Imóvel que guarda parte da história de JK terá patrocínio da Cemig, anuncia secretária-adjunta de Cultura

 

Sinal verde para reabertura da Casa de Juscelino, no Centro Histórico de Diamantina, na Região Central de Minas. Durante audiência pública da Comissão de Cultura na Assembleia Legislativa, a secretária-adjunta de Estado de Cultura, Solanda Steckelberg, informou que a Cemig deverá patrocinar, via Lei Rouanet, o equipamento que está fechado há mais de dois meses. “A Cemig abraçou o projeto por estar de acordo com sua política pública e também porque Juscelino Kubitschek (1902-1976) foi seu fundador”, disse, ontem, a representante do Executivo estadual na audiência ocorrida na quarta-feira, em Belo Horizonte.

“Estou muito feliz com a decisão. O projeto já foi aprovado (na Lei Rouanet) e aguardamos uma reunião com a direção da companhia para definir os próximos passos”, afirmou, com satisfação, Serafim Jardim, presidente da entidade sem fins lucrativos que administra o monumento localizado na Rua São Francisco, 241, no Centro Histórico da cidade reconhecida como Patrimônio da Humanidade. Na tarde de ontem, o advogado e conselheiro da Casa, Bernardo Franco Vianna, entrou em contato com a Cemig e destacou ser importante saber o valor do patrocínio.

Vianna destacou um dos gargalos que levaram a Casa de Juscelino a fechar as portas após 35 anos de funcionamento. “O estado, via Secretaria de Cultura (SEC) e em cumprimento à Lei 9.722/1988, celebra anualmente convênios para manutenção e conservação. Mas o não repasse de valores em 2017 para despesas de custeio gerou quebra do fluxo de caixa da entidade, Assim, a Casa ficou quase dois anos sem o recebimento dos recursos vitais para sua manutenção, sendo que os valores, liberados no ano passado, reduzidos, não foram suficientes para as inúmeras despesas que se acumularam”. O advogado explicou que esses recursos são essenciais para pagamento de funcionários e acerto de outros débitos no período, entre outras pendências. Segunda a secretária-adjunta, a situação precisa ser regularizada. “A prestação de contas está em andamento”, disse.

Perto do fechamento do equipamento cultural, ocorrido em 22 de fevereiro, sua direção ajuizou ação para que o estado mandasse desbloquear o nome da Casa de Juscelino do Sistema Integrado de Administração Financeira de Minas Gerais (Siafi), o que impedia a entidade de receber verbas de convênios. “Conseguimos a liminar logo depois e esta questão ficou resolvida”, informou Vianna, lembrando que vai depender da reunião com a Cemig a definição de quanto a Casa será reaberta.

Incentivo

Conforme nota da ALMG, o projeto, pelo qual a Casa de Juscelino deverá reabrir as portas, foi apresentado pela empresa Nó de Rosa Produções. “A proposta já havia sido aprovada pela Lei Federal de Incentivo à Cultura. O passo seguinte contou com a intermediação da secretária-adjunta, que abordou a Cemig a fim de que a empresa destinasse os recursos ao museu. A captação resolve o problema da casa apenas para 2019”, disse a diretora da empresa, Márcia Ribeiro.

Durante a audiência pública, os parlamentares se manifestaram sobre o assunto. Para Duarte Bechir (PSD), “a reabertura da casa é fundamental para que se dê acesso aos mineiros e visitantes de muitos países à histórica trajetória política de JK”. Já para Professor Cleiton (DC), JK foi o maior estadista do país e o mineiro mais importante: “Como mestre em História do Brasil, faço essa afirmação com muita tranquilidade, porque ele, de fato, foi o homem que desenvolveu o país 50 anos em 5.” Os deputados Marquinhos Lemos (PT) e Bosco (Avante) ressaltaram ainda a necessidade de se preservar o passado e aprender com os exemplos de JK. Presente, o prefeito de Diamantina, Juscelino Brasiliano Roque, lembrou que “não construímos o futuro sem história” e alertou que “o museu não pode ficar totalmente na dependência dos recursos do estado”.

