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Quando estava ativa na Serra do Curral, símbolo de Belo Horizonte no limite sudeste da cidade, a Mineradora Gute Sicht trouxe revolta por manter suas atividades escavando em área tombada, mesmo diante de embargos e multas diárias. Mas o abandono total de suas atividades, em 2023, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) cassou suas licenças, passou a representar novos riscos para a cadeia de montanhas que é um dos principais cartões-postais da capital mineira. Na antiga área de mineração, encostas estão desabando e erosões ampliam crateras, aumentando a cicatriz na área montanhosa. Há também risco para espécies endêmicas, como um cacto ameaçado de extinção (Arthrocereus glaziovii) e duas cavernas, uma delas hábitat de exemplar raro de opilião, embora as cavidades ainda não tenham sido afetadas.
A situação no maciço de BH representa um alerta para a população de Ouro Preto, que sentiu alívio inicial quando as atividades da Patrimônio Mineração foram paralisadas pela Justiça, depois de empreendimento ter destruído uma caverna e também desrespeitado autuações e ordens de paralisação. A Serra do Curral mostra que a inatividade pode ser tão nociva quanto a exploração sem critérios, se não houver medidas de reparação.
Isso fica evidente na serra a sudeste de BH, onde o abandono da área de mineração da Gute Sicht é visível já da entrada, na Estrada Velha de Nova Lima, em chegada pelo Bairro Castanheiras, em Sabará, na Grande BH. O portão que dava acesso a essa mina e à vizinha Empabra está escancarado, apenas com pedras esparsas colocadas lado a lado que não são obstáculo para carros da comunidade próxima que usam o atalho.
A guarita de vigilância dos seguranças que já barraram deputados e vereadores de Belo Horizonte em tentativas de inspeção hoje está depredada, sua porta arrancada e tombada, todos os vidros estilhaçados. Mais adiante, o último portão se encontra com cadeado e corrente. Uma placa alerta que a entrada é proibida. Mas ao lado do portão não há cercas, portanto quem queira entrar precisa apenas contorná-lo. O antigo alojamento dos funcionários, na beira de um precipício, precisou de uma lona para tentar impedir que o terreno erodido trague a construção.
A destruição em imagens
As imagens registradas pela reportagem do Estado de Minas do solo e a partir de voo de drone mostram muitos danos devido a erosões (veja infográfico ao lado). E com um grande potencial de ampliar as marcas na Serra do Curral, caso nada seja feito e os desmoronamentos sigam na direção da cadeia de montanhas.
Ao ver as imagens disponibilizadas pela equipe do Estado de Minas, o professor Carlos Barreira Martinez, do Instituto de Engenharia Mecânica (IEM) da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) e estudioso dos desastres de mineração, avalia que os danos são condizentes com o desgaste por chuvas em terreno desprotegido. “À primeira vista, superficialmente, parece um processo erosivo mesmo. Isso é só mais um exemplo do que vai sobrar para o estado de Minas Gerais quando as minas se esgotarem”, disse.
Mesmo superficialmente e à distância é nítido identificar erosões pluviais (causadas pelo impacto direto das gotas de chuva no solo exposto) em praticamente todas as encostas. O talude (encosta dos degraus formados em cada andar da lavra) na parte mais alta, a sudeste, com 19 metros de altura, tem sulcos profundos, tanto na rampa que desce do patamar superior para a sua praça (parte plana, no alto), quanto nas suas próprias encostas, onde surgem como rachaduras gigantes, trincando uma distância de 62 metros e chegando a apresentar quase 8 metros de largura.
Pouco abaixo, um talude menor, de 17 metros de altura, tem um grande sulco de erosão de cima abaixo. Na base dele, em outro patamar, uma voçoroca se estende por 65 metros como um rio seco. No fundo, sedimentos de cor diferente do solo abaixo mostram ser aquele um caminho por onde a água das chuvas desce concentrada, carreando sedimentos, material que se deposita como uma pilha na escavação mais profunda da cava.
No lado oeste, há pelo menos três desmoronamentos visíveis. Mas são diversos desabamentos menores que já engoliram cercas fincadas no terreno e suas estacas de demarcação. Caminhos de água riscam as encostas e algumas já se abrem em grandes rachaduras que desafiam a gravidade ou em voçorocas que vão engolindo os degraus que sustentam o empreendimento.
