Medida, que será realizada em tempo integral, envolve veículos do Move e micro-ônibus

Pelo menos 36 linhas de ônibus de Belo Horizonte vão circular sem cobradores todos os dias, em período integral. O processo de retirada dos agentes de bordo teria sido iniciado em janeiro e se intensificado nos últimos 15 dias, segundo movimentos que representam a categoria. Um documento da Gerência de Contratos e Estudos Tarifários da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) ao qual O TEMPO teve acesso mostra que as linhas – a maioria do Move e micro-ônibus – terão apenas o motorista.

“Isso sobrecarrega demais o motorista, que tem que exercer tarefas que, a princípio, não seriam dele. A gente prevê que, com o tempo, esses profissionais terão muitos problemas de saúde por causa do acúmulo de função”, afirmou o diretor de comunicação do Sindicato dos Rodoviários de Belo Horizonte e Região, José Márcio Ferreira.

Segundo ele, grande parte das linhas convencionais da capital já está operando sem agente de bordo no período noturno, o que também mudou – até então, os ônibus podiam circular sem cobrador somente a partir das 22h. “A maioria das linhas, a não ser aquelas que têm uma demanda muito alta, já está operando sem cobrador entre 20h30 e 5h59”, afirmou Ferreira. “A gente não sabe o que justifica retirar o cobrador nessas horas, muito menos o dia todo. O usuário perde tempo e qualidade de viagem”, disse o integrante do movimento Tarifa Zero, André Veloso.

Argumento. O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH), por sua vez, alega que a retirada dos agentes de bordo é motivada por uma queda no movimento e garantiu que a legislação permite que as 36 linhas circulem sem cobrador.

As empresas se amparam na Lei 10.526/2012, aprovada para que o Move pudesse transitar sem agente de bordo nas pistas exclusivas, onde o passageiro já entra no ônibus com a passagem paga. A regra, no entanto, abriu brecha para a retirada dos cobradores em outras situações e autoriza a prática para as linhas troncais do BRT, para veículos em operação em horário noturno, domingos e feriados e para veículos executivos, turísticos e miniônibus.

Procurada, a BHTrans não se posicionou sobre todos os ônibus da lista, mas disse que a linha 8101 (Santa Cruz/Alto Santa Lúcia) só pode rodar sem cobrador no horário noturno. A empresa afirmou que “inúmeras cidades do Brasil e do mundo já operam sem agente de bordo” e que 75% das passagens na capital são pagas com cartão.

Condutor de um ônibus articulado da linha 51 (Estação Pampulha/Centro/Hospitais), que circula sem cobrador, Ezequias Santos, 38, diz que é difícil controlar a porta traseira sozinho. “A gente já tem tanta coisa para preocupar e ainda tem que cuidar de dinheiro”, reclamou.

Movimento diz que cem foram demitidos

O movimento Sem Cobrador Não Dá afirmou que mais de cem cobradores foram demitidos desde neste ano. “Todos os dias há redução de funcionários. Eles não estão sendo reaproveitados”, afirmou a líder do movimento, Cleo Olímpio. A lei determina que as empresas recoloquem os agentes de bordo que tenham os postos de trabalho extintos em outras funções.

Para o integrante do Tarifa Zero, André Veloso, a retirada dos cobradores dos ônibus pode ter relação com o não reajuste das tarifas no fim do ano passado. “A gente acha que foi uma troca entre prefeitura e empresas de ônibus para não reajustar as passagens. Por isso, é preciso abrir a caixa preta”, alertou.

No mês passado, o Ministério Público solicitou ao município informações sobre empresas que não estariam mantendo os cobradores. O prazo para resposta ainda não terminou.

FOTO: LEO FONTES
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Sobrecarregado

“Coitado do motorista, ele está lá prestando atenção no trânsito e ainda tem que olhar as pessoas que entram, cobrar e dar troco.”

Iraci de Jesus Pinto, 60

Aposentada

FOTO: LEO FONTES
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Demora

“A viagem demora mais porque, enquanto o motorista fica ali cobrando a passagem, o ônibus fica parado. Isso atrapalha o povo.”

Edes de Souza, 58

Faxineira

FOTO: LEO FONTES
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Perigo

“A retirada dos cobradores foi péssima porque o motorista tem que dividir a atenção ao dirigir e cobrar. É muito perigoso.”

Avanir Santos, 70

Aposentada