FLEXIBILIZAÇÃO


O anúncio de uma nova reunião com os comerciantes, feito na segunda-feira (13) pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD) nas redes sociais, deixou lojistas e empresários otimistas em relação à reabertura das atividades na capital. Kalil disse, na ocasião, que os protocolos em relação ao comércio estão “ficando prontos”. Entidades que representam diferentes setores esperam deixar o encontro, nesta quarta-feira (15), com planos de flexibilização definidos e, em alguns casos, até com autorização para reabrir. 


De acordo com infectologistas do comitê de enfrentamento da pandemia de Covid-19 da prefeitura, por ora, não há condições seguras nem data prevista para a reabertura, mas eles admitem que isso pode mudar nos próximos dias. Eles dizem que o objetivo da reunião é discutir propostas.

“O prefeito desmarcou a outra reunião porque tinha expectativa de não abrir. Agora que ele está chamando, a expectativa é de abrir o comércio, todo o comércio. Algumas atividades estão fechadas há quase 120 dias”, diz o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marcelo de Souza e Silva, referindo-se a uma reunião agendada entre Kalil e representantes do comércio para 8 de junho e desmarcada pelo chefe do Executivo.

A CDL-BH propõe que todo os segmentos do comércio retomem as atividades. A ideia é que as lojas de rua funcionem de terça a sexta-feira, das 10h às 16h, e, aos sábados, das 9h às 13h; os shoppings, de terça-feira a sábado, das 12h às 20h, e os bares e restaurantes, de terça a domingo, entre 12h e 20h. Segundo Silva, a estimativa é que 140 mil pessoas tenham perdido o emprego nos setores de comércio e serviços na capital com a pandemia. “A CDL está pronta para ajudar em ações de orientação e conscientização”, pontua.

A proposta do Sindicato do Comércio Lojista de Belo Horizonte (Sindilojas-BH) é um pouco diferente: quatro dias de abertura e três de fechamento a cada semana, sendo que o comércio em geral funcionaria de terça-feira a sexta-feira, nos horários já estabelecidos pela prefeitura anteriormente, e os shoppings, de quarta-feira a sábado, das 12h às 20h. A entidade defende a reabertura de todos os setores. “Acho que devem nos chamar para discutir os protocolos. A expectativa é positiva, vamos tentar (a reabertura já na próxima semana)”, afirma o presidente do Sindilojas-BH, Nadim Donato.

Shoppings

O superintendente da Associação dos Lojistas de Shopping Centers de Minas Gerais (AloShopping), Alexandre França, acredita no acordo para funcionamento dos malls entre quartas-feiras e sábados.

“Estamos percebendo agora que vai vingar, o prefeito conseguiu aumentar o número de leitos, nossa percepção é otimista de que a partir de segunda-feira vai haver flexibilização, dentro dessa restrição de horários e com medidas de distanciamento e controle de pessoas”, diz. Segundo França, a projeção é que 15% dos lojistas de shoppings tenham entregado as chaves, causando 10 mil demissões em Minas.

Bares e restaurantes

Para o presidente nacional da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci, a reabertura dos estabelecimentos do setor deve ocorrer com urgência. Segundo ele, o delivery funcionou para menos da metade das casas e, entre aquelas que implantaram a modalidade, o faturamento fica em torno de 20% do registrado normalmente. Estima-se que o número de bares e restaurantes que vão ficar fechados definitivamente pode chegar a 7.000 em toda a região metropolitana de Belo Horizonte.

"Para nós, essa reunião só faz sentido se o prefeito estiver por anunciar um plano de reabertura, entendemos que o setor deve abrir junto com o comércio em geral. Estamos prontos para a retomada, muito atrasados e quebrados", afirma Solmucci.

Segundo o infectologista Carlos Starling, membro do comitê da prefeitura, os protocolos anunciados por Kalil já foram usados na primeira fase de flexibilização. “O que está sendo feito é um aprimoramento, uma revisão do que foi planejado anteriormente. A reunião vai discutir o plano e ouvi-los”, explica Starling.


Diálogo, apenas

“Não vamos soltar ninguém no meio do pico. Estamos dialogando”, disse nesta terça-feira o infectologista Estevão Urbano, completando: “Falo por hoje (terça-feira), porque a coisa é tão complexa que se trabalha dia a dia. Pelo dia de hoje, a reunião não vai ter o caráter de abrir, e sim de situar as pessoas, discutir planos de reabertura, sem dar garantias do dia em que ela vai começar”. 

Segundo ele, embora o índice de isolamento não esteja ideal, a taxa de ocupação dos leitos tem se estabilizado. No dia 29 de junho, quando o fechamento do comércio não essencial foi iniciado na capital pela segunda vez, o índice de isolamento era de 47,8%, chegando a 54,9% (longe dos 70% ideais) no último domingo. Já a taxa de ocupação da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para Covid-19 estava em 84% nesta segunda-feira, e a de enfermaria, em 76%.

"O mais importante é dizer que, neste momento, com a curva em ascensão, no mínimo, estamos próximos do pico. Se não chegamos, vamos chegar em breve e, portanto, é um momento de as pessoas redobrarem os cuidados", acrescenta Urbano.

Perda de postos de trabalho 

Belo Horizonte perdeu 38.437 postos de trabalho entre março e maio, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) detalhados pela Fecomércio MG. Foram 60.979 admissões e 99.416 desligamentos.

“Esperamos que, nessa reunião, seja possível iniciarmos a construção de um cronograma que dê previsibilidade aos empresários quanto à reativação da economia”, diz o economista-chefe da Fecomércio MG, Guilherme Almeida, defendendo o diálogo com o setor empresarial para planejar a retomada segura da flexibilização.