SUL DE MINAS

Um macaco bugio-ruivo (Alouatta guariba) foi resgado na mata de um bairro residencial em São Lourenço, no Sul de Minas, nesta semana. A ação teve como objetivo a preservação da espécie, que é nativa da Mata Atlântica e encontra-se ameaçada de extinção em Minas e no mundo.

Há três meses, o animal apareceu no local e muitos moradores se sentiram amedrontados. Na semana passada, o Comitê de Acompanhamento do Programa de Manejo Populacional de Alouatta guariba, coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do qual o Instituto Estadual de Florestas (IEF) faz parte, foi acionado para remover a espécie do local. 

"As pessoas estavam receosas e reclamavam que o animal começou a entrar nas casas, a rasgar cortinas e a pegar comida. Além disso, ele passou a se deslocar para áreas mais movimentadas da cidade, tornando a convivência um risco para ele", comenta a veterinária e analista ambiental do Núcleo de Biodiversidade do IEF, da Regional Sul de Minas, Danielle Andery. 

Segundo ela, a captura de um animal silvestre, como o bugio, só ocorre quando há uma justificativa. "Sempre pedimos às pessoas que coexistam com esses animais, sem oferecer comida ou abrigo a eles. Essa convivência harmoniosa entre os seres vivos é importante para a biodiversidade. No entanto, no caso de São Lourenço, onde muitos moradores começaram a se incomodar com essa presença, vimos que havia risco para o espécime e fomos capturá-la." 

Resgate 

O resgate foi feito em parceria com Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Para retirá-lo da mata, a veterinária, em parceria com o veterinário do Ibama, Daniel Vilela, usou a vocalização emitida pelo próprio animal, registrado em vídeo pelos moradores. "Com o vídeo em que ele emitia o som, conseguimos atraí-lo e ele se aproximou facilmente de nós. Usamos um rifle com dardos de sedativos e o capturamos. Logo em seguida, aplicamos uma medicação para reverter os efeitos do anestésico", conta.

Foram realizados exames de sangue no macaco, a pedido das autoridades de saúde, para controle da febre amarela. Ele foi encaminhado para o Hospital Veterinário da Universidade Federal de Lavras (Ufla), onde será avaliado. Cabe ao Centro de Primatologia do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) decidir sobre o destino do animal, que pode variar desde a soltura até a inclusão dele em algum programa de reprodução da espécie.

Proteção da espécie 

O macaco bugio-ruivo desempenha um papel crucial na natureza como indicador da saúde dos ecossistemas da Mata Atlântica, onde habita. Sua presença e comportamento são indicativos do equilíbrio ecológico da região, uma vez que sua alimentação à base de folhas e frutas contribui para a dispersão de sementes, promovendo a regeneração das florestas. Além disso, sua presença nas copas das árvores ajuda a controlar as populações de insetos, desempenhando um papel importante na regulação da biodiversidade.

"A conservação do macaco bugio não apenas protege uma espécie ameaçada, mas também contribui para a preservação de todo um ecossistema e dos serviços ambientais essenciais que ele oferece. Essa operação do IEF, em conjunto com o Ibama, visa não apenas resgatar indivíduos em situação de risco, mas também promover a conscientização da população sobre a necessidade de proteger as espécies nativas e seus habitats. O macaco bugio é um símbolo da biodiversidade da região e merece nossa atenção e cuidado," comenta a diretora de fauna do IEF, Adriana Spagnol de Faria. 

Plano  

O Comitê de Acompanhamento do Programa de Manejo Populacional de Alouatta guariba, do qual o IEF faz parte, integra o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Primatas da Mata Atlântica e da Preguiça-de-coleira da (PAN PPMA), sob coordenação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O plano contempla 14 espécies ameaçadas de extinção, sendo que desse total, 12 ocorrem em Minas ou no limite do estado. O PAN pretende aumentar o habitat e reduzir o declínio das populações de primatas e preguiça ameaçados da Mata Atlântica em cinco anos.  
* Com informações da Agência Minas