Nely Aquino (PRTB) foi eleita com 24 votos um dia depois de conseguir o apoio do prefeito
A vereadora Nely Aquino (PRTB) vai presidir a Câmara Municipal de Belo Horizonte a partir de janeiro do ano que vem. A parlamentar, que exerce o primeiro mandato, foi eleita na manhã desta quarta-feira (12), um dia depois de conseguir o apoio do prefeito Alexandre Kalil (PHS).
Ela também é aliada do ex-presidente da Casa, o vereador afastado Wellington Magalhães, acusado de chefiar um esquema que desviou milhões do Legislativo municipal.
O mínimo necessário para vencer a eleição era de 21 votos de 41 vereadores. Nely Aquino obteve 24 votos.
A eleição foi conduzida em meio a acusações de parlamentares da base, incluindo a de que o Executivo estaria intervindo no processo. As críticas e denúncias vieram principalmente do grupo do vereador Orlei (Avante), que disputou o cargo de presidente da Câmara com Nely, Gabriel Azevedo (PHS), que teve três votos, e Cida Falabela (Psol), com cinco votos, e foi derrotado com nove votos.Orlei disse que pelo menos sete colegas que haviam empenhado a palavra a favor dele mudaram de posição após a interferência de Kalil. "Reconheço sua candidatura e a Casa vai estar muito bem representada por uma mulher, mas quero fazer um desabafo. O prefeito sabe que estou entre os mais fiéis e chegou a dizer que não tinha problema com meu nome. Essa eleição foi virada ontem e saio de cabeça erguida. Não devo um centavo e não me misturo com nada errado", afirmou.
Outros parlamentares apoiadores de Orlei também usaram a tribuna para manifestar indignação com a eleição e acusar o prefeito Kalil de adotar manobras da 'velha política'. Entre eles, o vereador Pedro Bueno (Pode) criticou o "toma lá dá cá" e afirmou que, a partir de hoje, será "independente". Wendel Mesquita (SD) disse que o Executivo falhou ao não permitir a independência do Legislativo e acusou Kalil de ameaçar vereadores de perderem obras em suas comunidades para conseguir eleger Nely. O grupo de Orlei já havia feito um protesto com cartazes pedindo o fim do 'toma lá dá cá', logo no início da sessão.
O vereador Fernando Borges (Avante) afirmou que a eleição foi conduzida de forma "sorrateira". Segundo ele, a Câmara Municipal está passando "vergonha" ao se transformar em "apêndice" do Executivo.
A presidente eleita Nely Aquino se defendeu, dizendo ter sido escolhida em consenso pelo grupo da base do prefeito Alexandre Kalil. De acordo com ela, a decisão foi um "ato democrático maravilhoso", na manhã desta quarta-feira, entre ela e o vereador Juliano Lopes (PTC). "Essa casa tem muito a fazer pela cidade, não estamos aqui para nos destruir, mas para construir a cidade. Vamos parar de guerras pessoais e nos unir para construir uma cidade melhor", disse. Ela se defendeu dos que a chamaram de novata, dizendo estar há dois anos no mandato e desafiando alguém a questionar seu trabalho como secretária-geral. Nely disse que pode ser chamada de presidente ou presidenta, desde que a tratem com respeito e prometeu conduzir a casa com "ética, seriedade e diálogo constante".
Derrotados
O vereador Álvaro Damião (DEM) saiu em defesa do prefeito Alexandre Kalil e disse que quem perde a eleição não deve culpar o Executivo, mas assumir a derrota. "O nosso grupo (da base de governo) escolheu um nome e eu respeitei, por isso não lancei meu nome, respeito a escolha de todos", disse. O líder do prefeito, vereador Léo Burguês (PSL), absteve-se da defesa do Executivo e preferiu dizer que a eleita irá governar para todos e trabalhar para o cidadão de Belo Horizonte.Também derrotado na eleição, o vereador Gabriel Azevedo também defendeu que a Câmara "não se submete ao Executivo". Ele tentou convencer os colegas com propostas como a redução dos subsídios dos vereadores e de privilégios, como a verba paletó e o uso de carros, motoristas e celulares corporativos. O parlamentar se comparou a Ulysses Guimarães, ao dizer ter uma "anticandidatura", que não se submete ao Executivo.
A vereadora Cida Falabela lembrou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e disse que, se eleita, gostaria de ser chamada de "presidenta". Aproveitou para dizer que é muito difícil ser mulher na Câmara de BH, onde as vereadoras são consideradas previsíveis, volúveis e pagam por erros corporativos. Ela defendeu uma democracia feminista, que não exclui os homens mas dialoga com eles.
Nely Aquino exerce o mandato de vereadora desde 2017, após ser eleita com 4.765 votos com a proposta de defender o direito das famílias. Exerce atualmente o cargo de secretária-geral da Mesa. É irmã do ex-vereador Valdivino, que foi condenado pela Justiça Eleitoral por apresentar um diploma falso de escolaridade. Na eleição, contou com torcida organizada de apoiadores do vereador afastado Welligton Magalhães. Ela se absteve na votação do pedido de cassação do ex-presidente da Casa.