Elas são praticamente idênticas às originais e, não raro, têm até as marcas de segurança criadas pelo Banco Central. Por motivos óbvios, as mais comuns são as de R$ 50 e R$ 100, que dão maior lucro aos golpistas. A circulação de notas falsas cresce em Minas. Por dia, pelo menos três crimes envolvendo dinheiro adulterado são registrados pela Polícia Federal (PF) em BH e 142 cidades do entorno, atendidas pela superintendência do órgão na capital.
A modernização dos processos de impressão e o baixo custo ajudam a explicar a “explosão” de cédulas ilegítimas em todo o país, segundo a corporação. As artimanhas usadas pelos bandidos variam da reprodução integral à combinação de partes autênticas com modificadas.
E foi justamente esse dinheiro – “meio” falso – que caiu na mão do comerciante Felipe Alves da Rocha, que tem uma casa de ração em Santa Luzia, na Grande BH. Há um mês, ele recebeu um pagamento em notas de R$ 50 e R$ 100. Elas estavam rasgadas pela metade, mas pregadas com durex.
Ao levar a quantia até uma agência bancária para trocar por cédulas novas, o comerciante descobriu que apenas metade era original. Resultado: ficou no prejuízo. “A gerente me orientou a não aceitar valores cortados no meio, e sempre olhar no contraluz”.
Conforme o Código Penal, falsificar, fabricando ou alterando a moeda, é crime “contra a fé pública”. A pena para quem é pego pode variar de 3 a 12 anos de prisão
Já o pipoqueiro Monteiro Silva, de 51 anos, diz que faz de tudo para não cair em golpes. Ele afirma que consegue identificar as cédulas falsificadas apenas pelo tato. Assim que recebe uma, agradece e devolve. “Muitas vezes, quem está pagando não sabe que é de mentira. Então, sou educado, pergunto se tem outra e, se não tiver, nada de negócio”.
A atenção deve mesmo ser redobrada. “Hoje, imitam a faixa de segurança e as marcas holográficas e fluorescentes. É um problema sério, porque o comerciante sai no prejuízo”, reforça o delegado da PF Juvercino Guerra Filho, que acrescenta: “já investigamos casos em que a pessoa pede comida à noite por delivery, paga com R$ 100 e ainda pega o troco. Como está escuro, o entregador não vê direito”.
"Esse crime se soma às fraudes e aos estelionatos. Não tem tanto destaque porque não envolve violência. As denúncias vêm aumentando, e muitas vezes pessoas de baixa renda perdem uma quantia importante. Falsificar moeda revela que há uma ética muito disseminada sobre se dar bem em cima do outro. Para reverter isso, investigação é fundamental” (Luis Flávio Sapori, especialista em segurança pública)
Pode
Notas desgastadas ou dilaceradas, mas com mais da metade do tamanho original em um único pedaço, são aceitas e devem ser trocadas em agências bancárias por cédulas novas. O Banco Central, responsável pela emissão de dinheiro no país, indica, na página bcb.gov.br/cedulasemoedas, quais são as que têm valor e as que devem ser destruídas.
A Polícia Federal afirma que existe uma “explosão” de notas falsas em todo o Brasil. Dentre os principais motivos para o crescimento do crime estão a modernização dos processos de impressão e o baixo custo para conseguir adulterar as cédulas
O Sicoob, instituição em que Felipe da Rocha tentou trocar as notas adulteradas pela metade, em Santa Luzia, informou que segue as normas do Banco Central. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) foi procurada, mas não retornou até o fechamento desta edição.