Passados três anos desde o início da pandemia de covid-19, o cenário atual mostra uma situação bem diferente da vivenciada nos últimos anos. Na Fundação Ezequiel Dias (Funed), os primeiros meses de 2023 revelam, em termos laboratoriais, um momento de menor envio de amostras e menor percentual de resultados detectáveis para covid-19. Enquanto isso, outros vírus respiratórios, como o sincicial, vêm apresentando um aumento considerável em termos de positividade nas amostras analisadas. 

Para a referência em vírus respiratórios do Serviço de Virologia e Riquetsioses da (SVR) Funed, André Leal, a positividade geral para vírus sincicial respiratório (VSR) em 2023, até o dia 25/2, estava em torno de 10%. "Se considerarmos somente o mês de fevereiro e crianças menores de dois anos, o percentual salta para 30% de resultados detectáveis para o vírus. Em contrapartida, ao compararmos com o coronavírus, o percentual geral de resultados detectáveis para as amostras encaminhadas para a Funed, em 2023, é de aproximadamente 11%. Se olharmos para os menores de dois anos, o índice de resultados detectáveis é 1%", revela.  

Fato esse que corrobora para um aumento no número de casos de doenças respiratórias em crianças. "Por ser facilmente confundido com uma gripe ou resfriado, o VSR pode levar à bronquiolite e à pneumonia, sendo o principal responsável por infecções de vias respiratórias em bebês de até dois anos de idade", explica a referência técnica da Funed, André Leal. "Ele pode, inclusive, levar à hospitalização, sendo estimado que, no mundo, uma a cada 50 crianças menores de cinco anos que morrem, morrem em decorrência da infecção por esse vírus", ressalta. 

Altamente contagioso, o vírus é transmitido pelo toque e pelo ar, entrando no organismo pelo nariz e pela garganta. Em grande parte das ocorrências, ele se manifesta como um resfriado, provocando tosse, febre, coriza e dor de garganta. Em alguns casos, pode evoluir para falta de ar.  

Para a chefe da Divisão de Epidemiologia e Controle de Doenças da Funed, Josiane Barbosa, o trabalho realizado pela Fundação, por meio do Laboratório Central de Saúde Pública de Minas Gerais (Lacen-MG), contribui de diversas formas para o controle das doenças causadas por vírus respiratórios.

"No eixo da vigilância laboratorial dos vírus respiratórios, nós fornecemos dados e informações sobre quais os vírus estão circulando, qual a faixa etária da população apresenta maior quantitativo de resultados detectáveis, a distribuição geográfica desses vírus em Minas Gerais e sua circulação no tempo", comenta. A exemplo disso, Josiane cita que, a partir da subtipagem do vírus influenza detectado pela Funed, em parceria com a Referência Nacional (Fiocruz-RJ), há a atualização da vacina contra gripe para o ano subsequente. "Então, diante dos dados e informações, os gestores têm melhores condições para tomada de decisões que protejam e recuperem a saúde da população", enfatiza. 

Comportamento do VSR 

Nos anos de 2018, 2019 e 2021, a vigilância laboratorial realizada na Funed demonstra que os picos de circulação do VSR eram no outono (abril e maio. 

"Já em 2020, é possível perceber alterações nesse padrão devido às fortes restrições sociais, principalmente quanto ao isolamento de crianças. Agora, em fevereiro deste ano, já observamos a maior frequência de resultados detectáveis desse vírus nos últimos seis anos. Essa alteração na frequência de circulação é atribuída, por alguns pesquisadores, aos desdobramentos da pandemia", comenta André. 

A frequência de circulação do VSR nos meses de fevereiro dos últimos seis anos foi: 2018 - 6%; 2019 - 33%; 2020 - 10%; 2021 - 19%; 2022 - 21%; 2023 - 56%. Entende-se por frequência de circulação a proporção em que um vírus é encontrado, considerando 100% das amostras detectáveis para algum vírus respiratório pesquisado laboratorialmente. 

Vigilância Laboratorial 

O chefe do SVR da Funed, Felipe Iani, conta que, em termos de amostras recebidas, quando considerados os programas de vigilância laboratorial dos vírus respiratórios, pode ser verificado um aumento exponencial na capacidade de resposta da Funed, principalmente se comparado com os últimos dois anos. "A pandemia causada pelo Sars-CoV-2 mudou a escala de amostragem e dos programas de vigilância para vírus respiratórios no Brasil. Para termos uma ideia, entre janeiro e março de 2022, a Funed recebeu 64.597 amostras para pesquisa de um único vírus (Sars-CoV-2) e outras 10.699 amostras foram encaminhadas para pesquisa do Painel de Vírus Respiratórios (PVR), o que representa um trabalho de vigilância laboratorial mais complexo, tendo em vista que esse painel pesquisa entre quatro e 11 vírus respiratórios diferentes em uma amostra", afirma.  

Felipe Iani comenta também que, ao longo dos últimos cinco anos, houve um aumento de oito vezes no quantitativo de amostras encaminhadas para análise no painel. "Em 2018, a Funed processou 3.424 amostras para PVR e, em 2022, foram processadas 25.604 amostras", sinaliza. 

Em termos de análises laboratoriais, atualmente é realizada na Funed a técnica de RT-PCR em tempo real para detecção dos 11 vírus respiratórios. Há também o isolamento dos vírus em laboratório de segurança de nível três.