A reportagem do Estado de Minas entrou em contato com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) na tarde dessa quinta-feira (10/4) para saber se ocorreram autuações e multas no empreendimento abandonado pela Gute Sicht na Serra do Curral, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. Contatos com a mineradora também não receberam resposta.
O texto será atualizado em caso de manifestação da pasta estadual ou da empresa.
Histórico de desrespeito
Nos dois empreendimentos de mineração paralisados diante de irregularidades na Serra do Curral e em Ouro Preto – onde uma caverna ainda não estudada foi destruída –, interligações entre acionistas e empresas com participações mútuas foram mostradas em reportagem do Estado de Minas, com coincidências de nomes e práticas que sugerem relações próximas entre As companhias Gute Sicht, Fleurs Global Mineração, Grupo Minerar e LC Participações e Consultoria – Patrimônio Mineração. As mineradoras negam.
Mas a postura insistente, mesmo com ordens de paralisação pela Polícia Militar e embargo da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), que culminou na destruição da caverna da Mina Patrimônio, em Ouro Preto, foi observada em práticas de empresas de grupos associados, administrados por sócios ou ex-associados, como a Gute Sicht e Fleurs Global Mineração na Serra do Curral.
No caso da Gute Sicht, em meio à polêmica da licença aprovada na madrugada pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) para a que mineradora Taquaril Mineração (Tamisa) pudesse começar a operar na Serra do Curral, em 30 de abril de 2022, reportagem do Estado de Minas mostrou que a mineradora já extraía minério de ferro na área da Mina Boa Vista e devastou parte da cadeia de montanhas símbolo de Belo Horizonte, em 4 de maio de 2022.
Vistorias barradas
Em um ano de queda de braço com as autoridades, entre 2022 e 2023, a Gute Sicht impediu fiscalizações da Câmara de Vereadores de Belo Horizonte e da Assembleia Legislativa mineira. Foi interditada pela Prefeitura de Belo Horizonte e continuou operando, acumulando 18 infrações e mais de R$ 1,2 milhão em multas só em um mês de insistência na atividade.
A primeira intervenção no local onde seria a mina da Gute Sicht foi registrado em 2012, na mesma época em que uma estrada de terra de 2,5 quilômetros aos pés da Serra do Curral foi aberta ligando a área de mineração onde está instalada a Empresa de Mineração Pau Branco (Empabra) e a Estrada Velha de Nova Lima. Além da via, foram escavados na encosta da serra taludes que chegaram a cinco patamares, com 43 metros de altura e abrindo uma área de 2,45 hectares (24.500 metros quadrados).
Somente no início de 2020 os caminhões de cor verde da Gute Sicht e as escavadeiras começaram a abrir um rombo acima dos taludes da estrada, chegando a remover o cerrado e a iniciar uma escavação de 3 hectares. Em agosto, a área explorada já tinha crescido para 4,41ha. Em janeiro de 2021, o rombo alcançou 5,15ha sobre o topo da montanha, sendo que em junho a terra e as pedras de canga de minério de ferro já estavam sendo perfuradas e escavadas para a extração do material, removido em caminhões.
Em março de 2022, três escavadeiras já alargavam os rombos e abriam vias que serpenteavam em torno das crateras. Suas pás carregavam caminhões que se enfileiravam nas estradas e vias internas para receber a carga de minério de ferro. A intervenção chegou a 5,75ha quando reportagem do Estado de Minas denunciou a agressão à Serra do Curral, em 6 de maio daquele ano, em meio à polêmica da licença aprovada na madrugada pelo Copam para a Tamisa começar a operar na Serra do Curral, em 30 de abril.
Àquela altura, a lavra da Gute Sicht já tinha cinco degraus (taludes) com um total de 50 metros de profundidade de diferença do ponto mais alto ao mais baixo escavado. A maior expansão foi registrada em maio de 2023, um mês depois de determinação da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) que suspendeu a licença da mineradora, e também de ação do Ministério Público mineiro que levou à cassação da permissão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Naquele momento, a mina chegou a 6,5 hectares de área revolvida, com rombos de mais de 25 metros de profundidade e uma diferença de 75 metros entre as partes mais baixas e os cerca de sete taludes mais altos.
