A recente briga entre Prefeitura e empresas de ônibus em Belo Horizonte é só a ponta do iceberg que representa o problema do  transporte coletivo e da mobilidade urbana na capital. O sistema público vem encolhendo, abandonado por usuários, em sinal inequívoco de ineficiência das políticas para o setor.

De acordo com o Balanço Anual da Mobilidade Urbana de Belo Horizonte de 2019, embora a taxa de deslocamento de pessoas na cidade tenha crescido bem mais que a população,  o uso do transporte coletivo diminuiu e o de transporte individual aumentou. Com isso as metas previstas no Plano de Mobilidade para 2020 não devem ser atingidas.

Segundo consta no balanço, enquanto a população da capital teve aumento de 4,4% no período de 2002 a 2010, o número de viagens realizadas na cidade, independente do meio de transporte, cresceu em 67% entre 2002 e 2012. Nesse mesmo período, as viagens de carro passaram de 25% para 32,6% e as de moto saltaram de 0,9% para 4%.

O uso do transporte coletivo, que engloba os ônibus, micro-ônibus e metrô, teve queda expressiva passando de 44,6% das viagens realizadas em 2002 para apenas 28,1% em 2012. E não é só isso: segundo a BHTrans, entre os anos de 2016 e 2017, Belo Horizonte bateu recorde histórico ao registrar queda de 8% no número de usuários das linhas de ônibus da capital.

Além do conforto e independência que o transporte individual proporciona a quem o utiliza, o tempo também é uma questão chave na hora de o belorizontino escolher o seu meio de locomoção. Os dados apresentados pelo Balanço da Mobilidade apontam que, enquanto em 2002 a razão entre o tempo de viagem no transporte coletivo sobre o tempo de viagem no individual era de 1,88, em 2012 esse valor passou para 2,31.

Isso significa que o tempo gasto para ir de um lugar a outro no transporte público em 2012 era mais de duas vezes maior que o tempo gasto no transporte individual. O Balanço não possui esses indicativos mais atualizados, porém existe outro, a velocidade média do transporte coletivo no período de pico da tarde, que mostra que a velocidade de locomoção só vem caindo de 2015 para cá: passou de 16,1km/h em 2015 para 14,5km/h em 2018.

O ano de 2020 seria um ano chave para a verificação das medidas previstas no Plano de Mobilidade, que existe em BH desde 2011. O plano, que inclui ações no setor do transporte público coletivo no sentido de atrair usuários do transporte particular com melhora do serviço de forma geral e incluir usuários de baixa renda ao tornas preços mais acessíveis, tem seu primeiro marco temporal neste ano, com várias metas a serem batidas.

Entretanto, com a análise de todos os indicadores presentes nos Balanços Anuais da Mobilidade, os observadores do setor acreditam que a situação é crítica e de alerta e que as medidas não serão implantadas nem parcialmente. Das 21 resoluções permanentes ou de curto prazo para a mobilidade coletiva, embora 67% (14) tenham sido começadas, apenas 9,5%, ou duas delas, foram concluídas. As justificativas para esse cenário seriam a crise e a baixa de investimentos.

O resultado disso a população já conhece bem: transporte coletivo caro e serviço de baixa qualidade, o trânsito ruim e muita dificuldade para chegar em casa depois de um dia cansativo de trabalho.