Está nas mãos dos deputados estaduais um projeto de lei que pode dar aos animais o status de sujeitos de direito na legislação que define os crimes de maus tratos em Minas Gerais. O projeto de lei que os reconhece como seres sencientes, com suas especificidades, foi aprovado na manhã desta terça-feira (7) na Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa mineira.
O substitutivo aprovado retira o termo principal do projeto, mas os autores já se mobilizam para retomar a ideia original na próxima comissão. O parecer aprovado é de autoria da relatora, deputada Ana Paula Siqueira (Rede). Inicialmente, a proposta incluiria na legislação estadual a previsão de que os animais fossem considerados sujeitos de direito, o que os enquadraria no conceito usado para pessoas físicas ou jurídicas. Atualmente, eles são enquadrados na categoria de “coisas”.
Alegando que a doutrina jurídica brasileira não adota este reconhecimento, a parlamentar retirou o termo “sujeitos de direito” do projeto e apresentou texto segundo o qual os animais “são reconhecidos como seres sencientes, sujeitos a dor e sofrimento”.
A mudança foi aprovada por unanimidade pela comissão e o texto agora segue para a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.
O texto, de autoria do ex-deputado estadual (atual federal) Fred Costa (PEN) e do deputado estadual Noraldino Junior (PSC) objetiva mudar a condição dos animais na lei mineira que define maus tratos, incluindo parágrafo que os reconhece como sujeitos de direito, capazes de sentir dor e angústia.
Seres sencientes
Na justificativa, os parlamentares alegam que tal condição já foi reconhecida em países da Europa. “A Nova Zelândia e a França modificaram suas legislações conferindo aos animais o status de seres sencientes, ou seja, retirando-os definitivamente da condição de coisa. Alguns países como a Alemanha, Suíça e Áustria fazem constar em seus textos legais que animais não são objetos.”Os próprios parlamentares, no entanto, reconhecem na justificativa que, para uma mudança efetiva legal na abordagem relativa aos animais, é necessário mudar a legislação federal.
Para o deputado federal Fred Costa, o substitutivo da deputada Ana Paula Siqueira descaracteriza o projeto. “Lamentavelmente o direito que a gente queria garantir fica prejudicado. Esse substitutivo desfigurou a razão de existir do projeto”, disse. Ainda de acordo com ele, a mudança proposta na legislação mineira seria um paliativo, mas resolveria a questão no estado.
A relatora justificou a mudança no texto, dizendo que não poderia se sobrepor ao código civil. "As políticas e leis voltadas para resguardar os direitos dos animais já conquistaram avanços importantes, como a lei 22.231, que deixa muito clara a questão dos maus-tratos e a punição que cabe nestes casos. O reconhecimento dos animais como sujeitos de direito é uma questão que precisa ser debatida em nível nacional, pois exige mudanças no Código Civil", disse a deputada Ana Paula.
Também autor do projeto, o deputado Noraldino Junior informou que apresentará emenda para retornar com o texto inicial que coloca os animais como sujeitos de direito. Depois de passar pelas comissões, o projeto segue para votação em plenário.
Leis federais
No âmbito federal, dois projetos de lei em tramitação pretendem mudar o status dos animais no Brasil. Um deles, de autoria do senador Antonio Anastasia (PSDB), diz que os bichos não serão considerados coisas no Código Civil. Aprovado pelo Senado e pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados, o texto seguiria para sanção presidencial mas um recurso no plenário da bancada ruralista impediu o prosseguimento. O texto aguarda deliberação da Mesa Diretora da Casa.
Outro texto, de autoria do deputado Ricado Izar, também aprovado pela CCJ da Câmara e aguarda avaliação do Senado Federal. A proposta considera os animais não humanos como sujeitos de direitos despersonificados. No relatório aprovado em dezembro de 2017, foi sugerido que o status fosse incluído na lei de crimes ambientais e não no código civil.