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Quando a senhora de 65 anos decidiu atravessar a BR-040 na altura de Contagem, achou que só um ônibus lento estava se aproximando. Não viu a moto em alta velocidade, chegando pela segunda pista. Com o impacto do atropelamento, teve fraturas na bacia e nas pernas que custaram meses de recuperação no hospital.
Por pouco não perdeu a vida. “Ela quase morreu. Eu também, por pouquinho não fui atropelada por um ônibus. O medo é constante. Para sair de casa ou chegando da aula ou do serviço, é preciso andar olhando para trás para não ser atropelada”, conta a nora da idosa, a babá Andreia Rodrigues, de 29 anos.
Desenhadas para comportar tráfego pesado e permitir altas velocidades, rodovias que cruzam o Brasil, como a BR-040, têm sido invadidas pela crescente urbanização, a um ritmo médio de 30 mil hectares por ano – mesma área do Polo Industrial de Camaçari, na Bahia, o maior da América Latina.
Impactos múltiplos resultam do aumento contínuo do trânsito e de usos urbanos, sem adaptações de segurança, nessas vizinhanças. O resultado é um expressivo aumento de acidentes, sobretudo relacionados a atropelamentos, sendo que em Minas Gerais as mortes em ocorrências com pedestres superam consistentemente os níveis nacionais.
É o que mostram dados extraídos do balanço de ocorrências da Polícia Rodoviária Federal (PRF) entre 2020 e 2024, que fazem parte de levantamento do Estado de Minas. Feito com auxílio de especialistas em diferentes áreas, o mapeamento buscar indicar impactos do avanço das ocupações urbanas sobre as margens das rodovias, revelar suas causas e apontar opções de segurança para motoristas e pedestres.
A situação da babá Andreia Rodrigues e de seus vizinhos ilustra bem o conflito entre o movimento urbano e o tráfego nas principais rodovias do país. Basta que ela abra a porta de casa para dar de cara com o esse tipo de risco, resultado do movimento intenso de carretas, ônibus, carros e motos na BR-040 em Contagem, na Grande BH. Só uma estreita faixa de barranco com cerca de um metro separa a moradia dela, no Bairro Novo Boa Vista, da rodovia que lhe provoca tanto medo.
E o temor não é desmotivado. Ela e os vizinhos vivem a poucos passos do Km 524 da rodovia, um dos recordistas de mortes em desastres de trânsito em estradas federais dentro de áreas urbanas em Minas Gerais. Uma condição em que os pedestres são ao mesmo tempo o maior número de vítimas e os causadores mais importantes.
A situação por lá não foi sempre assim. Há aproximadamente 20 anos, os barracos mais próximos da via estavam afastados cerca de 10 metros das pistas. Entre o asfalto e as moradias havia muito mato e quase nenhum caminho as ligava à estrada. Hoje, moradores e perigo são vizinhos próximos.
Especialistas destacam que, por motivos como esse, o avanço urbano em condições como a do Bairro Novo Boa Vista demanda adaptações de segurança, sinalização e fiscalização.
Parte mais vulnerável do trânsito, os pedestres estiveram envolvidos em atropelamentos que responderam por 32% das causas de acidentes com mortos – muitas vezes não apenas da pessoa que está a pé – nos trechos urbanos de rodovias federais brasileiras, percentual que em Minas Gerais chegou a 41%, mostram dados da PRF.
Dos 2.672 mortos em atropelamentos urbanos no Brasil, 2.185 (81,7%) eram pedestres, 423 (15,8%), condutores e 64 (2,3%), passageiros. Quando se consideram os pedestres que morreram em outros acidentes, 21,9% foram vítimas depois de tombamentos, 20,3% após saídas de pista, 19,8% na sequência de desastres iniciados após quedas de ocupantes de veículos, 17% depois de veículos colidirem com objetos e 6% após capotagens.
Em Minas Gerais, entre as vítimas identificadas, o pedestre respondeu por 83% das mortes em atropelamentos com óbitos. Nesse tipo de acidente, 13% das vítimas eram condutores e 3%, passageiros. Dos pedestres que morreram em outros tipos de desastres, 32% foram atingidos em tombamentos, 32% após veículos se acidentarem na sequência de quedas de ocupantes, 24% após veículos baterem em objetos, 6% em decorrência de saídas de pistas e 6% depois de colisões traseiras.