Rede de ligações
Por meio de ligações de quadros intercambiantes de sócios, administradores, representantes legais e empresas com participações societárias, reportagem do Estado de Minas mostrou que um grupo com personagens e CNPJs coincidentes influencia as mineradoras paralisadas Gute Sicht, na Serra do Curral, e a LC Participações e Consultoria - Patrimônio Mineração, em Ouro Preto, onde uma caverna não catalogada foi destruída. A forma de agir, com prejuízos ambientais e desrespeito a ordens de paralisação da polícia, embargos ou multas diárias são comuns à operação desses grupos.
A Fleurs Global Mineração, também envolvida em parte dessas ligações, chegou a acumular 17 infrações, funcionou à base de termo de ajustamento de conduta e voltou a operar em 2024 após licença aprovada no Conselho Estadual de Políticas Ambientais (Copam). Apesar disso, a Patrimônio Mineração, o Grupo Minerar e a Fleurs Global Mineração negam relação entre empresas e alegam ter quadros societários distintos.
Justiça vê mesmo grupo
A Justiça Federal (TRF-6) considerou na primeira instância que a Fleurs Global Mineração e a Gute Sicht pertencem a um mesmo grupo econômico, após denúncia do Ministério Público Federal e inquérito da Polícia Federal.
O representante legal do Grupo Minerar, Helder Adriano Freitas, foi sócio-administrador da Gute Sicht até 2022, quando esta teve operações suspensas. Já a Patrimônio Mineração, com atividade suspensa em Ouro Preto, é sócia do Grupo Minerar. Helder é também sócio da JHMinas Participações ao lado de outro ex-sócio da Gute Sicht, João Alberto Paixão Lages (sócio-fundador da LC Participações e Consultoria, em 2017) que tinha parte na antiga BVT Mineração, onde Alexandre Ignácio Gomes Abrantes era sócio. Atualmente, ele é sócio da Gute Sicht.
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A destruição em imagens
As imagens registradas pela reportagem do Estado de Minas do solo e a partir de voo de drone mostram muitos danos devido a erosões (veja infográfico ao lado). E com um grande potencial de ampliar as marcas na Serra do Curral, caso nada seja feito e os desmoronamentos sigam na direção da cadeia de montanhas.
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Mesmo superficialmente e à distância é nítido identificar erosões pluviais (causadas pelo impacto direto das gotas de chuva no solo exposto) em praticamente todas as encostas. O talude (encosta dos degraus formados em cada andar da lavra) na parte mais alta, a sudeste, com 19 metros de altura, tem sulcos profundos, tanto na rampa que desce do patamar superior para a sua praça (parte plana, no alto), quanto nas suas próprias encostas, onde surgem como rachaduras gigantes, trincando uma distância de 62 metros e chegando a apresentar quase 8 metros de largura.
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No lado oeste, há pelo menos três desmoronamentos visíveis. Mas são diversos desabamentos menores que já engoliram cercas fincadas no terreno e suas estacas de demarcação. Caminhos de água riscam as encostas e algumas já se abrem em grandes rachaduras que desafiam a gravidade ou em voçorocas que vão engolindo os degraus que sustentam o empreendimento.
A reportagem do Estado de Minas entrou em contato com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) na tarde dessa quinta-feira (10/4) para saber se ocorreram autuações e multas no empreendimento abandonado pela Gute Sicht na Serra do Curral, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. Contatos com a mineradora também não receberam resposta.
O texto será atualizado em caso de manifestação da pasta estadual ou da empresa.
Histórico de desrespeito
Nos dois empreendimentos de mineração paralisados diante de irregularidades na Serra do Curral e em Ouro Preto – onde uma caverna ainda não estudada foi destruída –, interligações entre acionistas e empresas com participações mútuas foram mostradas em reportagem do Estado de Minas, com coincidências de nomes e práticas que sugerem relações próximas entre As companhias Gute Sicht, Fleurs Global Mineração, Grupo Minerar e LC Participações e Consultoria – Patrimônio Mineração. As mineradoras negam.
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