RENDA COMPROMETIDA

Dependentes do combustível para trabalhar, motoristas de aplicativos relatam prejuízos com o período de greve dos tanqueiros em Minas, ao mesmo tempo em que cobram que o valor dos produtos seja reduzido no Estado, como pedem os grevistas. 

Enquanto alguns motoristas dizem ter passado mais de duas horas nas filas pelo combustível, o condutor Carlos Virtuoso conta ter gasto cerca de 40 minutos na espera para completar o tanque, tempo que também levou a perdas. “A sexta é um dia de pico nos apps. Eu estava com um quarto do tanque e abasteci à tarde, quando muitas pessoas que trabalham em BH, mas moram fora, estão se deslocando para a rodoviária ou para o aeroporto. Em 40 minutos, você perde três corridas ou uma corrida muito boa”, conta. 


Diretor de comunicação da Frente de Apoio Nacional dos Motoristas Autônomos (Fanma), ele pontua que a pauta da redução de impostos sobre combustíveis é importante para os condutores, mas pondera que o momento da pandemia não seria o ideal para uma paralisação. Quando os sinais da paralisação dos tanqueiros começaram, Virtuoso diz que a frente entrou em diálogo com fornecedores de gás natural para tentar garantir uma alternativa de abastecimento aos motoristas caso a greve se estendesse. 

O presidente da Fanma, o motorista Paulo Xavier, 53, lembra que a reivindicação dos tanqueiros é apenas para redução de impostos sobre o diesel, deixando de lado as outras fontes de combustível que também são importantes para os condutores. “Hoje, 35% do faturamento do motorista vai para os combustíveis. As plataformas de corrida aumentam preços para os usuários em algumas situações, mas não repassam o valor aos motoristas.  Há parceiros que entregam os carros alugados, porque os custos subiram demais e a receita não acompanhou isso”, detalha.

Durante a paralisação dos tanqueiros, o Sindicato dos Condutores de Veículos que Utilizam Aplicativos do Estado de Minas Gerais (Sicovapp) declarou apoiar a greve.  "Ela não afeta os motoristas, é importante para a redução dos valores altíssimos de ICMS e do valor do combustível. Não aguentamos os aumentos absurdos. Os aplicativos não se importam com o aumento dos nossos custos e continuam abaixando cada vez mais o nosso ganho", disse Gyanny Macedo, presidente da entidade. 

A situação se repete para motoboys que trabalham com delivery, diz um motorista de 33 anos que se identifica como Zuppo. “Desde que esses aumentos começaram, estou abastecendo só o essencial para poder trabalhar. Com a reabertura dos bares em BH, minhas entregas de bebidas, por exemplo, caíram muito. Ems janeiro, sobrevivi com 40% do que costumo ganhar em um mês. Reduzi tudo na minha vida, faço só o fundamental e seguro a onda. Não tem como pagar R$5,20 pelo litro de gasolina e receber R$5 de entrega pelo aplicativo”, conta.

Procurada pela reportagem a plataforma de transporte 99 declarou, por meio de nota, que “está  aberta ao diálogo com motoristas e governo para contribuir com uma solução que seja benéfica para todos. A empresa prioriza a melhoria contínua dos ganhos dos motoristas parceiros e , nesse sentido, viabiliza parcerias e condições especiais nos preços dos combustíveis, manutenção de carros e aluguel com agências para reduzir os gastos. Um exemplo disso é o desconto de 5% em postos Shell em todo o Brasil”. A Uber e o iFood também foram questionados, mas não deram retorno até a publicação desta matéria.