História

Em janeiro, o Estado de Minas mostrou a situação de um dos ícones de Diamantina, o imóvel de propriedade do estado e que reúne museu, biblioteca, espaço de convívio ao ar livre e guarda parte da história de Juscelino Kubitschek, ex- presidente do Brasil (1956-1961), ex-governador do estado (1951-1955) e ex-prefeito de Belo Horizonte (1940-1945). Nesse espaço, ele viveu na infância e adolescência, embora nascido na Rua Direita, 106, Pintada de branco com janelas e portas azuis, aonde se chega subindo uma ladeira pavimentada com pedras capistranas, típicas de Diamantina, a Casa de Juscelino está bem conservada. E sempre em movimento, com grupos de seresta se apresentando no interior e na calçada. Para abrigar todo o acervo, está dividida em duas partes, interligadas pela Praça Seresteiro Boanerges Meira. Nesse espaço fica uma jabuticabeira, na qual o menino Nonô, apelido de infância de JK, se deliciava com a fruta preferida. Com o tempo, a árvore morreu e, para não ficar na saudade, Jardim decidiu conservar o tronco, o qual foi envernizado, em vez de substituí-la por outra. Ficou parecendo uma escultura.

Jardim explica que JK. Para o diretor-presidente, morou na casa que hoje leva seu nome dos 3 anos aos 19 preservar a casa é mais do que uma missão, pois, 13 dias antes de morrer, JK lhe pediu que comprasse o imóvel, então em poder de uma família, e zelasse por ele. O visitante pode ver o pequeno quarto onde JK dormia na infância e uma foto de quando ele, já adulto, a revisitou e sentou na cama. Na parede, foi instalado um quadro com uma frase pinçada de seus escritos: “Meu quarto era acanhado. Não comportava mais que a cama, uma minúscula mesa, feita em caixote, com a respectiva cadeira arranjada não sei onde. E aí, de fato, às seis horas da manhã, eu começava a estudar”.

Perto dali, há um armário, sem um prego, só com encaixes, doado pela ex-primeira dama Sarah Kubitschek (1909-1996) e feito pelo bisavô de JK, o marceneiro Jan Nepomusky Kubitschek, conhecido como João Alemão e natural da região da Boêmia, na República Tcheca. Em outras partes da residência, há, nas paredes, desenhos a lápis do arquiteto modernista e urbanista Lúcio Costa (1902-1998), datados de 1924, e outros com esboços de Brasília. Chamam atenção o belo retrato da mãe, a professora Júlia Kubitschek (1873-1971), e a cozinha com o fogão a lenha e utensílios domésticos. “As pessoas entram no quarto de Juscelino e ficam muito tempo sentadas na cama. Alguns ficam comovidos”, conta Jardim. No casarão, trabalham cinco funcionários, e o pagamento em dia eleva as preocupações de Jardim: “Muitas vezes não tive como pagá-los, sendo obrigado a fazer vales.”

Impossível não destacar a importância do monumento. Um giro pela casa permite descobertas. No anexo, nos fundos, construído em 1994, está o primeiro consultório de JK, formado na Faculdade de Medicina da UFMG em 1927, na capital. Num canto, um aparelho de anestesia, de 1930, doado por um particular de São Paulo (SP); no outro, o equipamento para eletrocardiograma, do mesmo ano; e, pendurado, um jaleco branco. Na sala ao lado, estudantes e pesquisadores têm espaço para estudar em obras doadas pela ex-primeira-dama.

Na biblioteca, pode ser visto ainda um retrato de JK, a óleo, pintado por Di Cavalcanti (1897-1976), que apresenta uma curiosidade. “A obra foi feita em 1952, quando Juscelino ainda era governador de Minas. Mas, ele já traz, no peito, a faixa de presidente da República, o que soa como premonição”, diz Jardim. O quadro foi doado à instituição, em 2001, peles irmãos Walduck Wanderley e Saulo Wanderley e por Sinval de Moraes.