Caso se rompam, estruturas, que já estão em alerta máximo, levarão rejeitos ao rio das Velhas, a dois bairros de BH e a outros municípios

A construção de uma estrutura de contenção, capaz de segurar todos os rejeitos das barragens de Forquilhas, em Ouro Preto, caso se rompam, só deve ficar pronta daqui a três anos. E é só depois desse prazo que o processo de descomissionamento das estruturas, que já estão em nível de alerta máximo, poderá ser concluído.

A informação foi passada pelo gerente de gestão e integração do projeto de descaracterização das barragens da Vale, Eduardo Drumond, durante visita de vereadores da CPI das Barragens da Câmara Municipal de Belo Horizonte à Mina de Fábrica, da Vale, em Ouro Preto, nessa terça-feira (28).

Segundo o projeto da Vale, já foram feitas as sondagens para construir essa estrutura de contenção, que ficaria a 11 km de Forquilhas e seria capaz de segurar toda a mancha de rejeitos liberada, impedindo que ela chegue à Estação de Tratamento da Copasa em Bela Fama e garantindo a segurança hídrica de BH e dos demais municípios que podem vir a ser atingidos pelos rejeitos caso essas barragens se rompam.

A vereadora Bella Gonçalves (Psol), que é membro da CPI, questionou a Vale sobre quando se deu o início do plano de descomissionamento, uma vez que os projetos ainda estão em fase de estruturação, e sobre quando a empresa se deu conta do risco de rompimento de tantas barragens.

Segundo Drumond, a decisão de descomissionamento das barragens a montante de alto risco foi tomada logo após o rompimento de Brumadinho, pois até então as estruturas tinham suas estabilidades garantidas por auditorias. "Depois desse evento, o grau de aceitação do risco diminuiu e a auditoria negou declarar a segurança das barragens", afirmou o representante da mineradora.

Riscos de rompimento

De acordo com a geotécnica de barragem de rejeitos da Vale, Adriana Gomes Ribeiro, no Complexo Paraopeba há um total de 17 barragens, sendo 11 de sedimentos para contenção de pilhas de estéril e seis de rejeitos. Dessas seis, todas estão com suas atividades paralisadas e quatro, Forquilhas 1, 2, 3 e Grupo, estão em processo de descaracterização.

Segundo ela, para a realização desse descomissionamento, está sendo desenvolvido um projeto pensando-se no pior cenário, isto é, no rompimento de Forquilha 1 (alerta nível 3) e de Forquilha 2 (alerta nível 2), que se encontram uma ao lado da outra, e o consequente rompimento de Forquilha 4, num efeito-cascata, já que ela está localizada a jusante e bem próxima das barragens Forquilhas 1 e 2.

Questionados pela comissão sobre a abrangência desse eventual rompimento, o supervisor de Controle Operacional da Mina Fábrica, Diogo Prata, explica que a mancha de inundação chegaria a Belo Horizonte em 11 horas, pegando o Rio das Velhas.

"Ela seguiria pelo córrego Mata Porcos até o rio Itabirito e chegaria à Bacia do Rio das Velhas, atingindo os municípios de Itabirito, Rio Acima, Nova Lima, Raposos, Sabará, Belo Horizonte e Santa Luzia, nessa sequência".

Essas três barragens (Forquilhas 1, 2 e 4), juntas, somam um volume de aproximadamente 38,2 milhões de m³ de rejeitos. Já no caso de rompimento de Forquilhas 3 (alerta nível 3), que possui um volume atual de cerca de 19,5 milhões de m³ de rejeitos, a mancha atingiria os municípios de Itabirito, Rio Acima, Nova Lima, Raposos e Sabará. 

O presidente da CPI, vereador Edmar Branco (Avante), ressaltou o foco dos trabalhos da comissão: a garantia da segurança hídrica de Belo Horizonte e da Região Metropolitana. “Sabemos que, se romper Forquilhas, (o rejeito) vai chegar ao Rio das Velhas, e atingir dois bairros de BH: Maria Tereza, na Região Norte, e Beija Flor, Região Nordeste. Estamos muito preocupados com isso", alertou.

Descaracterização das barragens

De acordo com o gerente de gestão e integração do projeto de descaracterização das barragens, Eduardo Drumond, o desafio da Vale é aumentar o nível de segurança das barragens para, assim, dar condições de se fazer um reforço nas estruturas e a retirada dos rejeitos.

Para isso, ele explica que, primeiro, é preciso diminuir a presença de água no terreno, através de desvio de drenagem com canais periféricos contornando a barragem, ou com poços de rebaixamento, e bombeamento da água.

Em seguida, deverá ser realizado novo aterro da estrutura, reforçando o já existente. Ainda está em estudo o material utilizado para isso, mas há a possibilidade de uso do próprio minério que não foi beneficiado. Só a partir desse reforço é que poderá ser feita a descaracterização e remoção dos rejeitos. Também está sendo estudado o melhor local para deposição desse material. Por fim, a área será revegetada.

Esse plano de ação já foi protocolizado junto aos órgãos de controle: Agência Nacional de Mineração (ANM), Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e Ministério Público.

Monitoramento

Com relação ao controle do nível de água das barragens, o representante da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), Alder Souza, pediu esclarecimentos sobre como é feita a medição pela empresa da vazão dentro das estruturas.

Atualmente, de acordo com técnicos da Vale, o monitoramento é realizado por drones e auxiliado por piezômetros automatizados (equipamento para medir pressões estáticas ou a compressibilidade dos líquidos), já que, nas áreas que tiveram seu risco aumentado, a presença de funcionários foi impedida pelo Ministério do Trabalho e não é utilizado pela empresa tecnologia mecanizada para medição da quantidade de vazão de litros de água por segundo.

Os vereadores também pediram informações sobre processos de licenciamento para ampliação e construção de novas barragens, mas, segundo os representantes da Vale, a resposta teria que ser dada posteriormente já que não havia ninguém da área responsável acompanhando a visita. O licenciamento mais recente obtido pela empresa foi da barragem Forquilhas 5, que ainda não foi colocada em operação.