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Eu tive a sorte de conhecer veredas preservadas no sertão de Minas Gerais. A última vez foi em 2019, quando eu seguia os rastros de Riobaldo e Diadorim, numa reportagem sobre os caminhantes que percorrem os lugares citados por Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas. Foram vários dias atravessando a pé o Norte de Minas e, vez ou outra, um oásis interrompia a paisagem seca e quente: os buritis filtravam a luz do sol e a água brotava límpida do solo, criando um refúgio fresco para os moradores e toda sorte de pássaros que se alimentavam por ali.
Uma vereda é isso: um território de respiro para a vida. São ambientes úmidos, que correm entre as chapadas do Cerrado. A água brota em filetes, serpenteando até formar pequenos cursos d’água que alimentam rios maiores.
É ali que nasce a água do Cerrado e é dali que depende parte da segurança hídrica de parte do país. Mas as veredas estão desaparecendo.
Hoje, o cenário é outro. Em pleno Parque Estadual Veredas do Peruaçu, criado justamente para proteger essas paisagens únicas, restaram apenas duas veredas com água, como me contou na última semana o ex-gerente do parque, João Roberto Oliveira. O solo está rachado. Muitos buritis, árvore símbolo dessas formações, agonizam depois dos incêndios dos últimos anos. A água foi desaparecendo com tantos poços, tratores, assoreamento, desmatamento e fogo.
A tragédia silenciosa das veredas não está no futuro: ela está acontecendo diante dos olhos dos moradores, pesquisadores e do poder público e começa longe desses refúgios, no entorno das áreas de preservação. Os milhares de poços clandestinos abertos por pequenos e grandes produtores sugam a água e rebaixam o lençol freático. Com poucas chuvas nesses tempos de crise climática, a recarga hídrica é insuficiente e as nascentes secam de vez.
O que se tenta agora é salvar o que ainda resta. Mas recuperar uma vereda que morreu é uma das tarefas mais complexas da restauração ecológica. A pesquisadora Yule Nunes, da Unimontes, lidera um grupo de cientistas com diferentes estudos sobre esse ecossistema. Ela afirma que algumas espécies típicas das veredas já estão deixando de existir e que a ciência ainda não consegue recuperar uma vereda que secou. “Quando se destrói uma vereda, você compromete todo um sistema hidrológico que sustentava a vida em volta. Há comunidades abandonando territórios porque não há mais água. Hoje, sabemos que a desertificação da região é algo possível”.
As veredas estão entre as formações mais vulneráveis do Cerrado. Ao contrário do que muitos pensam, não são apenas “brejos”, mas áreas de recarga hídrica, que alimentam aquíferos e sustentam a biodiversidade da savana mais rica do planeta. Elas são abrigo de espécies ameaçadas e fonte de água perene para animais, plantas e gente. Quando elas secam, secam também os quintais, os riachos, as lavouras e até mesmo os modos de vida que nasceram e cresceram com o ciclo das águas.
Ou cuidamos das veredas agora, ou assistiremos à extinção lenta desse ecossistema raro e frágil que sustenta a cultura e os rios do segundo maior bioma do Brasil.
*Diretora do Projeto Preserva, plataforma com foco em meio ambiente e cultura. Jornalista e doutora em Ciência da Informação pela UFMG.
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Eu tive a sorte de conhecer veredas preservadas no sertão de Minas Gerais. A última vez foi em 2019, quando eu seguia os rastros de Riobaldo e Diadorim, numa reportagem sobre os caminhantes que percorrem os lugares citados por Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas. Foram vários dias atravessando a pé o Norte de Minas e, vez ou outra, um oásis interrompia a paisagem seca e quente: os buritis filtravam a luz do sol e a água brotava límpida do solo, criando um refúgio fresco para os moradores e toda sorte de pássaros que se alimentavam por ali.
Uma vereda é isso: um território de respiro para a vida. São ambientes úmidos, que correm entre as chapadas do Cerrado. A água brota em filetes, serpenteando até formar pequenos cursos d’água que alimentam rios maiores.
É ali que nasce a água do Cerrado e é dali que depende parte da segurança hídrica de parte do país. Mas as veredas estão desaparecendo.
Hoje, o cenário é outro. Em pleno Parque Estadual Veredas do Peruaçu, criado justamente para proteger essas paisagens únicas, restaram apenas duas veredas com água, como me contou na última semana o ex-gerente do parque, João Roberto Oliveira. O solo está rachado. Muitos buritis, árvore símbolo dessas formações, agonizam depois dos incêndios dos últimos anos. A água foi desaparecendo com tantos poços, tratores, assoreamento, desmatamento e fogo.
A tragédia silenciosa das veredas não está no futuro: ela está acontecendo diante dos olhos dos moradores, pesquisadores e do poder público e começa longe desses refúgios, no entorno das áreas de preservação. Os milhares de poços clandestinos abertos por pequenos e grandes produtores sugam a água e rebaixam o lençol freático. Com poucas chuvas nesses tempos de crise climática, a recarga hídrica é insuficiente e as nascentes secam de vez.
O que se tenta agora é salvar o que ainda resta. Mas recuperar uma vereda que morreu é uma das tarefas mais complexas da restauração ecológica. A pesquisadora Yule Nunes, da Unimontes, lidera um grupo de cientistas com diferentes estudos sobre esse ecossistema. Ela afirma que algumas espécies típicas das veredas já estão deixando de existir e que a ciência ainda não consegue recuperar uma vereda que secou. “Quando se destrói uma vereda, você compromete todo um sistema hidrológico que sustentava a vida em volta. Há comunidades abandonando territórios porque não há mais água. Hoje, sabemos que a desertificação da região é algo possível”.
As veredas estão entre as formações mais vulneráveis do Cerrado. Ao contrário do que muitos pensam, não são apenas “brejos”, mas áreas de recarga hídrica, que alimentam aquíferos e sustentam a biodiversidade da savana mais rica do planeta. Elas são abrigo de espécies ameaçadas e fonte de água perene para animais, plantas e gente. Quando elas secam, secam também os quintais, os riachos, as lavouras e até mesmo os modos de vida que nasceram e cresceram com o ciclo das águas.
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*Diretora do Projeto Preserva, plataforma com foco em meio ambiente e cultura. Jornalista e doutora em Ciência da Informação pela UFMG.