Quando o concreto avança sobre o asfalto
Uma das referências para a reportagem sobre desastres em trechos urbanos de BRs foi a rede colaborativa de ONGs, universidades e empresas de tecnologia MapBiomas, que promoveu um cruzamento de dados sobre a expansão urbana em um raio de 5 quilômetros das rodovias federais brasileiras. Segundo o trabalho, a ampliação do adensamento de moradias e comércio na direção das estradas da União passou de 896 mil hectares em 1985 para 2 milhões de hectares em 2023. Uma mancha de concreto que mais que dobrou, abocanhando rodovias.
O ritmo no estado de Minas Gerais, o que comporta a maior malha viária do Brasil (16% do total) é ainda maior, segundo o MapBiomas. Passou de 122 mil hectares para 301 mil hectares, uma ampliação de quase duas vezes e meia em igual período.
CNT aponta prioridades
A Pesquisa CNT de Rodovias 2024, da Confederação Nacional do Transporte (CNT), revela que 67% da malha avaliada está em estado regular, ruim ou péssimo, o que inclui os trechos urbanos. As avaliações de riscos da CNT propõem prioridade em investimentos voltados para estruturas que minimizem acidentes provocados por erros humanos e para a eliminação de trechos críticos, como os destacados nesta reportagem.
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Desenhadas para comportar tráfego pesado e permitir altas velocidades, rodovias que cruzam o Brasil, como a BR-040, têm sido invadidas pela crescente urbanização, a um ritmo médio de 30 mil hectares por ano – mesma área do Polo Industrial de Camaçari, na Bahia, o maior da América Latina.
Impactos múltiplos resultam do aumento contínuo do trânsito e de usos urbanos, sem adaptações de segurança, nessas vizinhanças. O resultado é um expressivo aumento de acidentes, sobretudo relacionados a atropelamentos, sendo que em Minas Gerais as mortes em ocorrências com pedestres superam consistentemente os níveis nacionais.
É o que mostram dados extraídos do balanço de ocorrências da Polícia Rodoviária Federal (PRF) entre 2020 e 2024, que fazem parte de levantamento do Estado de Minas. Feito com auxílio de especialistas em diferentes áreas, o mapeamento buscar indicar impactos do avanço das ocupações urbanas sobre as margens das rodovias, revelar suas causas e apontar opções de segurança para motoristas e pedestres.
A situação da babá Andreia Rodrigues e de seus vizinhos ilustra bem o conflito entre o movimento urbano e o tráfego nas principais rodovias do país. Basta que ela abra a porta de casa para dar de cara com o esse tipo de risco, resultado do movimento intenso de carretas, ônibus, carros e motos na BR-040 em Contagem, na Grande BH. Só uma estreita faixa de barranco com cerca de um metro separa a moradia dela, no Bairro Novo Boa Vista, da rodovia que lhe provoca tanto medo.
E o temor não é desmotivado. Ela e os vizinhos vivem a poucos passos do Km 524 da rodovia, um dos recordistas de mortes em desastres de trânsito em estradas federais dentro de áreas urbanas em Minas Gerais. Uma condição em que os pedestres são ao mesmo tempo o maior número de vítimas e os causadores mais importantes.
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Parte mais vulnerável do trânsito, os pedestres estiveram envolvidos em atropelamentos que responderam por 32% das causas de acidentes com mortos – muitas vezes não apenas da pessoa que está a pé – nos trechos urbanos de rodovias federais brasileiras, percentual que em Minas Gerais chegou a 41%, mostram dados da PRF.
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Uma das referências para a reportagem sobre desastres em trechos urbanos de BRs foi a rede colaborativa de ONGs, universidades e empresas de tecnologia MapBiomas, que promoveu um cruzamento de dados sobre a expansão urbana em um raio de 5 quilômetros das rodovias federais brasileiras. Segundo o trabalho, a ampliação do adensamento de moradias e comércio na direção das estradas da União passou de 896 mil hectares em 1985 para 2 milhões de hectares em 2023. Uma mancha de concreto que mais que dobrou, abocanhando rodovias.
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CNT aponta prioridades
A Pesquisa CNT de Rodovias 2024, da Confederação Nacional do Transporte (CNT), revela que 67% da malha avaliada está em estado regular, ruim ou péssimo, o que inclui os trechos urbanos. As avaliações de riscos da CNT propõem prioridade em investimentos voltados para estruturas que minimizem acidentes provocados por erros humanos e para a eliminação de trechos críticos, como os destacados nesta reportagem.