Se Belo Horizonte mantiver, nos próximos três anos, o ritmo médio de crescimento da frota de veículos registrado desde 2015, a capital deverá ter mais veículos do que pessoas em 2022. A cidade tem, hoje, uma frota de 2.199.069 veículos, o que representa expansão de 7,7% em relação aos pouco mais de 2 milhões contabilizados em 2018, conforme levantamento divulgado pelo Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG) na útlima terça-feira (12). Nas ruas da capital, os números se traduzem em um cenário de cada vez mais congestionamentos e aumento do tempo gasto no trânsito. 

Para chegar a essa projeção, a reportagem do Hoje em Dia fez um cálculo - verificado pelo Coordenador Geral de Graduação e Coordenador do curso de Ciências Econômicas do Ibmec-MG, Márcio Salvato - que teve como base dois dados diferentes. O percentual médio de aumento da frota da capital mineira desde 2015 e a metodologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para estimar a população da cidade nos útlimos anos, já que o último censo é de 2010.

O órgão oficial de estatísticas do país estima em 0,64% a taxa média de crescimento anual da população em BH. Mantido esse ritmo, a cidade, que tem uma população aproximada atual de 2.512.070, conforme o próprio IBGE, deve alcançar o número de 2.560.611 moradores em 3 anos. 

 

Lucas Prates / N/A

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Para especialista, cenário da mobilidade urbana de BH nos próximos anos é o "pior possível" 

 


A expansão da frota de veículos, no entanto, é bem maior. Nos últimos cinco anos, o aumento médio foi de 6,6%. Se o ritmo for mantido, a cidade terá, em 2022, aproximadamente 2.669.105 veículos. Ou seja, em três anos, BH poderá ter cerca de 100 mil carros a mais do que moradores, algo em torno de 1,04 carro por morador. "Este é um cálculo até conservador", pondera o economista Márcio Salvato. Além disso, grande parte dos motoristas trafega sozinho, conforme já mostrou o Hoje em Dia.

Para se ter ideia, o volume de veículos em Belo Horizonte cresceu 1 milhão em 10 anos, passando de 1,2 milhão em 2009 para quase 2,2 milhões neste ano, um aumento de 80%. Segundo dados do Mapa de Motorização Individual 2019, do Observatório das Metrópoles, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Região Metropolitana de BH teve o maior aumento da frota de veículos entre as metrópoles do país. A região teve um aumento de 7,3% de 2017 para 2018, enquanto a média nacional foi de 3,7%, quase metade do índice da Grande BH. 

Para o chefe da Engenharia de Transportes e Geotecnia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Nilson Tadeu Nunes, o cenário de mobilidade urbana em BH é o pior possível. "Nós não temos um estudo estratégico e conjunto para a Região Metropolitana. BH faz um e cada cidade faz o seu. Dentro de alguns anos, ou você muda de cidade ou compra um helicóptero", pontua.

O especialista pondera que para mudar a situação atual será preciso um projeto de impacto, com a implantação de novas tecnologias, o que demanda contratar, projetar. "Isso não é algo que vá ser resolvido em um ou dois mandatos, mas sim em 20, 30 ou 40 anos. Por isso é importante que seja feito um plano definitivo e estratégico. O que não dá para entender é como que o metrô de uma cidade do tamanho de BH não tenha nem a linha 1 concluída e, nesse meio tempo, a cidade tenha investido milhões para implantar o Move, que pode até funcionar nas pistas exclusivas, mas acaba andando a 4 km/h quando chega na região central nos horários de pico", argumenta Nunes. 

Para combater cenário, BHTrans aposta na mobilidade sustentável

Diante de um cenário cada vez pior para o trânsito da capital, a BHTrans vem investindo em planejamento estratégico para uma mobilidade mais sustentável. Em entrevista ao Hoje em Dia, Elizabeth Gomes de Moura, diretora de Planejamento e Informação da empresa, defende que o objetivo principal é a melhoria do transporte coletivo - com redução do tempo de viagem, melhoria da frota e mais segurança e conforto para a população -, além de um incentivo aos chamados modos ativos de transporte: uso da bicicleta e, também, de deslocamentos curtos a pé. 

"Temos que conseguir que a mobilidade seja sustentável. Quando eu transporto dezenas de pessoas no transporte coletivo, há uma redução de vários carros de passeio, que tomam um espaço grande na pista. Também pretendemos reduzir os deslocamentos mais longos. Isso tudo ainda reduz a emissão de gases do efeito estufa", defende. 

Para reduzir o tempo de viagem no transporte coletivo, a BHTrans está priorizando o aumento das faixas exclusivas de ônibus e a criação de linhas que interliguem as várias regiões de BH sem que seja preciso passar pelo hipercentro. "Além de trazer mais conforto e segurança, com veículos com ar-condicionado e suspensão a ar, também estamos melhorando a condição dos usuários na via, com abrigos mais modernos e que trazem informações sobre as linhas que passam por ali. Sem falar nos aplicativos que facilitam o planejamento do deslocamento, como o Siu-Mobile", completa Elizabeth. 

Para estimular o uso da bicicleta em BH, a empresa está projetando mais quilômetros de ciclovia, a disponibilização de mais bicicletas compartilhadas na cidade e, também, autorização para embarque com bicicletas dobráveis no transporte coletivo. "Para impulsionar os pequenos deslocamentos a pé, temos melhorado o tempo semafórico nas travessias de pedestres, rebaixado calçadas e implantando, aos poucos, as áreas de Zona 30, na Savassi e Área Hospitalar", finaliza a diretora.