Por Paulo Moreira Leite e Renato Rovai – Num país onde governos estaduais quebrados se transformaram numa tragédia para a população e no caminho inevitável para o inferno de tantas carreiras políticas, Fernando Pimentel conseguiu atravessar três anos de calamidade financeira, em Minas Gerais, equilibrando-se entre a falta de recursos financeiros, uma pressão política permanente -- e um esforço concentrado para evitar um naufrágio que muitos analistas anunciavam como inevitável.
"Enfrentamos um cerco muito forte do governo federal mas resistimos e vamos continuar resistindo," diz Pimentel em entrevista de uma hora e 15 minutos à TV 247.
No depoimento, o governador denuncia um esforço permanente, do governo Temer-Meirelles para esvaziar remessas de recursos para o Estado. "O repasse dos fundos constitucionais para Minas caiu em quase 500 milhões de reais. Na Saúde, estamos com sete ou oito grandes obras paradas por falta de recursos do governo federal. "
Pimentel também recorda a privatização, por decisão do governo federal, de três usinas da Cemig, que reduziram "em 30% sua capacidade de produção de energia". Também diz que, "numa decisão esquisitíssima, o Tesouro bloqueou as contas do Estado alegando que a gente tinha descumprido uma cláusula do contrato de negociação da dívida da União. Conseguimos uma liminar no Supremo e suspendemos o bloqueio. Mas tentaram bloaquear", sublinha, referindo-se a uma medida drástica que deixaria seus cofres à míngua numa conjuntura de carências que já levou a administração a pagar o salário do funcionalismo com um atraso regular de 30 dias, em três parcelas. Numa situação de descontentamento que alimenta uma permanente mobilização geral de servidores, no início de março o professorado se declarou em greve -- numa paralisação até hoje sem prazo para terminar.
Ao contrário de Luiz Fernando Pezão, governador sob intervenção militar no Rio de Janeiro, e José Ivo Sartori, cuja popularidade no Rio Grande do Sul desceu ao nivel Michel Temer em plano nacional, dois estados comparáveis a Minas Gerais no plano socio-econômico, Pimentel chegou aos últimos meses do mandato sem perder a perspectiva política. Candidato a reeleição,é visto como nome certo no primeiro turno, com boas chances de levar a segunda rodada: "temos uma chance real de prosseguir nosso caminho."
Para o governador, "Minas entrou num desvio nos doze anos de govenro tucano. Estava virando para o lado do Rio de Janeiro, ia acabar numa tragédia como a do Rio". No depoimento, Pimentel se refere a convivência amistosa com o senador Aécio Neves no início da década passada, quando os dois ensaiaram uma aproximação impensável nos dias de hoje : "nunca tive a ilusão completa de um acordo com o PT e o PSDB. Nunca." Referindo-se a um período com prefeito da capital mineira, explica: "eu quis fazer foi manter a cidade Belo Horizonte com um clima de entendimento que naquele momento propiciava bons investimentos. Eu acho que isso nós conseguimos. Eu acho que a cidade reconhece que viveu um período de muita harmonia". Um dos primeiros a denunciar a bilionária Cidade Administrativa que se tornou um dos marcos da gestão tucana pelo desperdício e denuncias de superfaturamento, Pimentel diz: "Minas foi desviada de seu leito natural. Não é um estado de ostentação. É um estado austero". Ele de que "pintou-se de ouro, ouro falso, para tentar construir a ideia de um candidato mineiro a presidencia da República, era essa a armação. Foi fragorosamente destruída pela realidade."
Ao debater o comportamento de Aécio após a derrota em 2014, quando se tonrou um dos chefes da banda golpista, Pimentel lamenta: Não foi a atitude correta. Não contribuiu para aquilo que a gente lutou tanto para construir." Mesmo reconhecendo que o comportamento de Aécio não foi a única causa do golpe, Pimentel lembra que "em função da atitude de não reconhecer o resultado das urnas nós estamos numa crise institucional que nunca estivemos".
Ministro do Desenvolvimento, Industria e Comércio no primeiro mandato de Dilma, quadro político com uma passagem pela luta armada durante o regime militar, Pimentel reconhece que a saída para uma crise grave como a atual envolve duas etapas. A primeira é a eleição presidencial, com a participação mais ampla possível. "Temos de lutar por isso", diz. Ele está convencido de que é preciso "respeitar os direitos de Lula ser candidato". Afirma que Lula enfrenta "uma condenação suspeita, uma sentença frágil".
A outra etapa é a eleição de uma Assembléia Constituinte, pois o novo presidente "tem de buscar um novo acordo, pacificar o país". Questionado sobre o caráter que pode assumir uma Constituinte, realizada num período em que se assiste a um crescimento de forças conservadoras, Pimentel rebate: "Acredito sempre na sabedoria do povo. Qualquer que seja o resultado da Constituinte nós precisamos de uma Constituinte." Em sua opinião, "ela não será tão conservadora como alguns podem imaginar nem tão progressista como a gente gostaria que fosse".