Repertório de formação da unidade Andradas inclui cursos de iluminação, sonoplastia, figurino e cenotecnia, preenchendo lacunas de um mercado cada vez mais exigente

Escultura sonora, sonoplastia. Desenho de luz, ilustração. Estas expressões podem parecer estranhas para leigos, mas são comuns para quem está cursando especialização em Tecnologia da Cena no recém-inaugurado Centro de Formação Artística e Tecnológica, o Cefart Andradas, da Fundação Clóvis Salgado (FCS), em Belo Horizonte.

Ali são formados iluminadores, sonoplastas, cenotécnicos e figurinistas, atividades imprescindíveis na cadeia das artes cênicas e musicais e igualmente decisivas para o sucesso ou não de um espetáculo. O Cefart percebeu a necessidade crescente desse tipo de qualificação e criou os cursos específicos. Os resultados são comemorados.

Formado em teatro na PUC Minas e na UFMG, Lucas Matias, 31 anos, aposta agora no curso de Cenotecnia no Cefart, que vê como algo inovador e com boas perspectivas para o futuro. “As pessoas que trabalham com isso hoje aprenderam fazendo, umas com as outras, então essa qualificação é uma oportunidade muito boa porque não existia um curso como esse na cidade”, diz.

Com isso, Matias vislumbra um novo e promissor campo de atuação. “O mercado de iluminação tem uma demanda muito grande, maior do que eu sentia como ator. Às vezes até faltam profissionais porque há uma variedade de espetáculos, os artistas são inúmeros e as produções também. É um curso para que trabalha com música, teatro, arquitetura, dança”, avalia.

Para ele, trata-se de uma visão que vai além da prática, pois engloba também a teoria. Matias conta que, por exemplo, se aprende sobre “cores” e “temperaturas” para a cena, possibilitando ampliar a visão sobre a proposta da atividade do iluminador. “Quando você põe a mão no negócio e começa mesmo a fazer é que você vê como é a atividade na cenotecnia”, diz.

Matias participou da iluminação na montagem de “Eclipse Solar”, com direção de Ricardo Alves Jr e dramaturgia de Germano Melo, espetáculo de formatura do 3º ano do Curso Técnico de Teatro do Cefart, que deu início à ocupação do Teatro João Das Neves, no Cefart Andradas. “Consegui fazer algumas propostas para o espetáculo. Vejo meu olhar ilustrando, aperto e start e faço a cena acontecer”, comenta.

Intercâmbios linguísticos

De acordo com Vilmar Souza, diretor do Cefart, a transferência do centro técnico para o Cefart Andradas, localizado em espaço nobre, ao lado da Serraria Souza Pinto e do Viaduto Santa Tereza, com 3.300m², é uma iniciativa permite a instalação de oficinas de marcenaria e serralheria, que vão formar os cenotécnicos.

O espaço ganhou também uma oficina de costura para formação dos figurinistas, e o Teatro João das Neves é um local apropriado para formação de sonoplastas e iluminadores.

“A formação dos técnicos se dá no mesmo espaço e na mesma medida de quem está produzindo uma peça de teatro ou com quem está se formando em dança. É mais um canal de interlocução entre diferentes linguagens artísticas, produção e fomento à cultura”, destaca o diretor.

O curso é divido em quatro módulos. “O aluno pode escolher o percurso formativo a cada semestre, se quiser fazer o curso completo terá um certificado de especialização com certificação de técnico profissional”, explica Vilmar Souza.

Para a coordenadora geral do programa Cefart Encena, Bete Arenque, esse exercício de comunicação entre as turmas é um dos pilares pedagógicos da Fundação Clóvis Salgado. O programa trata-se de uma atividade didático-pedagógica, mantida pela FCS, que reúne anualmente alunos das Escolas de Dança, Música e Teatro.


Programa Cefart Encena permite a integração de várias linguagens, expandindo a aprendizagem (Crédito: Paulo Lacerda)


No encerramento do programa, no ano passado, 80 alunos se uniram em intercâmbio artístico para a montagem teatral tropicalista “Tragédia e Purpurina”, que teve direção artística de Bete Arenque, concepção artística de Marina Viana e coordenação criativa de Guilherme Augusto.

“Essa interlocução é fundamental. O aluno estuda dança ou música ou teatro e quando tem a oportunidade de criar um espetáculo que integre várias linguagens aprende um pouco sobre cada uma delas. Ele aprende a olhar a sua área de atuação por outro ângulo e também que as artes, por mais autônomas que sejam, são sempre complementares, e o corpo tem várias vozes para expressá-las”, diz Bete.

Advogado de formação, dj e atual aluno de Sonoplastia, da turma de Tecnologia da Cena, Fabrício Lins, 33 anos, conta que sua escolha pelo curso também uniu áreas de formação.

“Uma coisa juntou com a outra. Quando estava no curso de Artes Visuais, da Escola de Belas Artes da UFMG, ocorreu a ideia de buscar alguma coisa que se relacionasse entre as artes cênicas e as artes visuais. Então estou me voltando, agora, no curso do Cefart, para a área do som”, enfatiza Lins.

Ele comenta que a “arte é uma das formas que conseguimos nos expressar de uma maneira política, o que me dá sentido para eu buscar me formar”. E faz alguns planos para o futuro. “Quero aprofundar meus conhecimentos em sonografia. Faço pesquisas sobre figurino e escultura sonora e vou buscar seguir nessa direção”, conclui.

Bateria e piano

A partir de 2019, o Cefart também terá o curso básico de Bateria e Piano, além de maior quantidade de vagas para a área de Violão, Violino, Canto, Flauta, Saxofone, Trompete, Percussão, Contrabaixo, Trombone, Clarineta, Violoncelo e Viola de Orquestra.