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Um levantamento inédito divulgado nesta sexta-feira (19) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) revelou que Belo Horizonte é a capital do Sudeste com maior número de pessoas em situação de rua. A cada 100 mil habitantes da capital, 340 estão em situação de rua.


As informações aparecem em um levantamento inédito do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua e os dados foram compilados do CadÚnico (sendo estruturados em uma plataforma que será atualizada nos próximos 10 anos e disponibilizada na internet).

O levantamento mostra que, em números absolutos, São Paulo tem a maior quantidade de pessoas em situação de rua (12 milhões de pessoas  e 37 mil em situação de rua) se comparada a Belo Horizonte (2,5 milhões de habitantes 8,6 mil em situação de rua). 


Mas, quando o número é colocado em perspectiva com o total estimado da população, BH supera a capital paulista, que tem 300 pessoas em situação de rua a cada 100 mil habitantes. Nacionalmente, a capital mineira só perde para Boa Vista (RR).

De acordo com o professor André Luiz Freitas Dias, coordenador do Observatório, um dos problemas explicitados pela plataforma é o racismo presente em nossa sociedade. “O fenômeno da população de rua no Brasil tem relação direta com séculos de escravidão. Na média nacional, a cada 10 pessoas em situação de rua 7 são negras. Em Minas este número é de 80% e em BH de 84%”, explica.


Ele também aponta que nunca houve um censo para esta população. “Temos censos locais, em algumas cidades, mas nenhum nacional. Esta população também não consegue ser incluída pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por isso, precisamos usar o CadÚnico que, desde 2012, vem registrado dados sobre esta população. Mas, ainda é um registro muito desigual”, diz.


Segundo ele, o problema da população de rua só vai começar a ser resolvido quando esse mapeamento for aperfeiçoado. “Só conseguimos traçar políticas públicas quando temos dados consistentes, regulares, confiáveis e transparentes”, aponta.  


Para colaborar neste cenário, a plataforma da UFMG vai divulgar materiais regulares sobre esta população em todo o Brasil. “A ideia é que governantes e a sociedade em geral tenham acesso às informações e possam, de fato, compreender o fenômeno indo além dos elementos mais comuns como abuso de drogas ou pobreza e entendendo a relação do problema com o nosso histórico de escravidão”, afirma.

Retorno da prefeitura


Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte informa que “tem construído políticas públicas, como a inclusão da população em situação de rua como beneficiária do Auxílio Belo Horizonte e a criação do Programa Estamos Juntos, que atua na captação de vagas no mercado formal de trabalho com foco nessa população".


Cita também “a ampliação de 800 vagas no Bolsa Moradia especificamente para este público desde 2020, e os atendimentos realizados pelos Centros de Referência para a População em Situação de Rua".


A Prefeitura informa que “tem atuado na ampliação da rede especializada de atendimento a este público, com a abertura de novas unidades de acolhimento (abrigos) e requalificação de serviços, e que as pessoas que estão em situação de rua também têm direito à gratuidade nas quatro unidades dos restaurantes populares".


A PBH destaca ainda a existência do Consultório na Rua, "que oferece cuidado integral em saúde, com oferta de cuidado in loco, apoio e vinculação das pessoas em situação de rua com os demais serviços da rede de saúde do município. Sua atuação é voltada para o público adulto e crianças e adolescentes com trajetória de vida nas ruas, em situação de risco e vulnerabilidade. As equipes são compostas por equipe multiprofissional, com psicólogos, redutores de danos, médicos, enfermeiros, arte-educador e assistente social. Atualmente com 8 equipes que atuam e atendem nas 9 regionais da cidade".


A Prefeitura lembra que existe o Serviço de Atenção ao Migrante e que está construindo, em parceria com a UFMG, uma pesquisa censitária com foco na população em situação de rua, buscando não apenas informações quantitativas referentes a este público, mas avaliar a efetividade das políticas públicas desenvolvidas.