Ele diz que viu várias vezes o helicóptero dos bombeiros, mas não era visto

Reunidos na cozinha da família, em Passos, no Sul do Estado, o pai e os irmãos de Eduardo Gomes Moraes, 35, o “Chiquinho”, acharam que estavam “vendo coisas” quando o viram andando sozinho e comendo doce de leite no quintal de casa. Sorridente, depois de andar mais de 50 horas nos três dias em que ficou desaparecido na serra da Canastra, Chiquinho só pediu cigarro e comida quando reencontrou a família.

“Foi um milagre de Natal. Eu nasci de novo”, comemorou o único a sobreviver a uma tromba-d’água que levou sete pessoas à morte no último sábado. Cinco das vítimas estavam junto com Eduardo, na cachoeira Zé Pereira, em São João Batista do Glória, onde faziam rapel e nadavam.

Em entrevista à rádio Super Notícia 91,7 FM, Chiquinho contou ter sobrevivido após escalar um penhasco de 15m e se agarrar às pedras para não ser levado pela água. Para se sustentar, comeu dois sanduíches que tinha em uma mochila e, a partir daí, passou a ter somente água para beber. “Eu não conseguia pensar direito, estava fora do ar, não conseguia achar o rumo certo”, explicou. Durante os dias em que ficou perdido, Chiquinho diz ter visto todos os dias, mais de uma vez, o helicóptero do Corpo de Bombeiros que fazia as buscas pelas vítimas. “Eu gritava e abanava os braços, só que não me viam”, afirmou.

Foi somente no início da noite de Natal que ele conseguiu chegar a uma fazenda e viu um conhecido, que o ajudou a retornar para casa. Desesperado, o dono do local quis ligar para a família, mas Chiquinho só queria um prato de arroz, feijão e ovo. A notícia ele preferia dar ao vivo. “Queria abraçar meu pai. O que me deu força esse tempo todo foi minha família”, contou emocionado.

Debilitado, com os pés inchados e cheio de picadas de insetos pelo corpo, Chiquinho foi levado à Santa Casa de Passos logo depois de chegar em casa, onde fez exames de sangue, foi submetido a um raio-x dos rins e dos pulmões e recebeu soro. Nessa quarta-feira (26) ele teve que retornar ao médico. A recomendação agora é repousar. “Agora só vou a praia e piscina, de cachoeira não quero saber mais, não”, disse.

Angústia. Durante a tromba- d’água, Chiquinho nadava com amigos, junto com outro grupo que fazia rapel no local, quando foi atingido. Ele tentou salvar a amiga Pollyana Laiane Diniz Furtado, 26, e chegou a segurá-la pelas mãos e pelo cabelo, mas não conseguiu evitar que ela fosse levada. “Ela escorregou, foi uma fatalidade”, lamenta.