CONFLITO TEM 22 ANOS

Pelo menos 450 famílias que viviam em um acampamento do Movimento Sem Terra (MST) foram alvos de uma ordem de despejo em Campo do Meio, no Sul de Minas, na madrugada desta quarta-feira (12). A ação ocorreu no entorno da antiga Usina Ariadnópolis, espaço é alvo de uma disputa de posse há mais de 20 anos – em 1996, a empresa faliu e deixou de operar na região, ocupada desde 1998 pelos membros do movimento.


Ao todo, 150 policiais militares participam do despejo no local conhecido como Quilombo Campo Grande – um helicóptero chegou a ser utilizado. Já as famílias foram abrigadas em um acampamento do MST perto da cidade. Conforme o movimento, centenas de viaturas cercaram a ocupação e agiram com "truculência" diante das famílias. A entidade alega ainda que a ordem de posse ocorreu em meio à pandemia do coronavírus.

Do outro lado, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) informou em nota que a Polícia Militar atua como "garantia do poder de polícia do Oficial de Justiça responsável pelo cumprimento da ordem de reintegração, de acordo com a determinação do Poder Judiciário". Já o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) ainda não se pronunciou sobre o caso.

Conflito antigo

Desde o fim de julho, o MST diz que "viaturas e drones atormentaram a paz das famílias acampadas" quando a polícia teria "invadido" casas e ainda levado um os membros do movimento preso por resistência. O homem foi solto no mesmo dia e a entidade chegou a denunciar o caso ao Ministério Público diante da tentativa da PM em "coagir e incriminar os trabalhadores".

"Os dias seguiram tumultuados, com a intensificação da denúncia do despejo iminente, a busca de saídas jurídicas junto ao Ministério Público e a organização do acampamento para a resistência. Em meio à corrida contra o tempo, circularam dezenas de áudios das famílias denunciando as ações autoritárias, as rondas de viaturas aceleradas, as blitz nas estradas de acesso à pequena cidade", declarou a entidade em nota.

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Cerca de 2,5 mil pessoas tiveram que abandonar a região e foram abrigadas em um acampamento do MST em outra cidade /Foto: MST

 

E na madrugada desta quarta, a ordem judicial foi cumprida e mais de 2,5 mil pessoas precisaram deixar o acampamento. Em julho do ano passado, a Justiça chegou a negar a reintegração de posse – o relator do caso, desembargador Luciano Pinto, enfatizou que o pedido não atendeu aos requisitos básicos. Nos últimos 22 anos, os membros do MST já foram alvo de cinco ações na localidade.

Ainda em 2019, um decreto do ex-governador Fernando Pimentel (PT) que transformava o entorno da usina em área de interesse social foi revogado pelo Estado após os proprietários do local questionarem o governo sobre o valor que seria pago para o assentamento das famílias.

No local, estava em construção um novo polo de conhecimento e tecnologia de agroecologia, com produção de alimentos sem uso de produtos químicos e fertilizantes tóxicos.