A população de Belo Horizonte encerrou o primeiro semestre de 2022 na liderança do ranking de inadimplentes do país, de acordo com um levantamento feito pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio SP), que comparou dados regionais de vários estados. Segundo a entidade, 43% da população da capital mineira, ou seja, quatro em cada dez belo-horizontinos têm pelo menos uma dívida atrasada.
 
Comparando os números de Minas Gerais com os de outros estados, Belo Horizonte aparece no topo das cidades com maior número de inadimplentes, seguida de perto por Boa Vista (42%), em Roraima; e Porto Alegre (41%), capital do Rio Grande do Sul.

De acordo com a Fecomércio-SP, o resultado mostra que pouco mais de 4,9 milhões de famílias das capitais tinham alguma conta em atraso ao fim do primeiro semestre deste ano, quase 600 mil a mais que no ano passado, quando 25,6% estavam inadimplentes.

Outro levantamento, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), feito pela Fecomércio-MG exclusivamente com os consumidores de Belo Horizonte, mostrou que no segundo semestre a situação continua ruim e não deve melhorar. 

Os dados da pesquisa, referentes a outubro, mostram que entre os consumidores belo-horizontinos com dívidas em atraso, 32,5% dizem que não terão condições de quitar o débito no próximo mês; 41,6% acham que “vai pagar parte do que deve”; e apenas 25,3% acreditam que conseguem quitar as dívidas no próximo mês.
O levantamento apontou ainda que as dívidas comprometem, em média, 32% da renda familiar dos moradores da capital mineira. Grande parte dos endividamentos possui um tempo médio de comprometimento da renda de sete meses.

Gastos
A economista da Fecomércio-MG, Gabriela Martins, destaca a necessidade de controle dos gastos e mostra que existem caminhos que devem ser seguidos por quem está endividado.
“É imprescindível que as famílias tenham controle dos gastos mensais para não perderem o controle das contas e acabarem na inadimplência. Mas, no caso das famílias já inadimplentes, é necessário que haja um manejo das dívidas, sempre trocando os compromissos mais caros – aqueles com maior taxa de juros – , por compromissos mais baratos, ou seja, com menor taxa de juros”, orienta.

Endividamento
A quantidade de famílias que estão com as contas em dia, mas que comprometem boa parte da renda com o pagamento de dívidas no longo prazo, como financiamentos e parcelamentos, também cresceu em Belo Horizonte. Após dois meses de queda, o nível de endividamento dos belo-horizontinos voltou a subir. Em outubro, mês de referência da pesquisa, 87,2% dos consumidores estavam endividados na capital mineira, com 1,5 ponto percentual superior ao último mês.

Para a economista Mafalda Valente, professora das Faculdades Promove, endividamento alto é um risco para a retomada do crescimento econômico, pois afeta a capacidade de investir das pessoas. 

De acordo com o levantamento, a principal razão do endividamento da população de Belo Horizonte é o cartão de crédito (85,3%), seguido de carnês (19%) e cheque especial (15,4%). “O problema do cartão de crédito é a sensação de que você tem dinheiro. Você compra até o limite e quando a fatura chega, você tem que pagar. É uma falsa sensação de ter dinheiro. Você acha que vai ter o dinheiro lá na frente, mas às vezes não tem e o endividamento vira inadimplência”, explica Mafalda.

Um dado curioso da pesquisa é que, apesar de o endividamento e a taxa de comprometimento da renda ficarem próximos de um terço daquilo que as famílias ganham, 49% dos ouvidos em Belo Horizonte pela pesquisa da Fecomércio MG ainda se consideram “pouco endividados”.

Para Gabriela Martins, para entender isso é preciso destacar que a melhoria na renda e no emprego, registrada nos últimos meses, e um desaquecimento na inflação tem criado um ambiente favorável para as expectativas dos consumidores.