Em menos de 8 minutos, 174 toneladas de polpa de minério foram jogadas em ribeirão


Primeiro vazamento, no dia 12, tingiu o ribeirão de vermelho

As operações do mineroduto Minas-Rio, da Anglo American, foram suspensas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) nessa sexta-feira (30), depois do segundo vazamento em Santo Antônio do Grama, na Zona da Mata mineira.

O episódio aconteceu menos de 20 dias após o anterior e a cerca de 400 metros dele, na Estação de Bombas 2. Durou, conforme a empresa, entre cinco e oito minutos. Esse tempo foi o bastante para que fossem despejadas 174 toneladas de polpa de minério no ribeirão Santo Antônio, o equivalente a meio caminhão.

O Ibama exigiu que a empresa entregue em 48 horas um laudo com a descrição dos danos provocados e detalhamento das medidas de mitigação, controle e reparação que estão e serão efetivados pela empresa.

O primeiro rompimento aconteceu no dia 12 de março, durou cerca de 45 minutos e despejou 300 toneladas de polpa no curso d’água. A empresa havia acabado de retomar as operações do maior mineroduto do mundo na última terça-feira.

Nessa sexta-feira (30), durante entrevista coletiva, o presidente da empresa no Brasil, Ruben Fernandes, afirmou que as causas do acidente estão sendo investigadas. “Tem duas universidades que nos apoiam nesse sentido. Nós retiramos amostras das trincas, das falhas do tubo. E esse laudo deve ser entregue nas próximas semanas”, diz.

Em decorrência do problema, a mineradora vai conceder férias coletivas aos empregados de alguns setores – mina e planta de beneficiamento – em Conceição do Mato Dentro, por, pelo menos, 30 dias.

Mas, segundo comunicado interno da empresa que chegou ao conhecimento da reportagem, existe possibilidade de lay-off, que é a suspensão temporária do contrato de trabalho – medida adotada pela Samarco após o rompimento da barragem em Mariana, em 2015. Nesse documento, a empresa admite o risco de perder as licenças da fase 3 do projeto. A empresa tem as licenças prévia e de instalação, mas falta a de operação, que planejava requerer em 2019.

Até essa sexta-feira (30), a Anglo não tinha definido a quantidade de empregados que terão férias coletivas. No país, a empresa tem cerca de 4.000 funcionários, sendo 2.500 em Conceição do Mato Dentro.

Pente-fino

O presidente disse que a empresa fará inspeção por todos os 529 quilômetros do mineroduto Minas-Rio, que está em operação há quatro anos. “Ele foi vistoriado por inteiro antes do início da entrada em operação, em 2014. A prática do mercado é que isso aconteça a cada cinco anos”, diz. Ele ressaltou que o vazamento não provocou mortandade de peixes. A previsão da empresa é que em até 45 dias a limpeza da calha do rio seja concluída.

Suprimento de água é normal

O abastecimento de água em Santo Antônio do Grama, na Zona da Mata, onde aconteceram os vazamentos do mineroduto da Anglo American, está normal, sem alterações, conforme informa a Companhia de Abastecimento de Minas Gerais (Copasa), por meio de nota.

A empresa ressaltou que a população recebe a água captada no ribeirão Salgado e tratada na Estação de Tratamento de Água (ETA) da cidade. O soldado Lívio Lima, que vive na cidade há dez meses, confirma que, até essa sexta-feira (30), o abastecimento estava normal. “Mas ainda tem muito caminhão-pipa aqui”, diz.

Exportação também está suspensa

As exportações da Anglo American foram suspensas, pois a empresa não tem mais estoque de minério disponível no Porto do Açu, em São João da Barra (RJ), para atender aos seus clientes, boa parte deles chineses. “Com a parada maior das atividades, a empresa teve impacto e já começou a avisar os clientes”, diz o presidente da empresa no Brasil, Ruben Fernandes.

Além da reprogramação das entregas, a produção de 13 milhões de toneladas prevista para este ano será revista. Em 2017, a produção somou 17 milhões de toneladas. A perspectiva da Anglo era chegar a 26,5 milhões de toneladas em 2019, só que, para isso, precisa viabilizar a fase 3.