MOVIMENTO NAS REDES

Membros de um grupo intitulado Conservadores Cristãos usam as redes sociais para cobrar da Prefeitura de Itaúna adoção do chamado “tratamento precoce” para pacientes com Covid-19. A prática, que não tem eficácia comprovada, é contraindicada para a doença. Nas postagens feitas na internet, o grupo ataca um servirdor e o prefeito da cidade. 

O grupo criou uma petição online contra o gerente de Comunicação do Executivo, Hermano Martins, acusando-o de estar “colocando opiniões pessoais nas publicações da prefeitura”. As críticas ao servidor são feitas nos comentários da página oficial da administração municipal. 

Em uma das postagens da prefeitura, foi reproduzida uma reportagem em que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, admitiu a falta de comprovação científica do tratamento precoce, em seu depoimento na CPI da Covid. Logo, o perfil recebeu críticas. 

“O maior negacionismo da atualidade é negar o tratamento precoce ou imediato”, comentou o perfil do grupo Conservadores Cristãos. Em outros comentários, pessoas contrárias ao posicionamento da prefeitura mandaram mensagens citando o gerente de Comunicação. Em seguida, em outro comentário, o grupo acusa o perfil da prefeitura de apagar comentários de seus membros.

Procurado pelo Aparte, Martins afirmou que os comentários com menção direta a ele foram ocultados sob a justificativa de que qualquer servidor não pode ser atacado e exposto em uma rede social de um órgão público do qual ele é apenas um funcionário.

“Se quiserem ir na minha página e criticar o que eu penso, podem ir, garanto que minha resposta será mais incisiva do que a do perfil da prefeitura. Mas eu não posso ser exposto daquela forma no perfil do órgão em que trabalho”, disse Martins.

Uma das organizadoras do grupo, a professora e empresária Eliane Soares admitiu ter feito comentários citando o servidor porque, segundo ela, o gerente de Comunicação coloca opiniões pessoais em um perfil público. De acordo com Eliane, “é inadmissível que comentários sejam apagados de uma rede social que é pública”. 

“Ele fala pelas crenças dele, inclusive faz crítica ao atual governo federal, mas se esquece de que está em uma rede pública e quem mantém essa rede são os pagadores de impostos aqui, da cidade, e muitos pensam diferente dele”, explicou a professora. 

Victor Telles, o idealizador da petição contra a gestão das redes sociais, afirmou que ao apgar os comentários a prefeitura estaria ferindo a liberdade de expressão.

"Independente do que as pessoas defendem, a nossa crítica é exatamente sobre apagar os comentários, porque isso fere o princípio da liberdade de expressão. Não entendo ele (Martins) querer se esconder atrás da prefeitura para disfarçar a deselegância e autoritarismo dele", disse.

O prefeito Neider Moreira (PSD) criticou a postura do grupo. “Eles tentam intimidar a administração pública e servidores ligados para prevalecer a única verdade em que acreditam: a deles. Essas pessoas, na sua grande maioria bolsonaristas, tentam colocar essas questões de tratamento precoce, que não tem comprovação científica nenhuma, na cabeça das pessoas. O que tem que ser demonstrado pela administração é que é importante tomar medidas sanitárias e aguardar o momento de vacinação”, ressaltou.

Tratamento precoce

Segundo Eliane, o grupo cobra que a prefeitura incentive e treine os médicos do PSF a receitarem o tratamento precoce para pacientes que queiram fazer. 

“As pessoas com mais condição financeira, na hora que aparecem os sintomas, correm para o médico particular e entram no tratamento imediato com resultados de recuperação ótimos. Já as pessoas mais pobres vão ao PSF e o médico receita dipirona. Então o que a gente pede é que a prefeitura respeite o direito das pessoas que queiram fazer o tratamento e que elas possam ter acesso na rede pública”, ressaltou. 

O prefeito, por sua vez, disse que tanto cloroquina, como ivermectina (medicamentos usados no dito tratamento precoce) são disponibilizados na farmácia básica municipal. "Se a pessoa tiver uma receita de um médico que decidiu receitar esses medicamentos, eles estão disponíveis na farmácia básica."

Moreia afirma, porém, que nem a prefeitura e nem ele, por ser médico, podem "desrespeitar a ciência, incentivando e financiando a prescrição desses medicamentos que não possuem comprovação científica."