Por não vivenciarem terrores do passado, como as mortes por Aids, a população mais jovem abriu mão de se proteger. O preservativo caiu em desuso, e os efeitos começam a aparecer.
Em Minas Gerais, houve um aumento de 112% no números de casos de HIV/Aids nos últimos 20 anos. Foram 1.570 em 1999 (ano todo), contra 3.344 de janeiro a 1 de novembro deste ano – uma média de 11 registros por dia. Em Belo Horizonte, o aumento é ainda maior. Foram 359 casos de janeiro a 1 de novembro de 2019, um aumento de 797,5% em comparação com o ano todo de 2010, quando foram 40.
Além do HIV/Aids, outras infecções sexualmente transmissíveis tiveram aumento, como a sífilis, já considerada epidemia no Brasil, que tem gerado 54 casos por dia no Estado, em média.
Fatores. Uma das explicações para o aumento vertiginoso dos casos é a mudança da cultura da população.
Para a superintendente de Vigilância Epidemiológica da SES, Jordana Costa Lima, os jovens estão se arriscando mais justamente por não terem vivenciado a fase em que o diagnóstico de Aids representava quase uma sentença de morte.
A facilidade de acesso ao diagnostico e a melhoria da qualidade de vida também contribuem para o aumento, segundo ela. “Hoje a vida sexual começa mais cedo e termina mais tarde”, pontuou.
No entanto, em muitos casos, as infecções não apresentam sintomas ou só vão apresentar em um estágio mais avançado. Com isso, de acordo com o professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG Unaí Tupinambás, a quantidade de pessoas infectadas pode ser muito maior do que os números oficiais, uma vez que grande parte da população não sabe que possui a doença.
“Não se fala de sexualidade nas escolas, existe o tabu de achar que isso vai estimular os jovens (a praticar sexo antes da hora). Com isso, as pessoas não se veem no risco. No começo dos relacionamentos, o uso do preservativo é natural. Mas, quando a relação está estabilizada, isso se perde. Com os jovens, é ainda mais arriscado por eles estarem numa fase de descobertas, na qual a vida sexual é mais ativa. Transam mais e com um número maior de pessoas”, destaca Tupinambás.
Vencendo a doença há 25 anos
Infectada pelo vírus HIV há 25 anos, a assistente social Heliana Moura, 50, descobriu que era soropositiva depois que ouviu boatos de que um ex-namorado tinha a doença. Hoje, ela trabalha em um Centro de Testagem e Aconselhamento da capital entregando o resultado de exames de HIV.
Segundo ela, a reação das pessoas ao receberam o diagnostico não é muito diferente de alguns anos atrás. “Apesar dos avanços, as pessoas ainda têm medo da morte e também medo do preconceito”, relatou.
Até hoje, não há cura para o HIV/Aids, mas há, atualmente, controle total com o coquetel anti-HIV, uma combinação de drogas que ataca o vírus e evita as complicações derivadas da imunodeficiência. Quando a pessoa é diagnosticada com HIV, significa que ela é portadora do vírus, mas não desenvolveu a doença. Já a Aids é a manifestação do vírus HIV, que ataca o sistema imunológico.
Quando Heliana recebeu o diagnóstico de HIV, ela achou que ia morrer. “Era o mesmo de receber uma sentença de morte. Mudei de Estado, recomecei minha vida em outro lugar. Quando me deram o diagnóstico, fui julgada (pela equipe de saúde). Quem me atendeu, na época, colocou promiscuidade como motivo (da doença) na ficha”, desabafou ela, que até hoje não teve complicações decorrentes do HIV.