Mesmo fora da área de risco, pousadas de Macacos estão com quartos vazios

Desde que as sirenes da Vale soaram para anunciar o risco de colapso da barragem B3/B4 no pequeno distrito de São Sebastião das Águas Claras, ou Macacos, em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, Walmir Matos, 58, viu desaparecerem os hóspedes da Pousada Sagui, que mantém há 27 anos na principal rua do povoado. Da noite para o dia, todos os leitos ficaram vazios, e as reservas para o Carnaval, que garantiriam 100% de ocupação nos seis quartos que ele possui, foram canceladas. A situação enfrentada por ele se repete por todo o vilarejo. Das dez pousadas que a reportagem de O TEMPO visitou na última sexta-feira, nenhuma tinha hóspedes.

“Estou arrasado. Essa é minha única fonte de renda, e a gente não se preparou financeiramente para suportar isso”, contou Matos, que ocupa os dias com a manutenção da área verde da pousada, já que não tem hóspedes para atender.

Ao todo, proprietários de 58 pousadas em Macacos estão desesperados com a onda de cancelamentos de reservas desde a noite de 16 de fevereiro. “A sensação é de muita frustração. Fizemos uma grande reforma no ano passado, com expectativa de recuperar o investimento em 2019. Agora não sabemos nem como vamos pagar as contas e os funcionários”, revelou a proprietária da Pousada Farol da Serra, Rejane de Oliveira Mello, 42.

Segundo a empresária, o estabelecimento estava com 90% de ocupação garantida para os quatro dias de Carnaval, mas, logo que a notícia do soar das sirenes se espalhou, o telefone da pousada não parou de tocar, com clientes pedindo cancelamento. “Tentei explicar que estamos fora da área de risco, em uma região de montanha. Mas as pessoas estão com medo”, explicou Rejane, que espera um prejuízo de R$ 21 mil até a Quarta-Feira de Cinzas.

Quem vive situação semelhante é a empresária Julieta Oliveira Araújo Lopes, 60. Ela está com tudo pronto para receber turistas nos 16 quartos da Pousada Maria Bonita, mas não tem perspectivas de quando os clientes vão voltar. “É muito triste, porque Macacos é um arraial muito movimentado. Ter esse vazio, esse silêncio, é muito ruim”, lamentou.

O corretor André Lamego, proprietário de uma imobiliária no distrito, conta que tem clientes devolvendo imóveis alugados, dispostos a pagar a multa. “Acredito que Macacos só volta ao normal quando a Vale apresentar laudos atestando a segurança da barragem. Ainda assim, vai demorar meses”, afirma.

A secretária de Turismo de Nova Lima, Fabiana Giorgini, esclareceu que 95% das pousadas de Macacos estão fora da área de risco. Segundo ela, até o momento, todos os esforços estão voltados para a garantia da segurança da população. “É um impacto muito forte e inesperado”, comentou a gestora. Fabiana garantiu que a prefeitura pretende desenvolver um plano de recuperação do turismo no distrito e que vai cobrar ajuda financeira da Vale.

Prejuízo

O alerta na barragem afetou o movimento de cem estabelecimentos – entre pousadas e comércio – em Macacos, que empregam 600 pessoas, diz a Secretaria de Turismo de Nova Lima.

Nem promoção atrai hóspedes

Proprietária de uma pousada com 12 suítes, um restaurante para 150 pessoas e um espaço de aventura com capacidade para receber até 80 clientes por dia em Casa Branca, distrito de Brumadinho, na região metropolitana, a empresária Andréia Sales já amarga um prejuízo de cerca de R$ 60 mil desde o dia 25 de janeiro, quando a barragem I da mina de Córrego do Feijão, da Vale, se rompeu. O estabelecimento está a 12 km da área do desastre e não foi atingido pela lama, mas explicar isso para o cliente que não conhece a região, segundo ela, é difícil. “Quando as pessoas ouvem o nome ‘Brumadinho’, acham que é tudo uma coisa só e ficam com medo”, constatou a empresária.

Andréia tentou criar promoções e reduzir os preços das diárias aos fins de semana para atrair a clientela, mas os artifícios não surtiram efeito. “Eu estava com reservas garantidas para todo o Carnaval, mas 80% das pessoas cancelaram. Agora só tenho garantidos 20% de ocupação”, lamentou a empresária, a menos de uma semana do início do feriadão.

Diante dos prejuízos, ela revelou que começa a pensar em possibilidades de minimizar os impactos do sumiço dos clientes. Uma das alternativas que encontrou foi a fabricação de queijos. “É preciso repensar o negócio para segurar a barra. Mas a gente bota fé que vai melhorar”, diz.

Ajuda federal

Em 16 de fevereiro, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL), esteve em Brumadinho e anunciou a liberação de R$ 62 milhões para criar uma linha de crédito destinada a prestadores de serviços turísticos.

“Estou arrasado, abalado. Os clientes que já tinham pagado antecipado me ligaram pedindo reembolso. Essa é minha única fonte de renda, e a gente não se preparou financeiramente para suportar essa situação.”

Walmir Matos, 58

Proprietário da Pousada Sagui