CONSUMO

 


O domingo começa, aos poucos, a voltar ao normal em Belo Horizonte. Nesta manhã, a Avenida Afonso Pena, no Centro da capital, voltou a ser fechada para o trânsito de carros para dar espaço aos artesãos que ficaram seis meses em casa por causa do isolamento social necessário para conter a pandemia do novo coronavírus.

A retomada da Feira de Arte, Artesanato e Produtores de Variedades, conhecida como Feira Hippie, foi marcada por muitos visitantes que ocuparam a avenida. Acostumada a receber turistas, ainda não atendeu muita gente de fora. Os feirantes consultados pela reportagem do Estado de Minas observam que o público que prestigiou o local, em sua grande maioria, foi o próprio belo-horizontino que decidiu sair para passear.

Algumas barracas estiveram vazias, pois há restrições para trabalhadores do grupo de risco. Mesmo assim, muitos artesãos idosos trabalhavam no local. O mesmo ocorreu com os clientes que, apesar de terem comorbidades, saíram de casa para fazer compras.

Manifestação

Embora tenham recebido autorização para funcionar, o setor de alimentação da feira protestou no primeiro dia de reabertura. Isso porque eles precisaram ser realocados em dois grupos: um na Rua Espírito Santo, entre a Avenida Afonso Pena e a Rua dos Carijós, e um outro trecho na Avenida Álvares Cabral, entre a Avenida Afonso Pena e a Rua Goiás.


Com gritos de “alimentação, fora exclusão”, os manifestantes alegam que estão sendo “expulsos”, “jogados pelas beiradas”, pois não queriam ter que sair da Avenida Afonso Pena.

feiraripe2.jpg

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

 


Alguns feirantes que não se uniram ao movimento montaram suas barracas de alimentação e registraram fila dos consumidores. Ainda assim, eles foram vaiados pelos protestantes.
 
Vestido de verde e amarelo, Rodrigo Netcheka Moura integrou ao movimento e foi reprimido pela maioria. “Às vezes acredito que aqui dentro tenha algum candidato a vereador que defende a feira alinhado a esse prefeito que destruiu nossa cidade e está destruindo nossa feira”, disse o homem à reportagem. “Eu sou patriota, brasileiro e luto por um Brasil melhor, não idolatro político nem partido político. Nossa Feira Hippie é conhecida internacionalmente. É um absurdo a prefeitura fazer essa ditadura de tirar a praça de alimentação da feira e colocar na rua Espírito Santo”, completou.

Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que a medida foi necessária para garantir a segurança sanitária, tanto dos expositores quanto dos usuários. “Para isso, foi necessário segregar o setor de alimentação, uma vez que as pessoas precisam retirar a máscara para o consumo de comida e bebida, aumentando o risco de contaminação. A PBH salienta ainda que alterou a localização atendendo a indicação escolhida pelo próprio grupo de expositores e enquanto durar a pandemia, essa condição deverá vigorar”, diz o texto.


Movimento contente


Os artesãos que trabalham na feira estão contentes com a reabertura. “A expectativa que eu tinha é que hoje seria mais confuso, mas estou otimista”, disse Marcia Regina Vieira. Feirante há 40 anos, ela concorda com a manifestação. “Acho que estão certos porque ficaram um pouco afastados, mas acredito que tudo vai chegar ao seu lugar, é questão de tempo, e se Deus quiser vai dar tudo certo.”

 

feiraripe3.jpeg

Marcia Regina Vieira, feirante há 40 anos(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

 

Lindacy de Souza Silva também trabalha no local há 40 anos e concorda com o movimento, mas diz que “o importante é a feira ter voltado”. Apesar de não ter vendido muita coisa até às 10h, ela está satisfeita de ter a oportunidade de expor suas bolsas fabricadas a mão, uma a uma. “Está devagar mas está nas bênçãos. Estou muito feliz em poder voltar tomando todos os cuidados”, disse.


O passeio de domingo foi muito esperado por Silvania Ribeiro, de 48. “Estou gostando demais da feira que voltou com pessoas mais de longe, ficou bem melhor”, conta a  técnica em patologia clínica. Ela foi fazer compras acompanhada da filha e do genro. “Aproveitei para passear também. Sempre visitei a feira e estava com saudade”, disse a freguesa que, na metade do trajeto já havia garantido um sapato e um arranjo de flores.

Curiosidade


Em meio ao movimento de vaivém dos clientes, um homem chama atenção e provoca risada do público. É Paulo Roberto, conhecido como “Chito”, que vende miniaturas em formato de fezes. “Olha a bosta fresquinha, tem cocô de primeira qualidade”, ele grita para atrair a clientela.


O produto, feito por ele com pó de serra e cimento, custa R$ 15. “Na rua estão vendendo de tudo, então eu pensei em fazer alguma coisa que ninguém vende. Hoje já vendi três”, conta o comerciante, que tem como melhor recompensa a diversão do freguês.


Prevenção e proteção


Por consequência da nova modalidade, com maior distanciamento entre as barracas, além de 90 agentes da Guarda Civil Municipal, mais de 100 policiais militares reforçaram o policiamento.

"A gente já vem planejando o policiamento desde o anúncio de reabertura da feira", conta major Rafael Rafel Coura Cavalcante. O militar conta que o monitoramento começou na madrugada, quando os feirantes começam a arrumar suas barracas "Temos viaturas no entorno para ver como está a situação. A gente tem um perímetro maior, então por isso a gente teve apoio da Academia de Polícia. São cerca de 100 policiais a mais só para cuidar da feira", explica.

feiraripe4.jpg

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)


A previsão é que o reforço policial para evitar furtos, roubos e outros crimes, fique até 16h, mas se precisar, o militar garante que pode estender o horário.

Em decreto publicado no Diário Oficial do Município na quinta-feira (24), a prefeitura estabelece as regras que comerciantes e frequentadores devem seguir para evitar a transmissão do novo coronavírus.

Mais espaço

Com as novas normas, a feira ocupa um espaço maior, indo desde a Praça Sete, no quarteirão entre as ruas Carijós e Rio de Janeiro, até a Rua dos Guajajaras.

Os principais cuidados a serem observados incluem o uso obrigatório de máscara por todos os frequentadores, inclusive os feirantes; higienizar as mão dos visitantes todas as vezes que requisitarem uma mercadoria e a proibição dos provadores.

Além disso, os comerciantes ficam responsáveis por direcionar as filas e demarcar os espaços para evitar aglomerações, observando o distanciamento de dois metros entre as pessoas.

Shows de música ao vivo, dança e apresentações teatrais também não são permitidos, pois podem gerar concentração de pessoas. Já no setor de alimentação, os cuidados na manipulação dos alimentos devem ser reforçados.Continua depois da publicidade
 
As pessoas não podem consumir comidas e bebidas no entorno das barracas, apenas sentados em mesas e cadeiras que devem ser limpas e higienizadas, após a troca de clientes.