A região metropolitana de Belo Horizonte teve o maior aumento de frota de carros entre as demais metrópoles do Brasil em 2018, em comparação com o ano anterior, de acordo com o Mapa de Motorização Individual 2019, realizado pelo Observatório das Metrópoles, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O número de veículos passou de 2,7 milhões em 2017 para 2,897 milhões em 2018, um aumento de 7,3%. O percentual é quase o dobro dos registrados no país todo, que teve 3,7% de elevação da frota, e na Grande São Luís, segunda colocada no ranking das regiões metropolitanas, com 3,9%.
De acordo com a pesquisa, existem 48,6 carros para cada cem moradores de Belo Horizonte e entorno, ou seja, para cada dois habitantes, um automóvel. De 2017 para 2018, foram acrescidos quase 200 mil veículos nas ruas da capital mineira e nos arredores. Quando se considera a série histórica de dez anos (2008 a 2018), a frota da Grande BH quase dobra, com um aumento de 91%, o segundo maior do país.
Segundo o professor de engenharia de trânsito da UFRJ e coordenador do mapa, Juciano Martins Rodrigues, o aumento pode ter sido provocado por uma série de fatores. Uma das hipóteses é a diminuição do número de usuários do transporte coletivo. Na capital, a redução foi de 8,7% de 2016 para 2018, quando o número de acessos de passageiros ao serviço caiu de 408,2 milhões para 372,7 milhões, conforme a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans).
“De 2016 para cá, o usuário do transporte público tem migrado para outras alternativas mais atrativas, seja o carro próprio, a motocicleta ou, em grande crescente, o transporte por aplicativo”, explica o pesquisador.
O maquiador Márcio Ferreira, 51, mora na região de Venda Nova, em Belo Horizonte, e trabalha na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na Pampulha. Ele conta que, desde que comprou um carro, há três anos, foram raras as vezes em que utilizou o ônibus “Não consigo viver sem o carro. Quando saio à noite e quero beber, preciso voltar de Move, mas passo horas esperando o ônibus. O serviço é muito ruim. Ultimamente, prefiro não beber para poder ir de carro”, comenta.
Para o engenheiro civil e professor de transporte e trânsito da Universidade Fumec Márcio Aguiar, o transporte público em BH é ruim e caro. “Com isso, o público procura alternativas de melhor custo-benefício”, diz. No entanto, o aumento do transporte individual preocupa. “Com mais carros, motos e motoristas inexperientes em circulação, o número de acidentes cresce. O poder público precisa melhorar o transporte coletivo, inclusive ampliar o metrô”, concluiu.
Locadoras contribuem para alta
Belo Horizonte emplaca veículos das maiores locadoras do país. Segundo os pesquisadores, isso contribuiu para o aumento da frota de carros da cidade.
“A pesquisa observou toda a região metropolitana e não apenas BH. As locadoras geram impacto, mas não podemos afirmar que o crescimento se deva, em sua maioria, a elas”, disse o pesquisador Juciano Rodrigues.
BH emplaca veículos de locadoras que rodam no país e renovam a frota a cada dois anos. Só na Localiza, são cerca de 280 mil”, pondera o consultor em transporte Osías Baptista.
BHTrans quer atrais mais usuários
A Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) informou que trabalha na ampliação das faixas exclusivas e preferenciais de ônibus. Atualmente, são 45 km de vias. Segundo o diretor de Transporte Público da empresa, Daniel Marx, a equipe estuda a criação de mais 70 km de faixas.
“Em processo mais adiantado, já temos um empréstimo avançado do Banco Mundial para a criação de uma faixa exclusiva na avenida Amazonas, com uma obra que tem previsão de dois anos para ser entregue”, disse o diretor.
Segundo ele, a queda na demanda por ônibus preocupa o órgão e o poder público, uma vez que o aumento de transportes individuais pode gerar um colapso no trânsito da cidade.
“Se pensarmos que um ônibus convencional comporta 70 passageiros e, em média, transporta 40, e que um carro comporta cinco e em média transporta 1,5, as vias da capital não comportarão tantos veículos. É preciso, sim, criar medidas que atraiam esse usuário para o transporte público, que é a opção mais sustentável, pensando na cidade como um todo”, afirma.
Para isso, segundo Marx, a empresa planeja investir, além das ampliações, em tecnologia e conforto. “Estamos estudando meios tecnológicos para facilitar ao passageiro o acesso ao bilhete, como o pagamento por aplicativo. Além de ampliação na rede de ônibus com ar-condicionado e freio hidráulico e do monitoramento e fiscalização para garantir a pontualidade dos ônibus”, destaca.
Motos
Segundo o Mapa de Motorização Individual 2019, o número de motos, nos dez anos analisados (2008 a 2018), quase dobrou na região Sudeste do país – de 5,5 milhões para 10 milhões
Desemprego
De acordo com diretor de Transporte Público da BHTrans, Daniel Marx, a alta taxa de desemprego no país pode ter contribuído para a queda de usuários no transporte coletivo. “A maioria dos passageiros de ônibus utiliza vale-transporte. Com o desemprego em alta, caiu o número de pessoas com esse benefício”, afirmou.