CARREATA

Os motoristas de aplicativos de transporte de Belo Horizonte realizaram uma carreata, na manhã desta terça-feira (5), pedindo mais segurança, após o latrocínio- roubo seguido de morte - que vitimou o motorista Anderson Coelho Alves, de 27 anos, assassinado em Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte. 

A carreata saiu da praça do Papa, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, e seguiu até a Cidade Administrativa, no bairro Serra Verde, região Norte da capital. Os carros saíram com vidros pintados escrito luto e pedindo segurança e dignidade. Uma oração também foi feita na praça. 


"Os índices de assaltos, roubos e latrocínios com os motoristas de aplicativo estão muito altos e nós queremos estabelecer uma conversa com a Polícia Militar para conseguir apoio e mais segurança, com a realização de blitz, por exemplo", disse o presidente da Frente de Apoio Nacional dos Motoristas Autônomos, Paulo Xavier. 

De acordo com ele, os motoristas querem que haja um projeto com a participação das plataformas que oferecem o serviço de aplicativo para que sejam pensadas formas de trazer mais segurança para a categoria. "São exigidos antecedentes criminais dos motoristas e reconhecimento facial, mas dos passageiros isso não é exigido, às vezes não tem nem mesmo foto e ficamos à mercê de criminosos", ressaltou.  Ele disse também que as leis precisam mudar, já que, muitas vezes, a Polícia Militar prende os criminosos e, logo depois, eles são soltos. 

O também integrante do movimento, Carlos Virtuoso, destacou que "a morte brutal do motorista Anderson Coelho atingiu em cheio o coração de todos os 50 mil motoristas. Estamos manifestando em prol de segurança. Nós precisamos ter um apoio das nossas forças de segurança. Nós precisamos de envolvimento maior para que não nos tornemos novas vítimas da violência em Belo Horizonte e na região metropolitana". 

Veja o que diz a Polícia Militar

A capitão Layla Brunnela, porta-voz da Polícia Militar conversou com a reportagem de O TEMPO e disse que a polícia lamenta muito a morte e todos os crimes com os motoristas de aplicativo. "A Polícia Militar vem desencadeando uma série de ações que culminaram no ano passado em comparativo a 2019 em uma redução de 26% nos roubos a veículos, que é o principal crime reclamado por esses motoristas. São feitas abordagens constantes aos motoristas de aplicativos, com operações constantes voltadas para eles", enfatiza.

A capitão disse ainda que nessas abordagens são verificadas a situação dos passageiros no transporte e dadas dicas de segurança para os motoristas. "Temos na região de Belo Horizonte e metropolitana como um todo bases de segurança que estão em locais visíveis e com maior fluxo de veículos e pessoas. Um dos objetivos é que as pessoas tenham a referência e localização mais fácil da Polícia Militar. Então o motorista de aplicativo que deparar com qualquer situação suspeita, ou que esteja com passageiro e suspeitar do passageiro, facilmente vai encontrar uma das bases para parar e pedir apoio a PM", orienta. 

A porta-voz explicou ainda que são feitos muitos contatos com os motoristas para orientá-los em relação a medidas de autoproteção como:

- Ao aceitar uma corrida verificar a avaliação do usuário.
- Ver se não é usuário recentemente criado, pois alguns usuários são criados apenas para cometer o crime.
- Se desconfiar de qualquer situação que não esteja com o que foi passado pelo aplicativo, cancelar a corrida e acionar à polícia. 
- Evitar estacionar em local ermo e escuro para aguardar uma corrida.
-Sempre buscar postos da Polícia Militar, companhias, batalhões, postos de gasolina, comércio e lugares mais movimentados ao invés de ficar na rua sozinho, por que isso pode facilitar a ação do infrator.
- Não fazer corrida fora do aplicativo. 

Crimes com motoristas de aplicativo na região metropolitana de BH 

No último sábado (2) foi encontrado o corpo do motorista de aplicativo Anderson Coelho Alves, de 27 anos, assassinado em Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte. Ele estava desaparecido desde a última quinta-feira (31). O motorista foi vítima de dois criminosos que roubaram o dinheiro dele e, depois, mesmo sem a vítima reagir, eles perfuraram os olhos dele com facas e tentaram degolá-lo. 

No domingo (3) um motorista de aplicativo de 51 anos foi assaltado em Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte. A vítima disse a polícia que recebeu uma chamada no bairro Jardim Vitória, na região Nordeste da capital, por uma mulher, mas, ao chegar ao endereço dois adolescentes embarcaram no carro.

No bairro Nova Vista, em Sabará, a dupla anunciou o assalto e agrediu o motorista com um mata-leão, socos e coronhadas. O motorista pulou do veículo em movimento, e os suspeitos assumiram a direção e fugiram. Dois adolescentes foram presos pelo crime e o veículo recuperado. 

Crimes violentos em Minas 

Dados do governo de Minas, divulgados em dezembro do ano passado, mostram que o Estado teve uma redução de crimes violentos.  Minas Gerais obteve a maior redução no registro de ocorrências de crimes violentos dos últimos nove anos. De janeiro a novembro de 2020 Minas Gerais registrou uma queda de 33,3% no número de ocorrências de crimes violentos, o que equivale a menos 21.194 registros na comparação com o mesmo período de 2019.  

Os roubos consumados, aos quais os motoristas estão mais sujeitos, tiveram uma queda de 36,65%, segundo a divulgação. De janeiro a novembro de 2019 foram registrados 49.809 roubos consumados, enquanto em 2020 o número de ocorrências desse tipo no período ficou em 31.552. Já os crimes de latrocínio cairam de 5, em 2019, para 3 em 2020. Em 2018 foram 5 registros, em 2017, 8 e em 2016, 7. Os dados são da Polícia Civil de Minas Gerais. 

Segurança dos apps

Em nota, a Uber garantiu que prioriza a segurança dos colaboradores e disse que está sempre buscando, por meio da tecnologia, fazer da plataforma a mais segura possível. "Foi anunciada recentemente a introdução da checagem de documentos de usuários - algo inédito nas alternativas de mobilidade urbana", destacou. Com isso, usuários que optarem por pagar a primeira viagem em dinheiro, sem fornecer dados do meio de pagamento digital (cartão de crédito ou débito), precisarão fornecer um documento de identidade, como RG ou CNH. 

Dentre outras medidas adotadas para conter a violência, o app destacou o recurso de machine learning - ferramenta que usa algoritmos e bloqueia passageiros considerados potencialmente mais arriscados, "a menos que o usuário forneça detalhes adicionais de identificação". Os motoristas ainda têm a opção de cancelar viagens caso não se sintam seguros. 

"Além dos recursos já mencionados para segurança do motorista antes mesmo dele pegar o usuário, hoje uma viagem pelo aplicativo já inclui outras ferramentas de segurança durante e depois de cada viagem, tanto para os usuários quanto para os motoristas parceiros", frisou a empresa.

O botão de segurança que é disponibilizado em todas as corridas, e reúne todas as funções de segurança da plataforma, também foi citado pelo app. "Assim, ao longo do trajeto, usuários e motoristas parceiros podem compartilhar a sua localização e o tempo de chegada em tempo real com quem desejarem. O recurso também oferece a opção de ligar para a polícia em situações de risco ou emergência diretamente do app", destacou.

A reportagem não conseguiu contato com a empresa 99. 

(Com Rafaela Mansur e Bruno Menezes)