Produtores de algodão do Norte de Minas aumentaram a produtividade com o uso de novas tecnologias
O uso de tecnologias na irrigação tem garantido aos produtores do Norte de Minas a boa produtividade do algodão cultivado em sequeiro, sem a dependência exclusiva das condições climáticas. O trabalho de irrigação nas lavouras é uma ação do Governo do Estado, dentro do Programa Mineiro de Incentivo à Cultura do Algodão (Proalminas) e desenvolvido em parceria com a Associação Mineira dos Produtores de Algodão (Amipa).
O projeto de retomada do cultivo do algodão no Norte de Minas envolve 126 agricultores familiares de 12 municípios com ligação tradicional com a cultura. “Como a região tem um período curto e concentrado de chuvas, o objetivo da irrigação de salvamento é garantir a oferta de água nos períodos críticos de seca, evitando o estresse da planta que compromete sua produtividade”, explica o superintendente de Desenvolvimento Agropecuário, da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Carlos Eduardo Bovo. Técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater) na região vêm recebendo treinamentos para certificação da produção pelo programa Certifica Minas.
O trabalho vem sendo desenvolvido na região há três anos com apoio das prefeituras que custeiam a escavação dos tanques, onde são realizados a captação e o armazenamento das águas de chuva. O Proalminas financia a aquisição dos kits de irrigação por gotejamento e a manta para a cobertura do solo. Algumas propriedades ainda contam com energia solar para o funcionamento do conjunto de irrigação.
Num total de nove hectares de algodão, no município de Catuti, o produtor José Alves de Souza, mais conhecido como Zé Brasil, manteve oito hectares no sistema de sequeiro e investiu no sistema de irrigação em um hectare. O seu tanque tem capacidade para armazenar um milhão de litros de água, utilizada na irrigação de salvamento, apenas nos períodos críticos, e não em todo o ciclo. Sua produtividade média subiu de 15 para 150 arrobas por hectare e ele já tem planos para o futuro. “Diminuir a roça e aumentar a produção, exatamente o contrário do que vivi nos tempos de dificuldade. Com a área livre, ainda posso investir numa criação de gado e diversificar a renda da propriedade”, planeja.
Esta é também a expectativa do presidente da Cooperativa dos Produtores Rurais de Catuti, Adelino Lopes Martins, conhecido como Dila. “Com a organização do plantio, as adubações corretas em todas as fases e a irrigação por gotejamento, a expectativa é atingir produtividade média de 350 arrobas por hectare, aquecer o grupo e ter mais produtores investindo na cultura na próxima safra”, vislumbra.
As lavouras irrigadas são áreas pequenas, mas a atividade tem grande impacto socioeconômico como fonte geradora de renda e emprego, numa região onde são poucas as culturas que resistem aos períodos de seca. O algodão é uma cultura tradicional na região pela sua resistência, mas foi abandonada pelos produtores anos atrás em função do ataque do bicudo, um tipo de praga que afeta a planta.
A fase agora é de retomada e fortalecimento, com o uso de tecnologias modernas, como o manejo de irrigação e o controle biológico para o combate às pragas do algodão. Segundo o prefeito de Catuti, José Barbosa Filho, o bom resultado da experiência tem atraído o interesse de países africanos e sul-americanos. “A agricultura familiar gera emprego e renda, mantém o homem no campo e fortalece a economia de toda a região”, avalia.
Beneficiamento e Comercialização
Com apoio do Proalminas, da Amipa e da organização dos produtores, um outro obstáculo para o fortalecimento da atividade foi vencido. O algodão dos pequenos produtores é comercializado diretamente na indústria têxtil. “Uma coisa impossível de se pensar 30 anos atrás, quando o produtor vendia para o atravessador ou mesmo para um usineiro que beneficiava a produção”, afirma o técnico agropecuário da cooperativa em Catuti, José Tibúrcio de Carvalho Filho.
Atualmente, o algodão é beneficiado numa miniusina instalada no município de Mato Verde, que também participa do projeto de retomada do algodão no Norte de Minas. A capacidade de processamento é de 1,5 mil toneladas por ano e recebe o algodão de todos os produtores da região, independentemente do volume. De cada fardo de 200 quilos prensado e beneficiado, é retirada uma amostra para a aferição da qualidade. “Essa amostra é enviada para o laboratório Minas Cotton da Amipa, em Uberlândia, onde é feito o Laudo de HVI (High Volume Instrument), que identifica as características intrínsecas da fibra do algodão. O resultado desse laudo é exigido para a comercialização com as indústrias têxteis”, explica o engenheiro agrônomo da Amipa, José Lusimar Eugênio.
O preço negociado segue a cotação do mercado e, por meio do Proalminas, o produtor tem um acréscimo de 7,85% no valor. As indústrias têxteis que participam do programa têm assegurada uma isenção de 41,66% do crédito presumido de ICMS ao adquirirem o algodão certificado dos produtores mineiros. Com o benefício fiscal, a indústria destina 1,5% dos recursos ao Fundo de Desenvolvimento da Cotonicultura (Algominas), cujos investimentos permitem renascer a esperança do produtor Zé Brasil, do Dila e de todos os agricultores familiares no Norte de Minas.