O ex-superintendente da Polícia Federal em Minas Gerais, Rodrigo de Melo Teixeira, foi preso nesta quarta-feira (17) em operação que desbaratou um esquema de corrupção, lavagem de dinheiro, vazamento de informações e concessão irregular de licenças ligadas ao setor de mineração no estado.

A investigação está ligada à Operação Rejeito, deflagrada também nesta quarta-feira (17).

A Justiça Federal determinou a prisão preventiva de Teixeira, de outros empresários, servidores públicos e de doleiros, além do sequestro de bens avaliados em centenas de milhões de reais, bloqueio de contas e suspensão das atividades de dezenas de empresas.

Segundo a PF, Rodrigo Teixeira ocupava posição central no grupo criminoso, atuando como gestor oculto da empresa Gmais Ambiental, registrada formalmente em nome da esposa, Daniela Santos Wandeck.

Negociação de direitos minerários
Investigações revelam que Teixeira negociava direitos minerários de alto valor, inclusive barragens consideradas de alto risco ambiental, movimentando milhões de reais em contratos e participações atípicas para servidores públicos.

Interceptações eletrônicas mostram que a atuação do delegado na Gmais ocorria de forma ostensiva e diária, inclusive orientando pagamentos, sociedade e participação nos lucros de transações minerárias. Em tratativas junto a empresas do setor e servidores públicos, Teixeira articulava ações administrativas, reuniões e fiscalizações.

As provas reunidas demonstram o uso intensivo de empresas de fachada e movimentação de dinheiro em espécie. Gilberto Carvalho, apontado como articulador junto a órgãos públicos, admitiu receber repasses regulares de R$ 7.500 para pagamento de propina a servidores da Agência Nacional de Mineração (ANM) e da Secretaria de Meio Ambiente (Semad), segundo aponta a Polícia Federal.

Diálogos e áudios transcritos, conforme a investigação, revelam cobranças e solicitações diretas por propinas para concessão de alvarás e licenças ambientais, viabilizando atividades minerárias na Serra do Curral e em outras regiões protegidas. Os valores envolvidos em contratos e distribuição de lucros superam R$ 400 milhões, segundo as peças da investigação.

Vazamento de operação e uso indevido do cargo

A Operação Contrassabotagem, sequência das apurações da Operação Poeira Vermelha, mostrou que membros do grupo receberam informações privilegiadas sobre datas de ações policiais, frustrando mandados e permitindo o planejamento de blindagem patrimonial após as primeiras ações do Ministério Público e da PF em 2020.

Mensagens analisadas mostram que Teixeira usou sua influência para intervir em investigações, mobilizar servidores, manipular atividades de fiscalização e facilitar acordos entre empresas.

Complexo esquema societário e blindagem de patrimônio

Os acusados, conforme a PF, criaram 21 empresas de fachada entre 2020 e 2022, usadas para registrar imóveis, veículos, movimentar grandes quantias em espécie e distribuir lucros de exploração minerária. A Brava Mineração destinou ao grupo valores que renderiam, ao longo dos anos, mais de R$ 27 milhões para Rodrigo Teixeira e sócios ocultos, sem vínculo formal comprovado ou aporte declarado.

Entre as operações de maior risco, destaca-se a tentativa de negociar e explorar áreas com barragens classificadas entre as sete de maior risco de rompimento no país, conforme documentos da ANM.

Medidas judiciais e destaques das prisões

Além de Teixeira, foram presos outros nomes do núcleo empresarial, operativo e financeiro do grupo, como Alan Cavalcante do Nascimento, Ursula Deroma, Phillipe Westin Deroma Furtado e Gilberto Henrique Horta de Carvalho. Houve ainda o deferimento de sequestras de bens, bloqueio de contas, suspensão de atividades empresariais e afastamento de cargos públicos.