Slides apresentados em BH e publicados com exclusividade no site são prova de que substituto de Bolsonaro tem uma mente afiada e um projeto organizado para o país

O aplauso entusiasmado de empresários ao vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão, nesta quarta-feira (05) em Belo Horizonte não foi só um gesto de adulação ao poder; também expressou admiração e empatia. De fato, o general mandou bem em sua palestra. Mostrou sofisticação e vigor intelectual com cinco slides que sistematizam de forma estruturada e coerente o seu pensamento. Impressionou pelo domínio de conceitos de economia e de administração e pela capacidade de articulá-los numa ordem que, no conjunto, formam uma visão organizada de futuro, um projeto de país. Foi esse projeto que os empresários aplaudiram de pé.

PROVA CABAL

Mourão exibiu o seu powerpoint visionário no evento TSX Winter Carvalho: Doing Business In Brazil. Falou para poucos. Mas todos podem conhecer suas ideias através dos cinco slides que publicados por Os Novos Inconfidentes. Os slides também revelam a desenvoltura e o preparo intelectual do palestrante: seria impossível alguém discorrer com sucesso sobre os temas ali elencados para uma plateia de alta escolaridade sem uma ampla gama de conhecimentos e informações e uma inteligência bem acima a média. Sim, o powerpoint é uma prova cabal da intelectualidade superior do vice. Pode-se discordar das ideias que defende, algumas extremamente liberais ou conservadoras. Mas não dá para negar o brilho de sua mente. Hamilton Mourão está se impondo como um dos membros mais preparados e consistentes do novo governo. Para incômodo de uns, e sorte dos outro

Os slides que sistematizam o pensamento do substituto de Bolsonaro

O primeiro slide da palestra do vice-presidente eleito Hamilton Mourão para empresários em BH traz os Fundamentos Econômicos que na sua visão devem nortear as ações do governo na economia; são sete itens que têm em comum o objetivo de liberalizar, desregulamentar ou destravar as atividades. O general propõe uma espécie de choque de liberalismo no capitalismo nacional.

REVISÃO DO FUNCIONALISMO

O segundo slide apresenta os padrões de uma nova gestão pública baseada em eficiência e meritocracia. O seguinte aponta mudanças e reformas necessárias para a modernização e profissionalização do setor público, com destaque para a parte referente aos servidores, talvez a mais polêmica. Mourão defende uma “revisão da gestão do funcionalismo” que passa pela quebra de paradigmas arraigados no serviço público brasileiro, como a estabilidade e “privilégios” adquiridos ao longo do tempo. O quarto slide traz os “padrões” ou princípios de governança, em que se propõe um governo mais transparente e interativo; o vice eleito não falou em respeito às regras democráticas no país, mas defendeu que o Estado seja entendido como “um organismo plural”, o que pressupõe o reconhecimento da existência de interesses/culturas diversas. E a necessidade de convivência e tolerância com o contraditório para que o Estado funcione.

NOVIDADE NA AGENDA

O quinto e último slide é talvez o mais novidadeiro. Mourão está introduzindo na agenda nacional uma pauta que, se não é inédita, ainda não entrou no foco da mídia e da sociedade: a saída para o nosso cipoal jurídico. Os números do vice sobre o excesso de leis no país são assustadores. E conduzem a uma pergunta perturbadora, tanto para os negócios como para os cidadãos: “Qual a lei que está valendo?”. O site não teve acesso à palestra de Mourão. Mas pelo powerpoint a sua visão de Brasil passa em algum momento por uma reforma profunda da Constituição. Uma grande faxina. Para limpa e reorganizar leis.

A GRANDE LACUNA

Como os leitores podem observar, não há nenhuma referência no powerpoint do vice aos problemas sociais do país. Se ele tem ideias para o combate à pobreza e à desigualdades no país, não as mencionou. Pode ser que Mourão, como um liberal ortodoxo e direitista convicto, considere o avanço social como uma consequência do progresso econômico – e não um vetor de desenvolvimento como acredita a esquerda.

Protagonismo faz parte da missão do representante dos generais

É sabido e difundido nos bastidores de Brasília que Hamilton Mourão não era o vice que Bolsonaro queria. Foi indicado por um grupo de generais, sem opção de veto ou troca. Seu nome na chapa presidencial garantiu o apoio dos militares, que hoje formam uma das grandes – se não a principal – forças de sustentação do novo governo, inclusive com ampla representação no primeiro escalão (07 postos). E ele continua se impondo pelas palavras como uma referência para as decisões e os rumos do governo.

Queira-se ou não, Mourão é um vice protagonista, com projeto e missão bem definidos e prestígio no meio militar. Aliás, ao que tudo indica, Mourão foi indicado pelo grupo militar exatamente para influir e, digamos, orientar o governo Bolsonaro. Se o grupo quisesse um vice-presidente discreto e calado, não teria escolhido um general intelectualizado, que tem muitas ideias e as expressa com desenvoltura.

Previsivelmente, o protagonismo do vice provoca ciúmes em outros atores do governo, desperta temores de um poder paralelo e alimenta teorias de golpe e conspirações. Mourão e sua mania de falar já incomoda o próprio presidente, que o mandou se calar mais de uma vez. Ocorre que quanto mais o vice fala, mais gente presta atenção. Ele está tomado gosto pelo novo papel. E não parece disposto a abrir mão nem do protagonismo nem do estilo de atuação.

Fonte:https://osnovosinconfidentes.com.br