O Colégio Militar de Belo Horizonte, administrado pelo Exército Brasileiro, anunciou nessa quarta-feira que seus alunos voltarão a ter aulas presenciais já na próxima segunda (21). As atividades foram interrompidas em 18 de março por causa da pandemia de COVID-19, que já causou 6.500 mortes em Minas Gerais.

Apesar de alguns pais defenderem o retorno da presença de alunos nas escolas, a medida é criticada por especialistas. Com base em indicadores da doença e comparando a situação de Belo Horizonte com a de outros lugares do mundo, o médico infectologista Carlos Starling, membro das Sociedades Mineira e Brasileira de Infectologia demonstra que o momento atual da capital mineira não permite a volta às aulas.

“Considerando o parâmetro americano do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), que não deu certo nos EUA, onde as escolas estão voltando atrás, a nossa condição atual é ainda de altíssimo risco para retorno das aulas presenciais”, declara Starling, que também é membro do Comitê de Enfrentamento à Epidemia de COVID-19 de Belo Horizonte.

Segundo os dados apresentados pelo médico, os indicadores belo-horizontinos estão muito distantes do quadro considerado ideal para retorno das atividades presenciais nas escolas.

“O parâmetro do CDC (americano) para retorno às aulas presenciais é calculado somando os casos novos dos últimos 14 dias, dividindo pela população e multiplicando por 100.000. Se o resultado estiver abaixo de 5 casos por 100.000 habitantes, há um risco muito baixo de transmissão nas escolas. De 5 a 20 casos por 100.000 habitantes, o risco para as escolas é baixo. O parâmetro da Coreia do Sul é 5 casos por um milhão de habitantes. Vem dando certo, com idas e vindas. Estamos a léguas disto!”, critica o infectologista.

Ele completa explicando que, se for feito em Belo Horizonte o mesmo cálculo utilizado pelos Estados Unidos – somando os 4.076 casos novos nos últimos 14 dias e dividir pela população (2.517.070) e multiplicando por 100.000 – o resultado é de alerta.

“Para BH isto dá, nos últimos 14 dias, de 4 a 17 de setembro, 162 casos por 100.000 habitantes! Estamos mais de dez vezes acima do limite americano, que já não deu certo, e cem vezes acima do limite usado na Coreia”, compara.

Para o médico, não é possível afirmar com precisão em que data será seguro o reabrir as escolas. Porém, ele acredita que, dentro de um mês, o assunto possa ser retomado.
 

“O que manda são os números. Temos que ir acompanhando. Se o número está 10 ou 15 vezes acima do que deveria estar, não é possível. Nós caímos de 200 para 162 em uma semana. Acredito que dentro de um mês a gente possa começar a pensar nisso”, diz Carlos Starling.

Sem beijos e abraços

A administração do Colégio Militar informou que adotará um rigoroso protocolo de segurança para alunos, professores e colaboradores, incluindo revezamento de turmas em dias pré-determinados.

Por meio de comunicado, a instituição de ensino declara que “o colégio adotará triagem na entrada e saída, com aferição de temperatura corporal, oferta de álcool em gel, sanitização frequente das instalações, adoção de distanciamento, redução da quantidade de alunos em sala e uso de máscaras”.

Dentro do colégio está proibido qualquer tipo de contato físico, como beijos, abraços ou aperto de mãos. Também não haverá aulas de educação física. A direção recomenda que cada estudante leve sua própria garrafa de água, que poderá ser reabastecida nos bebedouros. 

A presença dos alunos será obrigatória, exceto para aqueles do grupo de risco, devidamente comprovados por atestado médico.
O cronograma de atividades prevê aulas apenas de segunda a sexta-feira. Inicialmente, cada turma irá à escola em dois dias na semana, em caráter experimental. Terão aula os alunos do 8º e 9º ano do Ensino Fundamental e 1º, 2º e 3º do Ensino Médio. Os portões ficarão abertos das 6h30 às 7h.
 
Volta às aulas no interior

O Governo de Minas Gerais deve autorizar, nos próximos dias, a reabertura das escolas de ensino básico e superior tanto da rede pública, quanto da particular.

A data ainda não foi definida, mas a volta ao ensino presencial é dada como certa para este ano ainda, podendo mesmo ocorrer nas próximas semanas.

Para o infectologista Carlos Starling, a doença se comporta de maneira diferente nas várias regiões do estado. Portanto, a volta das atividades em algumas cidades do interior.

“Isso é normal. Depende dos dados. Há regiões em que, realmente, a epidemia está numa fase mais tardia. Em outras, ainda está acelerando. Como o estado é muito grande, é normal que a epidemia se comporte de maneira diferente em determinados lugares”, afirma.