Entidade da indústria mineira soltou uma notinha pífia enquanto o seu presidente viaja pelo exterior; marca Sesi não é vista no apoio às vítimas

FERNANDO COURA E FLÁVIO ROSCOE (FOTO FACEBOOK)

É espantosa a omissão da Fiemg em relação ao rompimento da barragem em Brumadinho. Nesta segunda-feira, 11, o portal da entidade não trazia nenhum conteúdo de texto ou imagem referente à tragédia; é como se ela não ocorresse em Minas ou não tivesse nada a ver com a indústria. Até o momento, a única manifestação da Fiemg foi uma notinha pífia divulgada com seis dias atraso. Pelas proporções da tragédia e por envolver uma das principais indústrias do estado, o silêncio da federação industrial chega a ser constrangedor para a sua diretoria e os associados.

Flávio Roscoe, o presidente da Fiemg, estava no exterior quando a lama soterrou centenas de pessoas. E por lá ficou. Sua chegada está prevista somente para amanhã, terça-feira, 12. O presidente da República, Jair Bolsonaro, mesmo às vésperas de uma cirurgia delicada, veio até Minas verificar in loco a tragédia. Já o representante dos industriais do estado entendeu que não havia motivo para interromper as férias. Limitou-se a autorizar uma notinha oficial, que foi divulgada em seu nome, como se ele estivesse em seu posto. Na verdade, desde antes da nota e até hoje, a Fiemg vem sendo presidida interinamente pelo vice de Roscoe, Fernando Coura, justamente o representante da mineração na entidade.

A única manifestação da Fiemg sobre Brumadinho é uma dessas notas chinfrins que assessores elaboram e divulgam só para não dizer que não se tocou no assunto. Uma formalidade ou obrigação. E mesmo assim cumprida com enorme atraso: a tal nota foi publicada no portal da entidade e liberada para a imprensa somente na quinta-feira, seis dias após a tragédia. Tirando duas ou três expressões de empatia com as vítimas da lama, o texto é uma defesa prévia e enfática da Vale, na qual a Fiemg deposita “total confiança”(veja a matéria logo abaixo).

Ainda mais espantosa que a omissão da Fiemg é a ausência do seu braço social, o Sesi (Serviço Social da Indústria), nos trabalhos de socorro às vítimas em Brumadinho. O Sesi arrecada recursos com a tributação sobre a folha de pessoal das indústrias exatamente para prestar serviços aos trabalhadores industriários. No entanto, qual a contribuição que vem dando no apoio aos funcionários e familiares atingidos pela lama da barragem da maior indústria de mineração do estado? Quem anda por Brumadinho não vê nenhuma tenda ou estrutura com a marca do Sesi. No portal do Sesi, a tragédia não existe, tão ignorada como na plataforma da entidade mãe.

“Posição da indústria”

“O lamentável e doloroso rompimento da barragem Córrego do Feijão exige da sociedade mineira profunda reflexão. A posição da Fiemg é clara e dela não nos afastaremos: tem que haver uma investigação rigorosa sobre as causas para que esse tipo de ocorrência não volte a acontecer. O cenário exige de todos serenidade para entender, compreender e analisar os fatos. Nossa primeira preocupação, neste momento, é apoiar e garantir assistência às vítimas e suas famílias. É isso que estamos fazendo no Sistema Fiemg. Temos total confiança na capacidade da Vale de tratar a questão com a agilidade e seriedade que o assunto merece”, afirmou o presidente Flávio Roscoe.

Por outro lado, ele também destacou a extrema necessidade de preservar a indústria da mineração e as empresas que nela operam. “A existência de recursos naturais em nosso país e as empresas que nele atuam não prejudicam ninguém. Pelo contrário, geram benefícios principalmente sob a forma de empregos e na geração de recursos, via impostos, para financiar políticas sociais.”

Para ele, não se deve demonizar a atividade mineradora e nem as empresas. “A indústria precisa se adaptar às novas exigências da sociedade.Tragédias como essa não podem mais acontecer. Essa é a nossa posição – a posição da indústria”, disse o presidente Flávio Roscoe.