Quando as minas de ouro se exauriram, no século XVIII, a cidade definhou. Agora, pode ‘quebrar’ de novo, com a paralisação das mineradoras
Quando as minas de ouro se exauriram, na época em que Tiradentes foi enforcado (1792), a cidade de Vila Rica definhou. Os garimpeiros abandonaram suas casas e as deixaram à disposição de quem se interessasse em ocupá-las, pois não havia como sobreviver naquele lugar. Anos antes, no auge da prosperidade, a produção local de 1,5 tonelada representava a metade da produção anual de ouro em todo o mundo. Houve, porém, um modesto aspecto positivo nesse colapso: a cidade colonial, repentinamente deserta e que a seu tempo era maior que Nova York, foi preservada tal como é hoje. Nenhuma nova casa foi construída por décadas.
Com a mineração, Ouro Preto retomou sua antiga prosperidade. Atualmente a produção local de minério de ferro alcança 31 milhões de toneladas anuais, que é vendida a 70 dólares por tonelada no mercado internacional. Em decorrência da sua nova riqueza mineral, que é sua mais relevante atividade econômica, Ouro Preto passou a desfrutar de receita formidável. Mas toda essa prosperidade terá vida curta, talvez uns trinta dias de duração. A Vale decidiu paralisar as atividades em dez minas e Ouro Preto será o local mais atingido.
A cidade perderá R$16 milhões anuais, referentes a 77% do que é arrecadado sobre a extração mineral no município. Perderá também R$130 milhões, que correspondem a 94% do ICMS recolhido em seus cofres públicos. Sem dinheiro, não haverá mínimas condições de sobrevivência para a maioria dos seus moradores, já que a Vale também é responsável por 20% do valor de todos os salários pagos no município. A situação não será muito melhor em Brumadinho, Mariana e Nova Lima, que também terão a atividade mineral paralisada pela Vale nesses municípios..