Uma clínica veterinária foi alvo de uma operação policial, na manhã desta sexta-feira (22), em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Policiais apuram se são verídicas as denúncias de maus-tratos contra a clínica. Alguns clientes relataram que os animais eram congelados após a morte, para que continuasse havendo a cobrança pela internação.

O dono da clínica Animed foi preso preventivamente e a mulher dele não foi encontrada pelos agentes da Polícia Civil durante a operação Arca de Noé. Contra ela, há um mandado de prisão temporária. Os veterinários são suspeitos de vender medicamentos proibidos e vencidos e de reaproveitar próteses de animais mortos, além de realizar internações e procedimentos sem necessidade. Também há denúncia de que retiravam sangue de cães e gatos sem a permissão dos donos. 

Além dos dois mandados de prisão, são cumpridos cinco mandados de busca e apreensão, nas casas dos proprietários da clínica, de dois funcionários e de um advogado. A Justiça determinou ainda a suspensão das atividades da empresa e do exercício da profissão dos dois proprietários, bem como a quebra do sigilo bancário e fiscal das contas dos dois. Os veterinários poderão responder por delitos diversos, entre os quais estelionato, maus-tratos, associação criminosa e crimes ambientais.

De acordo com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), que participou da operação por meio da Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Nova Lima e da Coordenadoria Estadual de Defesa da Fauna, foi constatado que produtos e substâncias tóxicas ou nocivas à saúde humana ou ao meio ambiente eram descartados de forma irregular em uma rede pluvial que deságua no córrego do outro lado da rodovia MG 030, onde fica a clínica, ou em recipientes comuns, sem nenhuma identificação.

A clínica Animed informou que "está surpresa com a operação e que se pronunciará, publicamente, após análise de todas as denúncias sofridas. Além disso, se coloca à disposição da Justiça para esclarecimento dos fatos e afirma que irá cooperar, no que for preciso, com a investigação da Polícia Civil para que todos os fatos sejam esclarecidos o mais breve possível".

O Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) afirmou que está apurando três denúncias feitas contra a clínica e esclareceu que os médicos veterinários, que respondem pelo trabalho no local, não se encontram, neste momento, com os registros suspensos.

Veja a nota, na íntegra, enviada pelo conselho:  

"Na última fiscalização realizada na clínica, ainda em 2019, não foram encontradas irregularidades;

No segundo semestre de 2019 foram recebidas três denúncias contra os proprietários da clínica, tendo sido instaurados três processos éticos para apuração das informações;

Os três processos encontram-se em fase de instrução no CRMV-MG, respeitado o amplo direito de defesa e do contraditório, conforme previsto no Código de Processo Ético;

Após o trâmite mencionado, os processos serão levados à julgamento pelo Tribunal de Honra do CRMV-MG;

Esclarece ainda que os médicos veterinários denunciados não se encontram, nesse momento, com o registros suspensos no CRMV-MG.

Sobre o uso de medicamento humano em tratamento animal

O CRMV-MG esclarece que é permitido o uso de medicamento humano para tratamento animal, desde que devidamente prescrito por médico veterinário e respeitadas as restrições previstas em normas do Ministério da Saúde e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Sobre o congelamento/descongelamento de animais

Embora tenha sido divulgado na mídia que, por meio da administração de uma substância (injeção), possa-se restabelecer a condição, após descongelamento do corpo de um animal, como se houvesse acabado de morrer, cabe esclarecer que tal substância não existe. Não há como se injetar qualquer substância em um cadáver e esperar que essa atue a nível sistêmico, pois o animal morto já não possui circulação sanguínea. Sendo assim, é a equivocada a afirmação de que a injeção de um medicamento restabeleceria em um cadáver animal, após descongelamento, à condição de como se tivesse acabado de ir a óbito".