Eventos da natureza, em especial as chuvas no final de 2018, causaram o rompimento da barragem Mina Córrego do Feijão de acordo com parecer elaborado por especialistas divulgado pela Vale, no Relatório do Painel de Especialistas sobre as Causas Técnicas do Rompimento da Barragem I do Córrego do Feijão. Juntamente às precipitações, a liquefação da estrurura se deu por falta de drenagem interna significativa e problemas construtivos. 

Com 88 páginas, o documento foi divulgado na manhã de terça (12). "O Painel concluiu que a súbita perda de resistência e o rompimento resultante da barragem marginalmente estável foram devidos a uma combinação crítica de deformações específicas internas contínuas devido ao creep e uma redução de resistência devida à perda de sucção na zona não-saturada causada pela precipitação intensa no final do ano 2018".   

O relatório apresenta a dinâmica do rompimento. "Os vídeos mostram um rompimento do talude da barragem, começando da crista e estendendo-se para uma área logo acima do primeiro alteamento. "A crista da barragem caiu e a área acima da região do pé se abaulou para fora antes que a superfície da barragem se rompesse."  

Os especialistas atestam que não havia sinais aparentes de que a catástrofe poderia ocorrer. "O rompimento também é um evento único sob a perspectiva de que ocorreu sem sinais aparentes de instabilidade antes do rompimento", descrevem. Reforça que imagens de drones, que sobrevoaram a região se dias antes, não mostravam sinais de instabilidade e que nenhum dos métodos de monitoramento detectou deformações e alterações significativas da estrutura antes do rompimento. 

"A barragem foi monitorada extensivamente usando uma combinação de marcos topográficos ao longo da crista da barragem, inclinômetros para medir deformações internas, radares de solo para monitorar as deformações de superfície da face da barragem e piezômetros para medir mudanças nos níveis internos de água, entre outros instrumentos."  

A liquefação da estrutura foi causada pelo alto nível de água, que não foi drenada de maneira adequada. "A falta de recursos de drenagem significativos, juntamente com a presença de camadas de rejeitos finos menos permeáveis dentro da própria barragem, resultaram em um nível de água alto dentro da barragem."  

O relatório também atesta que não houve nenhum tremor significativo que pudesse ter resultado no rompimento. "Reconheceu-se que os gatilhos poderiam ser relativamente pequenos, devido às altas tensões de cisalhamento e a natureza frágil dos rejeitos dentro da barragem antes do rompimento. Também foi reconhecido que os gatilhos poderiam decorrer do efeito cumulativo de vários pequenos eventos. Nenhum sismo foi registrado na região no dia do rompimento." 

Veja o que diz o relatório 

O Painel constatou que o rompimento e o deslizamento de lamas dele resultante decorreram da liquefação estática dos rejeitos da barragem.   

- Um projeto que resultou em um talude íngreme construído a montante; 

- O controle de água dentro da bacia de rejeitos que às vezes permitia que a água do lago de decantação chegasse perto da crista da barragem, resultando no lançamento de rejeitos fracos perto da crista;  

- Um recuo de projeto que empurrou as partes superiores do talude para cima dos rejeitos finos mais fracos;  

- A falta de drenagem interna significativa que resultou em um nível de água persistentemente alto na barragem, principalmente na região do pé da barragem;  

-Alto teor de ferro, resultando em rejeitos pesados com cimentação entre partículas. Esta cimentação gerou rejeitos rígidos que apresentavam comportamento potencialmente muito frágil se submetidos a um gatilho que ensejasse uma resposta não drenada;  

- Precipitação regional alta e intensa na estação chuvosa, o que pode resultar em perda significativa de sucção, produzindo uma pequena perda de resistência nos materiais nãosaturados acima do nível da água.