Após impedir corte de árvore, moradores disseram que houve nova vistoria hoje. 'Ela é o coração da gente', afirma Emil Ritz, de 90 anos, que plantou o espécime em 1961





Depois do protesto que impediu o corte de uma antiga árvore plantada na Avenida Dom José Gaspar, moradores do Bairro Coração Eucarístico, na Região Noroeste de Belo Horizonte, fizeram um ato na manhã desta quinta-feira (26) e acompanharam uma nova vistoria realizada no espécime. Inicialmente, a informação é de que a árvore deve continuar no local. Para garantir a segurança dela, a associação de moradores informou que vai acionar a prefeitura para que ela seja oficializada como patrimônio do bairro.
O presidente da Associação dos Moradores do Bairro Coração Eucarístico (Amocoreu), Cassius Marcellus, disse que nesta quinta-feira estiveram no local técnicos de meio-ambiente, um engenheiro florestal, engenheiro agrônomo e o gerente de Operações da Regional Noroeste da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). “Eles confirmaram que a árvore é saudável, que não impede a passagem de pedestres pelo passeio e que foi uma falha de comunicação da prefeitura não fazer o contato com a Amocoreu avisando da supressão da árvore”, afirma Marcellus. “Ela está em um quarteirão totalmente comercial, por isso a prefeitura não imaginou que teria esse apelo sentimental dos moradores”, explicou.
Conforme o presidente do Amocoreu, a equipe informou que deverá ser realizada uma nova poda de reequilíbrio para que a árvore seja mantida. “Eles disseram que é comum fazerem o corte de uma árvore e moradores se manifestarem contra, mas, na maioria dos casos aprovados, é por conta de árvores doentes. Aí não há reversão”, relatou. “Vamos agir junto à Secretaria de Meio Ambiente para ela ser considerada efetivamente patrimônio do Coração Eucarístico. Vamos fazer um ofício junto à Regional Noroeste, vamos encaminhar à Secretaria de Meio Ambiente e onde mais for possível.”

Por meio de nota enviada hoje, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou que, “atendendo ao pedido da comunidade local e por sua importância simbólica e ambiental, foi feita uma nova avaliação sobre a situação da árvore”.
Ainda segundo o Executivo, “embora a árvore atenda os critérios de supressão de acordo com a Deliberação Normativa 92/2018 aprovada pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente, optou-se por fazer somente a poda para equilíbrio da copa da mesma”.
“A partir desse novo laudo, a árvore será constantemente monitorada pelos técnicos da Gerência de Infraestrutura Urbana da Regional Noroeste Outras medidas de controle deverão ser tomadas para minimizar os impactos que a árvore poderá causar ao passeio de pedestre, à rede elétrica e a rede de abastecimento e água e esgotamento sanitário”, finaliza a PBH.

Árvore salva pela revolta

“Plantei esta árvore, ela é o coração da gente”, lamentou Emil Ritz, de 90 anos, ao ouvir o ruído de motosserras e se deparar com os galhos e folhas no chão do grande fícus, podado na manhã de quarta-feira (25), no Bairro Coração Eucarístico. O início do corte da árvore, considerada um marco do bairro, revoltou e gerou protestos de moradores, que só terminaram após a chegada da Polícia Militar (PM). Diante das reações, a PBH informou que faria uma reavaliação sobre a situação do espécime. De acordo com o último laudo técnico, a árvore foi considerada inadequada para permanecer na calçada por ser muito idosa, com raízes que danificam o passeio, a rua e a rede hidráulica.

Emil Ritz conta que foi o primeiro morador do bairro e que plantou a árvore com o intuito de deixar a rua – a atual Avenida Dom José Gaspar – mais bonita. “Comprei um terreno no bairro em 1961. Era uma rua cheia de mato e queríamos arborizar a região”, contou o idoso, ao lamentar a decisão da prefeitura. Ele se lembra de que a árvore foi plantada em um pequeno vaso e que sentia orgulho ao ver o grande tronco crescer e, em seguida, virar um símbolo importante para os moradores do bairro. “Eu a molhava com a água da cisterna que fiz. Uma vez, fiquei suspenso por uma corda a 13 metros de altura nessa cisterna. Quase morri. Agora, estão cortando a árvore. É um absurdo, fiquei muito triste”, disse.

A administradora Danielle Salgado contou que o corte começou por volta das 9h de ontem. “O pessoal ficou muito nervoso e não queria deixar cortar. É uma árvore velha, mas não está doente. Os moradores e comerciantes, que poderiam pedir para cortar, são todos contra”, garante. Segundo ela, com a notícia do corte, moradores começaram a ir para o local para impedir que isso fosse feito. Em determinado momento, os ânimos ficaram exaltados e houve um bate-boca entre um dos funcionários que trabalhavam na poda e um morador. A PM precisou ser chamada.

Leonardo Arantes Araújo, um dos moradores que estiveram no local e que é engenheiro florestal, diz que o Ficus é mais adequado para parques, mas que não deveria ser cortado porque pode ser considerada um patrimônio da cidade e estava saudável até a intervenção. “Trabalhei no inventário das árvores de BH. Minha equipe esteve no Coração Eucarístico em 2012 e avaliamos (o espécime). Não tenho os dados da avaliação dela, mas, por experiência, posso dizer que é uma árvore sadia. Não tem indício nenhum de larva, de podridão, nenhum galho pendente que possa cair na rua e machucar alguém”, diz Araújo. Mas o engenheiro florestal acredita que, com os cortes feitos ontem, a planta corre o risco de não se recuperar. “Acho difícil porque eles fizeram uma poda lateralizada dela. Ela já tem um peso do lado esquerdo. Vai ter que fazer uma poda de compensação”, explicou.



NOVAS REGRAS No início do ano, os técnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente começaram a se pautar por 38 quesitos na hora analisar qualquer uma das cerca de 500 mil árvores da cidade. Entre os pontos, há questões ligadas diretamente à saúde do espécime e também a desdobramentos nos espaços públicos, além de situações do histórico de reclamações da vizinhança. Cinco itens são considerados prioritários, e caso qualquer um deles apareça, a árvore em questão deverá ser obrigatoriamente cortada. São eles: estufamento na calçada, acompanhado de inclinação do tronco no sentido oposto; desequilíbrio irreversível da copa; pragas que comprometam a estabilidade, como besouro metálico; presença de qualquer outro defeito que interfira no equilíbrio; e obstrução total da calçada em conjunto com bloqueio, mesmo que parcial, de uma via de trânsito de veículos.

A PBH informou que faria uma reavaliação sobre a situação da árvore da Avenida Dom José Gaspar. Segundo a administração municipal, no último laudo técnico da prefeitura, foi constatado que o espécime é inadequado para passeios público, muito idoso e com raízes que danificam a calçada, a rua e a rede hidráulica. “Caso o poder público entenda que há necessidade da supressão, será feito o plantio de três mudas arbóreas no mesmo passeio, sendo elas ipês-amarelos ou magnólias”, explicou a PBH, por meio de nota divulgada na tarde de quarta-feira.