Adaptados e alaranjados, tucanos ocupam espaços, dominam a articulação política e caminham para ser o principal aliado da administração novista

PRESENÇA DO PSDB NO GOVERNO ZEMA JÁ É MEME NAS REDES SOCIAIS (REPRODUÇÃO FACEBOOK)

Nada melhor para expressar o cenário atual em Minas que uma imagem em uso nas redes sociais: um tucano alaranjado; o símbolo do PSDB com a cor do Novo, numa espécie de sincretismo partidário e ideológico. Apesar do tom de pilhéria, a imagem reflete a realidade. O governo Zema passa por um processo gradual e irresistível de ‘tucanização’. A primeira gestão dos novistas apoia-se cada vez mais em parlamentares e técnicos tucanos, na falta de quadros e referências próprias para tocar o Estado. O PSDB já está dominando a articulação política, que é uma área nuclear do governo; caminha para ser o principal aliado da futura base governista na ALMG, o grande fiador da governabilidade de Zema. E assim alaranjado e adaptado, o PSDB vai voltando ao poder no estado meses depois de perder nas urnas.

Há nomes ligados ao PSDB em várias áreas da administração novista. Mas é na articulação política que a participação tucana se torna mais nítida, com o ex-prefeito Custódio Mattos já empossado na secretaria de Governo e o deputado Luiz Humberto Carneiro em vias de assumir a liderança governista na ALMG (ele deve se acertar com Zema esta semana). A dupla tucana é cogitada para operar a base de sustentação politica do governo. Uma base na qual o PSDB está destinado a ter um papel de destaque por ser de longe o principal membro. Com sete deputados, a bancada tucana na ALMG será a maior entre os partidos que sinalizam apoio ao Novo. Além disso possui toda uma expertise em relações entre executivo e legislativo, acumulada nos doze anos de governos Aécio/Anastasia. De fato, o PSDB se mostra uma peça-chave para a governabilidade de Zema, como o partido mais apto a liderar um bloco de sustentação à nova administração estadual.

Tradicionalmente os governadores já se elegem com apoio de uma frente de partidos. Aécio Neves se reelegeu em 2006 com aliança de 10 partidos que lhe assegurou uma base 40 deputados na largada. Anastasia venceu em 2010 com 12 partidos que conquistaram 41 cadeiras na ALMG. E Pimentel saiu das urnas em 2014 com uma coligação de 26 deputados estaduais que depois se ampliou para 33 parlamentares com a adesão de novos partidos.

A eleição de Zema quebrou a regra. Ele concorreu por uma única legenda, jovem e pequena, que elegeu somente três deputados. O governador está tendo que montar a sua base quase do zero e com a administração andando. Outro complicador é a pulverização partidária da ALMG, com um recorde de legendas representadas na casa: 28 a partir de agora, contra 21 até 2018, sendo que o maior partido, o PT, com 10 deputados, será o carro-chefe da oposição. Nesse contexto adverso, cresce ainda mais o peso do PSDB como fator de agregação e convergência para a construção de uma base de apoio para o novo governo. Se os tucanos não derem o pilar, talvez não haja suporte para Zema no legislativo. Nem governabilidade.

O PSDB não está se furtando ao papel de fiador do governo do Novo. Pelo contrário, parece correr para ele. Logo depois das eleições os tucanos já descartaram o papel de oposição, que deixaram de bom grado para os rivais petistas. Na formação do secretariado, nomes ligados ao tucanato assumiram postos de relevo como o citado Custódio Mattos e o titular da Saúde, Wagner Ferreira. Recentemente mais tucanos se agregaram à gestão novista, inclusive como consultores formais (caso de Renata Vilhena, que assessora a reforma administrativa) ou palpiteiros informais (como Danilo de Castro, visto em visitas ao gabinete de Mattos). Nesta sexta-feira (18), o provável líder de Zema na ALMG, Luiz Humberto, garantiu o apoio do PSDB: “A preocupação agora é ajudar o Estado a sair dessa situação de crise, por isso declaramos apoio”, disse ao Diário de Uberlândia.

A maioria dos analistas acredita no êxito do governo em montar a sua base legislativa. Mas não será fácil, mesmo com a indispensável ajuda do PSDB. Os principais atrativos para um deputado apoiar o executivo são indicações para cargos nos vários escalões da administração e os possíveis benefícios para os seus redutos eleitorais. Com a crise fiscal do Estado, cargos foram reduzidos e não há verba para investimentos; a capacidade de entrega do executivo ficou comprometida. Para agravar, a base governista tende a ser mais fluida e frágil em função da maior dispersão partidária, com muitas bancadas pequenas, de até quatro deputados. Quanto mais grupos no legislativo, mais combinações a fazer e mais favores a negociar.