenta, o somatório de ações e características físicas, populacionais e de gestão permitiram a BH um controle maior da infecção. “Normalmente, doenças de transmissão respiratória acabam muito ligadas à densidade populacional. Mas há municípios como Fortaleza, que tem densidade maior que BH, de 8.300 habitantes por quilômetro quadrado (km2), para 7.500 por km2. Já o Rio de Janeiro tem uma densidade um pouco menor, de 5.600 habitantes por km2. Por outro lado, somos a terceira região metropolitana do país. Isso é um parâmetro que mostra que as medidas tomadas aqui têm alguma influência até o presente momento. Temos municípios com proximidade demográfica, mas estamos numa situação menos grave”, afirma.
A precariedade de municípios onde há uma extrema contaminação também é um fator que pode ajudar a explicar os números melhores de BH no enfrentamento da epidemia, segundo Pimenta. “Na situação de Manaus, por exemplo, entra a questão de categorias econômicas, tipos de habitação, disponibilidade de água para a lavagem das mãos, mas tudo precisaria de um estudo aprofundado para determinar exatamente o que influi mais. BH tem uma cobertura de abastecimento de água abrangente e isso corre aliado a medidas preventivas. Não adianta ter consciência do que fazer e não tem condição de aplicar”, disse.
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No início de maio, o secretário estadual de Saúde de Minas Gerais, Carlos Eduardo Amaral, declarou que o nível de contágio pelo novo coronavírus no estado seria semelhante ao da Coreia do Sul. Contudo, levando-se em conta os mesmos períodos de propagação, se Minas tivesse uma proliferação como o país asiático, registraria 80 mortes em vez de 97, número 18% inferior, nas estimativas da Fundação Oswaldo Cruz. Não se trata de nehnhuma posição confortável. A progressão de Belo Horizonte se assemelha mais a um patamar próximo da Nova Zelândia, e, se assim fosse, teria registrado 21 vítimas no período, em vez de 23 (-9%).
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